DÉSIRÉ GRANET
Nascido
em 1904. Operário metalúrgico. Participa na Constituição das
Comissões Sindicais Clandestinas.
Preso
a 5 de Outubro de 1940. Um dos 27 de Châteaubriant, fuzilado no
dia 22 de Outubro de 1941.
Minha querida Ivonne
Quando receberes esta carta, já terás
sabido a triste notícia. Dentro de momentos terei partido a
juntar-se àqueles que caíram.
Como sempre me pediste, sou corajoso e não
tenho medo da morte. Ama sempre o nosso filho como eu o amava; faz
dele um homem corajoso e honesto; sê fiel à minha memória.
Parto com a certeza de que não estarás
sozinha; os meus pais e os meus amigos ajudar-te-ão a suportar a
dor que te atinge.
Minha pobre querida, amei-te sempre e dentro
de alguns minutos será posto um ponto final na minha existência.
O meu último pensamento vai para vocês. Não tremo; esta carta
será mal escrita, porque estou a escrever numa
parede. Minha queridinha Ivonne, sê corajosa como eu.
Coragem e confiança no futuro!
Somos 27 que dentro em pouco serão
executados; é magnífica a coragem de todos.
Pronto, minha querida Ivonne, beija por mim
pela última vez os teus pais e também os meus.
Beijo-te pela última vez. O teu Dédé até
à morte. Um último pensamento para todos os amigos.
Dédé
CHARLES MICHELS
Nascido
em 1903. Operário da indústria do calçado. Secretário da
Federação Sindical Unitária dos Couros e Peles.
Deputado
comunista do Sena em 1936.
Preso
em Outubro de 1940. Fuzilado em Châteaubriant a 22 de Outubro de
1941.
22 de Outubro de 1941
Minha querida Aimée
Minhas queridas filhas
É a minha última carta. Dentro de alguns
minutos será posto um ponto final na minha
vida. Sê corajosa; pensa nas crianças. E se, no teu
caminho, encontrares um companheiro digno de ti, não hesites, querida, refaz a
tua vida; tu ainda és jovem. Não te impressiones, eu vou morrer
com coragem.
Consola a minha boa mãezinha, faz das
nossas filhas mulherzinhas corajosas e que elas se lembrem que o
pai se esforçou sempre por ser um homem honesto e que fez tudo o
que pôde para que os trabalhadores tenham uma vida melhor.
Chegará o dia. Há-de chegar.
Dê um abraço aos meus irmãos, esse velho
Jean-Jean, Etienne. (Se te mandarem as minhas coisas, há um pouco
de tabaco para eles). Nestes tempos de crise, nada se pode
perder... Bem precisamos de rir um pouco.
Junto a esta carta 3.550 F para ti.
Dá um beijo à Berthe, a toda a família,
aos amigos.
Vês, querida, como a vida é estranha:
acusado de suposta cumplicidade com a Alemanha, sou hoje fuzilado
pelos soldados deste país.
Termino e pela última vez beijo-te com
muita força a ti, às nossas queridas filhas e à minha boa mãe.
Coragem. Sê forte. Refaz a tua vida e
perdoa-me os pequenos desgostos que te dei.
Charles
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