MISSAK
MANOUCHIAN
Nascido
em 1906 na Turquia, em território arménio. Carpinteiro. Emigrado
em Paris, em 1926, onde retoma estudos literários. Poeta. Quadro
muito activo do Comité de Socorros para a Arménia (HOC). Membro
do PCF e da MOI (Mão-de-Obra Imigrada). Faz parte do Comité de
ajuda aos republicanos espanhóis criado por André Malraux em
1936.
Preso em 1939
e em 1941, mais tarde libertado, entra nos FTPF.
Preso a 16 de Novembro de 1943; encarcerado na
prisão de Fresnes com vinte e três dos seus camaradas
da MOI. Fuzilado a 21 de Fevereiro de 1944.
Fresnes, 21 de Fevereiro de 1944
Minha querida Mélinée, minha orfãzinha
muito amada
Dentro de algumas horas já não serei deste
mundo. Vamos ser fuzilados esta tarde às quinze horas. Para mim
isto acontece como um acidente em minha vida, não quero
acreditar, sei que nunca mais te verei.
Que posso dizer-te? Tudo é confuso em mim e
ao mesmo tempo muito claro.
Tinha-me alistado no Exército de Libertação
como soldado voluntário e morro a dois passos da vitória e da
meta a atingir. Felizes aqueles que vão sobreviver e apreciar a
doçura da Liberdade e da Paz do futuro. Estou certo de que o povo
Francês e todos os combatentes da Liberdade saberão honrar
dignamente a nossa memória. Na hora de morrer, afirmo que não
sinto nenhum ódio pelo povo alemão nem por quem quer que seja,
cada um terá o que merece como castigo e como recompensa. O povo
alemão e todos os outros povos viverão em paz e fraternidade
depois Da guerra que já não durará muito. Felicidade para
todos...
Tenho um profundo desgosto por não te ter
feito feliz, bem gostaria de ter tido um filho teu, como sempre
desejavas. Portanto, peço-te que te cases depois da guerra, sem
falta, e que tenhas um filho para felicidade minha e para realizar
a minha última vontade: casa-te com alguém que possa tornar-te
feliz. Todos os meus bens e tudo o que me pertence deixo-o a ti,
à tua irmã e aos meus sobrinhos. Depois da guerra poderás fazer
valer o teu direito a pensão de guerra na qualidade de minha
mulher, porque eu morro como soldado regular do exército francês
de libertação.
Com a ajuda dos amigos que quiserem
honrar-me, mandarás publicar os meus poemas e os meus escritos
que merecem ser lidos. Se for possível, hás-de levar saudades
minhas aos meus pais na Arménia. Vou morrer dentro em pouco com
os meus 23 camaradas, com a coragem e a serenidade de um homem que
tem a consciência tranquila, porque, pessoalmente, não fiz mal a
ninguém e, se o tiver feito, fi-lo sem ódio. Hoje há sol. É
olhando o sol e a bela natureza que tanto amei que vou dizer adeus
à vida e a todos vós, minha querida mulher e meus queridos
amigos. Perdoo àqueles que me fizeram mal ou que quiseram
fazer-me mal, excepto a quem nos traiu para salvar a pele e aos
que nos venderam. Beijo-te com muita força assim como a tua irmã
e a todos os amigos que me conhecem bem ou mal, aperto-vos todos
contra o meu coração. Adeus. O teu amigo, o teu camarada, o teu
marido.
Manouchian Michel
P.S. Tenho quinze mil francos na mala da rua
Plaisance. Se puderes ir buscá-lo, paga as minhas dívidas
e dá o resto à Armène.
|