JEAN ROBERT
Nascido
em 1917, em Marcelha. Electricista. Adere à Juventude Comunista
em 1934. Continua a militar activamente depois da proibição do
PCF e entra na clandestinidade em Fevereiro de 1940. Preso a 2 de
Janeiro de 1942, evade-se do Forte de Saint-Nicolas de Marseille.
Retoma as suas atividades nos FTPF do Gard e do Hérault.
De
novo preso a 3 de Março de 1943, é guilhotinado no dia 22 de
Abril.
31 de Março de 1943
Queridos avós e queridos amigos
Poderia não vos ter escrito esta carta para
não vos fazer sofrer, mas a terrível notícia chegaria até vós,
apesar de tudo, por isso não hesito em escrever-vos, esperando
que a minha carta vos dê algum prazer... se assim se pode dizer.
Peço-vos que não fiquem muito abalados com esta condenação,
que tenha coragem e, conhecendo o dever, se esforcem por
cumpri-lo.
Queridos avós, não baixem a cabeça,
sintam orgulho por o jovem marido de Guitte ter morrido pelo seu
país, pela liberdade, pelo seu ideal. Amem a Marguerite e o
Jean-Claude, tratem bem deles, pois Guitte é muito infeliz. Pouco
a pouco ela irá recompor-se, principalmente com o nosso lindo
Jean-Claude que estará junto dela para a fazer sorrir. E depois,
com o tempo, a conformação virá.
Muitas vezes revejo os belos dias passados
nessa aldeia com os nossos pais e amigos, todos tão simpáticos.
Sim, eram belos dias; quantas recordações deliciosas guardo
comigo, principalmente nestes dias tão tristes.
Mas tudo tem um fim, este podemos dizer que
prematuro; os acontecimentos não permitiram que eu conhecesse
estas alegrias, muito maiores num país finalmente feliz.
No entanto, compreendo que escolhi o bom
caminho, o caminho que leva à felicidade dos povos numa
humanidade reconciliada.
Mas este caminho é longo e difícil, muitos
de nós caíram, outros caírão ainda; porém, não está longe o
dia em que os povos se vingarão e o nosso belo povo de França não
será o último.
Nesse dia, pensem um pouco em nós que tombámos
sem o conhecer, apesar de o sentirmos próximo e tendo trabalhado
com todas as nossas forças para o concretizar. Estamos certos de
que, por alguns franceses injustamente condenados à morte, são
centenas, milhares de patriotas que irão erguer-se para os
render, para conduzir o justo combate que deve ser a libertação
de cada país e a felicidade de cada povo.
Tenham confiança na vitória, ela está bem
próxima.
Talvez eu pudesse falar-vos um pouco mais de
mim. Pois bem! Aqui está: o moral e a saúde vão mais ou menos
bem; evidentemente estou numa situação em que o moral e o físico
sofrem.
Vigiado permanentemente pelos guardas num
calabouço negro, tenho grossas correntes nos pés como os piores
assassinos.
Nenhuma medida, qualquer que seja, nos
abate, nem ao meu amigo nem a mim. Apenas a execução pará fim
à nossa coragem, à nossa chama. Um patriota, um comunista, não
se deixa abater moralmente. Alguns de entre os cobardes, de entre
os traidores, ficariam felizes por nos ver fraquejar... Que não
se iludam, não terão esse prazer. Em breve chegará a sua vez,
então podereis rir de os ver tremer como poltrões.
Vamos, meus queridos pais e amigos,
deixo-vos para sempre. Antes de morrer pensarei ainda em vós.
Coragem e esperança, era essa a nossa divisa, é também a vossa.
Beijo-vos a todos, com todas as minhas forças,
com todo o meu coração.
Jean
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