PIERRE REBIERE
Nascido
em Fevereiro de 1909 na Dordogne. Membro do Comité Central do PCF.
Voluntário das Brigadas Internacionais de Espanha, de que é o
primeiro comissário político. Gravemente ferido, regressa à
França.
Comandante
dos FTPF (Franc-Tireurs Partisans Français), mata, em Bordéus,
um oficial alemão como represália de Châteaubriant. É
conhecido pelo nome de coronel Rémy. Preso a 15 de Dezembro de
1941, é fuzilado no dia 5 de Outubro de 1942.
(Extractos
de suas últimas cartas)
20 de Setembro de 1942
Meu amor
Escrever-te é ainda falar contigo; como só
vais receber este papel dentro de alguns dias, posso dizer que é
a título póstumo... Tenho alguns motivos para me preocupar
contigo, porque um camarada preso há pouco, com o qual pude
comunicar, falou-me das numerosas prisões entre os teus
colegas... Os apaixonados são eternos preocupados e eu estou
muito apaixonado por ti...
Sabes, os meus carrascos não se limitaram a
torturar-me fisicamente, mas desde o dia 23 de Abril até 16 de
Julho e ainda depois, disseram-me que tu estavas presa. Isso era
horrível para mim, pois, não recebendo encomendas tuas, não me
era possível certificar-me do contrário. Espero que não estejas
ao corrente da minha situação, porque terias sofrido mais do que
eu, minha jóia querida...
Os camaradas dir-te-ão que eu sofri por ter
querido evadir-me e porque as baínhas da minha toalha estavam
cheias de papel dirigido a ti. Aguentei-me bem e estou contente
por ter tentado a sorte, não me ter deixado assassinar sem tentar
evadir-me, orientado pelos princípios que tu conheces; desde o
falhanço do meu projecto tenho pensado num outro, e, se me
deixassem viver mais algumas semanas, talvez eu conseguisse...
Creio que os meus carrascos têm de vida
mais horas do que semanas e estou certo de que estes pigmeus serão
o pedestal sobre o qual será erguido o monumento à memória das
suas vítimas. Eles serão, sem o terem desejado, os
“suportes” que aguentarão o peso da nossa glória. Da glória
do grande Partido que os esmaga. Sei que hoje deve realizar-se uma
manifestação da Frente Nacional; oxalá ela possa ser o prelúdio
de uma série que obrigue os hesitantes a tomar uma posição mais
conforme com os interesses da França.
Compreendo bem que vai iniciar-se um período
de luta cujas novas formas não deixarão de espantar alguns. Vai
ser preciso ter o coração forte e muita coragem. E pensar que eu
vou deitar-me e dormir...
Como vês, apesar das minhas correntes,
entende-se o que eu escrevo e, apesar da minha inactividade, eu
ainda domino a escrita (cinco meses sem ler nem escrever, as mãos
e os pés acorrentados).
O teu amor, o nosso amor, o nosso ideal,
mantiveram-me e mantêm-me; desejo que conserves tais apoios na
vida intensa que tens diante de ti; o sacrifício que fazes vindo
ver-me é magnífico e o teu grande coração deve bater com muita
força... Tu serás sempre corajosa. Que a minha influência
carinhosa e benéfica seja um bálsamo para a tua dor.
Ama muita o meu filho. Élise e os amigos,
que os meus últimos beijos sequem as tuas lágrimas e seja, para
ti muito doces, muito doces...
Minha queridinha, vive o meu ideal, vive o
comunismo. Sempre em frente, o futuro desejado já está próximo.
P.R.
5 de Outubro de 1942I
Minha querida Lisette
Minha querida Madelisette, a todos vós
Chegou o último dia, estamos reunidos para
a partida... (censurado)... em revista... (censurado)... As
tarefas particulares que peço aos meus é transferir para o meu
filho e para a minha companheira o doce afecto que eles me
dedicavam. Esforçai-vos para que as crianças... (censurado)...
que toda a minha família saiba, e seja digna... (censurado)..
Vivi a média normal de um homem e não
tenho... (censurado)... Sou muito feliz... (censurado)... de poder
afirmá-los na hora da morte e acrescentar que eu...
(censurado)... o que... (censurado)... sempre... (um parágrafo
censurado)...
Aos meus numerosos camaradas e amigos eu...
(censurado)... a... (censurado)... e isso teve
um... (censurado)... para... (censurado)... dizer-nos...
(censurado)... eu penso que... (censurado)... sempre...
(censurado)...
A vós, meus queridos pais, a ti,
Madelisette, minha irmazinha,
envio os meus ardentes beijos e formulo os meus melhores
votos de felicidade que vocês bem mereceram. Beijos carinhosos
para essas crianças que são a nossa mais doce esperança.
Madelisette, minha querida, que alegria tu
me dás. Conheço a tua coragem e estou certo de que hás-de esforçar-se
para que os meus desejos, naquilo em que são compatíveis com o
resto, sejam satisfeitos... (censurado)...
Minha querida irmã, peço-te que tomes
conta das minhas coisas, roupa, carteira, dinheiro, caneta,
lapiseira, sobretudo, casaco, cuecas, camisas, lenços.
Tenho muitas coisas para vos dizer que não
vale a pena tentar sequer começar a contá-las.
Beijo-vos com muita força.
P.R.
Saudações aos... (censurado)... de Villac,
Terrason, e ainda Gustave, Fernand, todos os que amo.
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