SPARTACO FONTANO
Nascido
no dia 17 de Janeiro de 1922 em Montalcone. Emigrado italiano
fugido do fascismo de Mussolini. Operário torneiro.
Entra
nos FTPF em 1942 sob a direcção de M. Manouchian. Classificado
entre o escol dos atiradores, participa em numerosos atentados.
Preso em 13 de Novembro de 1943. Fuzilado no Mont-Valérien no dia
21 de Fevereiro de 1944.
21 de Fevereiro de 1944
Meu querido papá, minha querida mamã,
minha querida irmã
Dentro de algumas horas terei partido para
me juntar a Nérone, pois hoje às 15 horas terá lugar a minha
execução.
Meu querido papá, vou morrer, mas o
desgosto não deve abater-vos, nem a ti nem à minha querida mamã;
é preciso ser forte, tão forte como eu neste momento.
A minha morte não é um caso extraordinário,
é preciso que ela não espante ninguém e que ninguém me
lamente, pois morre tanta gente nas frentes e nos bombardeamentos
que não é de admirar que eu, um soldado, caia também.
Sim, compreendo bem que seja duro para todos
vós que me amais não voltar a ver-me, mas uma vez ainda vos
imploro, não adianta chorar.
Escrevo estas poucas linhas com a mão firme
e a morte não me faz medo. Gostaria de vos apertar uma última
vez contra o meu peito, mas não tenho tempo.
Durante o meu cativeiro, pensei muitas vezes
em vós, mas nunca tive um momento de fraqueza, e espero que o
mesmo aconteça convosco.
Meus queridos pais, termino esta breve carta
beijando-vos com muita força e gritando-vos coragem.
Papá, mamã, irmãzinha, adeus.
Spartaco
...
Minha querida mamã
De todos e de todas, sei que serás tu quem
mais vai sofrer e para ti irá o meu último pensamento. Não
interessa culpar ninguém pela minha morte, pois eu próprio
escolhi o meu destino.
Que posso dizer-te, já que o meu espírito
está lúcido, se não encontro palavras? Tinha-me alistado no Exército
de Libertação e morro quando a vitória desponta... vou ser
fuzilado daqui a pouco com os meus 23 camaradas.
Depois da guerra poderás fazer valer os
teus direitos de pensionista. A prisão mandará entregar-te os
meus objectos pessoais, mas fico com o fato de malha do papá para
que o frio não me faça tremer.
Minha querida irmã, não vale a pena
pensares muito em mim, não estejas triste, casa-te com um bom
rapaz, e aos teus filhos hás-de falar deste tio que não
conheceram.
Meu querido papá, tens que ser forte, aliás,
é impossível que o homem e a mulher que me puseram no mundo não
sejam fortes.
Uma vez mais digo-vos adeus. Coragem.
O vosso filho Spartaco
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