ETIENNE CARIOU
Marinheiro-pescador
em Lesconil ((Finistère). Preso a 9 de Junho de 1944 e fuzilado
em Port-l’Abbé no dia 23 do mesmo mês.
(sem
data)
Acabo de ir a tribunal militar com Julien,
Corentin, Armand Primot, Albert Larzal e Quéméner Prosper; tenho
a tristeza de vos dizer que estamos os cinco condenados à morte.
Querida mulher, não tenho vergonha de ninguém,
pois tu sabes... (censurado)...Quanto à casa, procura acabá-la;
esforça-te por educar a Mimi e cuidar bem dela. Há o registro da
tripulação e a caderneta vermelha da G... que estão em Ménez,
em cima do aparador.
Diz ao Gabriel e ao D... que se portem como
homens para convosco, tenho confiança neles.
Quanto aos meus fatos, já que vou morrer, dá-os
a Jean e cuidem de vós, pois a vida é curta.
O caderno das contas do barco está no
aparador. Está tudo em ordem, o dinheiro está numa caixa por
cima do aparador.
Há o barômetro que eu não marquei, é
preciso ver isso.
Quanto à casa, está tudo em ordem, salvo
Corentin M... a quem devemos todo o trabalho menos 30.000 francos,
cujo recibo está lá em cima.
Tu, Mimi, com quem tive tantos desgostos e
tantas alegrias, sê corajosa, e tem a certeza de que o teu pai
foi condenado à morte por ter tentado salvar a vida dos outros. Sê
boa para a tua mãe, a tua tia Marie e Jean.
Dá também um beijo por mim à Hélène e
à Ivonne. Espero também que o avô passe melhor e seja ainda uma
ajuda para vós.
Agora, visto que a minha vida vai acabar,
cumprimento os camaradas... (censurado)... que nunca façam mal a
quem quer que seja.
Querida filha, já que só te possuía a ti
e a tua mãe, ganha coragem, trata bem a toda a gente. Não
consigo dizer-te quanto te amava.
Ganhem coragem, queridos pais...
(censurado)...
Agora o que tendes a fazer é tentar viver o
melhor possível, não provoquem conflitos entre vós. Dá os meus
fatos a Jean.
E para terminar, beijo a minha filha Mimi, a
minha mulher Bernardette, a minha irmã Marie, o meu sobrinho
Jean, a minha mãe Marie Charlotte, o meu pai Michel Le Roux, a
minha irmã Marie Le Roux e Louis, Hélène e Ivonne minha
afilhada, Marie-Louise e Louis Carion e Marie Quéret e Marcel
Carion, toda a família e todos os camaradas.
Tenho de morrer, não me chorem...
(censurado)...
Despeço-me de vós, pensem em mim. Quanto a
vocês, Bernardette e Mimi, não me esqueça nunca.
Beijo-vos pela última vez, mas nem uma lágrima
me cai dos olhos... (censurado)... é em vós que eu penso sempre.
Adeus vida, e viva a França livre!
Étenne Cariou
p.s. tenho quarenta e dois anos e meio, e
tu, Mimi – pensei no teu aniversário na prisão, no dia 19 de
Julho – fizeste desassete anos, já estás crescida.
Pensa em mim.
E.
C.
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