MARCEL BERTONE
Nascido
em 1921, de origem italiana. Ajudante de guarda-livros. Ferido
durante a guerra de Espanha.
Preso
em Outubro de 1939, evade-se em 1940.
Dirige
um grupo dos Batalhões da Juventude quando é preso de novo a 18
de Dezembro de 1941. Fuzilado no dia 17 de Abril de 1942.
(À
filha)
minha pequenina Hélène, quando leres esta
carta a tua cabecinha começará certamente a compreender a vida.
Terás pena de não ter ao pé de ti o teu papá que te teria
feito feliz com a tua mamã. Minha Hélène, tens de saber um dia
por que é que o teu pai morreu aos vinte e um anos, por que é
que se sacrificou, por que é pareceu abandonar-te. Amai-te em
todo o amor paterno de que um homem pode ser capaz. Sonhei belos
sonhos de futuro para ti. Já nada posso fazer, mas tenho confiança
na tua mamã que saberá substituir-me junto de ti. Minha querida
Hélène, são duas horas e às quatro é preciso estar pronto.
Tenho de me despachar.
Presta atenção e respeita as minhas
vontades:
1º - Em tudo o que fizeres na vida,
respeita a tua mãe, respeita a memória do teu pai. Se um dia
faltasses ao respeito à tua mãe, fica certa de que se pudesse
sabê-lo, sairia do túmulo para te censurar.
2º - Aprenda a conhecer os motivos pelos
quais morri.
3º - Aprende a conhecer os que te cercam e
julga as pessoas, não por aquilo que disserem, mas por aquilo que
as vires fazer.
4º - Desenvolve a vontade, o desejo de
transformação. Cultua o espírito de sacrifício pelas causas
nobres e generosas. Não te deixes intimidar pelas coisas que pareçam
convencer-te de que o teu sacrifício é vão, inútil.
5º - Apoia a tua mamã com o teu
comportamento honesto; não lhe cries preocupações desnecessárias.
Ajuda-a com todas as tuas forças, porque a vida para ela, foi
semeada de sofrimentos amargos e trágicos.
6º - Se, na vida, não conheceres a
riqueza, consola-te pensando que não é aí que está a fonte da
verdadeira felicidade.
7º - Escolhe para marido um trabalhador
honesto. Escolhe um homem generoso, terno, trabalhador, capaz de
te amar.
Minha filha abraço-te em pensamento, não
nos deram autorização para vos ver... Terá sido melhor assim?
Adeus, Hélène, o teu papá morreu
gritando:
“Viva a França!”
Escrito na prisão de la Santé
17 de Abril de 1942, data da minha execução.
Marcel Bertone
Não baixes a cabeça, por o teu pai ter sido
fuzilado.
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