JEAN
POULMARC’H
Nascido
em 1910. Operário de Ivry-sur-Seine. Secretário do Sindicato
Unitário das Indústrias Químicas da região parisiense.
Preso
no princípio de Outubro de 1940. Fuzilado em Châteaubriant no
dia 22 de Outubro de 1941.
Châteaubriant, 22 de Outubro de 1941
Minha querida Lolo
Perdoa-me a dor imensa que te vou causar:
vou morrer. Refém dos alemães, dentro de alguns minutos, algumas
horas, no máximo, vou ser fuzilado. Hás-de ver na imprensa a
longa lista de companheiros que, inocentes como eu, vão
sacrificar estupidamente a vida.
Coragem tenho eu para dar e vender1 os meus
amigos também são admiráveis perante a morte. É principalmente
a ti que quero dirigir-me, por todo o sofrimento, pela dor
infinita que esta notícia vai causar-te.
Sê forte, querida. Ainda és jovem, não te
deixes dominar pela tristeza e pelo desânimo. Refaz a tua vida
guardando no coração a lembrança imorredoura daquele que te
amou até o último suspiro. Educa o nosso querido filho de acordo
com o espírito que orientou toda a minha vida, para que ele seja
um homem livre, amante da justiça, dedicado à defesa dos fracos.
Será essa a melhor vingança.
Consola os meus queridos pais, a minha mãe
e o meu pai que amei o melhor que pude. Que sejam fortes na
diversidade. Beija-os com todo a força do teu
coração.
Pobre Marguerite, pobre Jeanne, lamento o
desgosto que vou causar-lhes. Gostava muito delas, e elas bem me
retribuíam.
A todos dirijo a minha saudação;
transmite-lhes a minha confiança inabalável na vitória
próxima. Não é hora para chorominguices nem passividade; é
hora de lutar implacavelmente pela libertação da França e do
seu povo glorioso.
Lutei até a morte. Sinto-me orgulhoso da
minha vida e não duvido de que o meu sacrifício, tal como o dos
meus camaradas, não terá sido em vão.
Desculpe-me, escrevo sobre os joelhos; mas
não penses que tremo.
Querida, uma vez mais,
se encontrares um companheiro para refazer a tua vida, o
teu Jean não hesita em dizer-te: “Não o deixes fugir”.
Enxuga as lágrimas, recompõe-te e continua a tua vida
corajosamente.
Que o nosso Claude saiba como morreu o pai e
siga o caminho por ele traçado.
Minha mulherzinha, beijo-te uma última vez.
Que os meus beijos sejam os mais ardentes, que sejam o testemunho
da minha última afeição.
Beija ainda o papá, a mamã, a Marguerite,
a Jeanne, o nosso queridinho, a tua corajosa e admirável mãe;
beija a René, a Susanne, a Jaqueline, a Lise e todos os amigos
que nos são queridos.
Adeus, pequenina, mas coragem, coragem. O
teu marido cairá de cabeça erguida, coração forte, confiante
no futuro de felicidade que reinará no mundo.
Viva o comunismo!
Viva a frança livre, forte e feliz!
Jean
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