JOSEPH DELOBEL
Nascido
em 1920. Militante da Juventude Comunista em Noyelles-Godault no
Pas-de-Calais, mais tarde responsável do setor pelos Batalhões
da Juventude.
Preso
por sabotagem na Primavera de 1942.
Fuzilado
em julho do mesmo ano.
16 de Julho de 1942
À minha família, ao nosso grande Partido e
às Juventudes Comunistas.
Não é sem sacrifício que vos escrevo
estas últimas linhas em nome de todos os meus camaradas vítimas
da barbárie dos alemães.
Fomos todos presos no final de Abril, princípios
de Maio. Nos quinze primeiros dias, suportamos interrogatórios,
sempre acompanhados da tortura da roda tal qual como se usava há
cem anos. Em cada interrogatório tínhamos a certeza de apanhar
uma dose de pauladas ou uma vara com um prego na ponta, chicotadas
e cacetadas, sem falar na permanência na escuridão da cave;
enquanto um destes brutos nos atirava os raios de uma lâmpada elétrica,
os outros, dois ou três, batiam-nos.
Era preciso dizer a verdade segundo o desejo
das carrascos, denunciar os camaradas, caso contrário era uma
chuva de pauladas para cima de nós. Vou citar-vos uma frase tal
como me foi dirigida: “Se não disseres a verdade, passamos-te
os pés pelo fogo, deixamos-te meio morto e levamos-te para o
poste de execução”. Depois disto repetiram-se várias vezes:
“Tens uma boa conta”.
O nosso bom camarada Humblot Ignace morreu
na cela, sem tratamento, com a coluna vertebral partida pelas
pancadas que recebeu, porque não queria denunciar os camaradas. Não
esqueçam nunca o nome deste valente.
Era impressionante ver, através das janelas
ou no recreio, os olhos inchados, o rosto e os membros feridos.
Estes bárbaros querem fazer-nos crer que temos uma hipótese de
salvar a cabeça. Dizem-nos que um revelou isto, o outro aquilo,
para levar à confissão os pobres diabos que não têm firmeza
para resistir.
Depois destes interrogatórios penosos,
ficamos tranquilos mais ou menos dois meses, limitando-nos a
permanecer vivos e a esperar todas as semanas a boa encomenda da
família. Isto sem falar nas duas gamelas de água e nos duzentos
gramas de pão por dia.
Deste modo esperavámos sabendo de antemão
o que nos aconteceria, e na terça-feira, 7 de Junho, às vinte
horas, vêm prevenir-nos de que passamos a quarta-feira, 8 de
Julho, no tribunal. Não ficamos muito surpreendidos; tinha que
acontecer. De manhã, às 8 horas, estamos vinte e sete camaradas
reunidos na rotunda, devendo o vigésimo sétimo vir do hospital
para juntar-se a nós. Vigiados por uns vinte soldados, chegamos
ao tribunal que foi mais um teatro onde se representou uma
vergonhosa comédia. Às nove horas começava a sessão que seria
trágica; éramos vinte e sete presentes; primeiro foram os
interrogatórios de identificação, depois os interrogatórios
individuais, tudo em Alemão. O intérprete traduzia as perguntas
e as respostas. De uma e meia às três horas houve um intervalo
para comer caldo numa sala ao lado, sendo a vigilância ainda mais
apertada e não havendo maneira de conversarmos entre nós. Para
ir ao urinol, tínhamos dois guardas e algemas nas mãos. Depois
dos interrogatórios, o procurador pronunciou o seu requisitório
em alemão.
Não percebemos nada, mas o que percebemos
foi o intérprete quando nos anunciou que o procurador pedia a
condenação à morte de vinte e cinco dos vinte e sete acusados.
Devo dizer-vos com todo o meu coração de comunista que este
momento foi solene; nem um de nós se mexeu, recebemos a notícia
com um sorriso, lançando deste modo o nosso ódio na cara dos
carrascos. Um advogado disfarçado de cabo alemão fez a defesa
dos condenados à morte; do que ele disse, não entendemos nada.
Em seguida a sessão foi suspensa para deliberação do tribunal,
depois de recomeçar foi lida a sentença, decisão sem recurso. O
tribunal reduziu a vinte e dois o número de condenados à morte.
Claro que as acusações foram lidas em alemão e nós não
conhecemos o conteúdo. Saímos sem barulho, com o sorriso nos lábios
e o regresso a Saint-Nicaise decorreu nas mesmas condições da
partida pela manhã, presos num caminhão e debaixo de grande
escolta.
O que me faz feliz é a certeza, a coragem
de todos os camaradas comunistas...
Meus caros camaradas, ficai certos de que
cumprimos o nosso dever e que nada lamentamos. Fomos bons soldados
do Partido e da França. Que este exemplo não seja inútil,
porque é preciso que a França viva e que o nosso Partido ocupe o
seu lugar num regime melhor em que o povo que trabalha imponha a
sua vontade.
Partimos com a consolação de ver que
Hitler não pôde avançar com a sua ofensiva e que os valorosos
Exércitos Vermelhos o mantêm
em luta desgastando-o pouco a pouco.
O triunfo é certo, o nazismo e o fascismo
estão em vésperas de morrer para sempre.
Camaradas, meus bons amigos, digo-vos adeus,
assegurando-vos que, com todos os irmãos do infortúnio, iremos
para o posto de execução de cabeça erguida, de punhos cerrados,
dizendo com toda a força: Viva o grande Partido Comunista! Viva a
França!
Queridos pais, tenho a satisfação de vos escrever,
tal como aos meus camaradas. Coragem e adeus!
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