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Conselhos de Direitos Temáticos
Curso de Direitos Humanos - Módulo III

IDOSO

Unidade II - Conhecendo a situação da Pessoa Idosa no Brasil

O que revela a realidade concreta
É considerado idoso o indivíduo que alcançou a idade de 60 anos ou mais.1
De acordo com o Censo 2000, os idosos brasileiros representavam 8,6% da população total, o que equivale a um contingente de 14,5 milhões de pessoas. Em relação a 1991, houve um crescimento de 35,5% nesse total. Nesse ano, a proporção desse segmento na população total era igual a 7,3%.

Com relação ao crescimento futuro da população idosa, as projeções feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o Brasil terá 216 milhões de habitantes em 2025, dos quais 31,3 milhões, ou 14%, serão idosos, o que significa quase metade da população idosa da América Latina, de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a População.

Pode se dizer que é um comportamento universal o fato de que a proporção de homens no total da população se reduz com a idade. Entre os maiores de 60 anos, predominam as mulheres. Fala-se, então, da feminização da velhice. Essa distribuição por sexo do contingente de idosos no Brasil segue a tendência mundial. Em 2000, para cada 100 mulheres idosas encontrava-se 78,6 homens idosos.2

A aplicabilidade da legislação sobre a condição do idoso no Brasil tem tido lento avanço.

De acordo com Renata Pagliarussi,3 a reduzida aplicabilidade da lei deve começar a ser questionada. O aumento da idade média populacional não é acompanhadopor ações públicas que garantam ao idoso condições dignas de vida, inserção social e assistência médica. Questões como condição econômica, discriminação em função de raça, de etnia e de gênero são fatores relevantes, nesse quadro, associados ao imaginário social que atribui valor ao jovem, dada a sua alta produtividade econômica.

Segundo o IBGE, o número de idosos no Brasil crescerá 3,6 vezes entre 2000 e 2050. Isto significa que serão aproximadamente 52 milhões de brasileiros com mais de 60 anos e uma expectativa de vida em torno dos 81,29 anos. Desse total, 2,2 milhões terão mais de 100 anos.4 Isso será conseqüência do aumento da expectativa de vida, e sugere a necessidade de sérias modificações no cenário político e socioeconômico do País.

Em seu artigo O Brasil mais idoso, Maria Regina de Lemos Prazeres Moreira alerta para a necessidade do governo e da sociedade realizarem ações no sentido de acolher de forma adequada a nova realidade do aumento da população idosa. “O número de idosos está crescendo e a taxa de natalidade diminuindo, ou seja, a pirâmide etária se invertendo. A sua base, formada atualmente por crianças aos poucos vai sendo substituída pelos idosos, enquanto que as crianças passam a ocupar seu vértice. As conseqüências dessa inversão serão muito sérias, pois o grande número de idosos no País vai sobrecarregar os sistemas previdenciário, de saúde e todos os demais órgãos de atendimento à pessoa idosa. As maternidades aos poucos serão substituídas pelas casas de repouso ou pelos asilos. É necessário, pois, que não só o governo, mas toda a sociedade organizada se conscientize dessa nova realidade e se prepare para receber esse contingente da população.”5

Com os números mundiais demonstrando que a população idosa se quadruplicará até 2050, a Assembléia da ONU reconheceu a importância da inserção do envelhecimento no contexto das estratégias para a erradicação da pobreza, bem como dos esforços para conseguir a plena participação de todos os países em desenvolvimento na economia mundial. Para a ONU, o envelhecimento não deve ser simplesmente questão de segurança social, e sim, deve antes ser visto no contexto mais geral das políticas de desenvolvimento e econômicas.
O idoso brasileiro hoje não conta, e antigamente também não contou, com um sistema de atenção voltado para a promoção de um envelhecimento bem –sucedido. Como conseqüência, há grande contingente populacional que necessita e não tem acesso aos bens e serviços capazes de garantir qualidade de vida nesta fase da vida. Esta situação exige o planejamento de ações de curto, médio e longo prazo para a promoção de um envelhecimento saudável.6

A Saúde da Pessoa Idosa7
Os idosos apresentam mais problemas de saúde que a população geral. Mais da metade dos idosos apresentava algum problema de saúde (53,3%), sendo 23,1% portadores de doenças crônicas. Em 1998, dos 86,5 milhões de pessoas que declararam ter consultado um médico nos últimos 12 meses, 73,2% eram maiores de 65 anos. Esse também foi o grupo que apresentou o maior coeficiente de internação hospitalar (14,8 por 100 pessoas no grupo) no ano anterior.

Quando se fala sobre as doenças presentes nas idades avançadas, é importante lembrar a parcela que cabe aos transtornos mentais. Em 1997, as internações psiquiátricas na faixa etária de 60 anos ou mais apareciam entre as dez primeiras causas de internação para o sexo masculino, mas não para o feminino. São escassos os estudos sobre a prevalência de transtornos mentais no idoso que faz paerte da comunidade no Brasil. No Município de São Paulo, Ramos et al (1993) detectaram uma prevalência de 27% de transtornos mentais por meio da versão simplificada do Older Americans Resources and Services (OARS), previamente validada no mesmo município.16 Almeida Filho et al (1984) encontraram uma prevalência de 33% para esses transtornos avaliando idosos em área urbana de Salvador, Bahia.

Para se ter idéia da magnitude da questão, observe-se o exemplo do maior município do Brasil. São Paulo contava, de acordo com o Censo Demográfico de 2000, com cerca de 10.500.000 habitantes.3 Em 1996, esse número era de 9.500.000 e mais de 880.000 pessoas tinham 60 anos ou mais. Se forem consideradas as prevalências acima, ou seja, de que aproximadamente 30% da população idosa apresenta algum transtorno mental, esse município contaria atualmente com cerca de 240.000 idosos nessas condições. O número de serviços disponíveis para a saúde mental nesse município estava em torno de 100 serviços ambulatoriais. Não se sabe se esses pacientes estão sendo atendidos por equipes multiprofissionais especializados em psicogeriatria, com treinamento adequado para detecção e manejo desses transtornos. Se levar em conta que são poucos os serviços que têm equipes especializadas (localizadas preferencialmente nos hospitais-escola da cidade) e que estas também não dispõem de dispositivos para atender idosos com transtornos mentais graves, em todas as instâncias de suas necessidades: emergência, internação, hospital-dia, reabilitação psicossocial, está-se de frente a um grave problema.

Como agravante, o Brasil não conta com qualquer dispositivo público gratuito para dar suporte à saúde mental às famílias de baixa renda.

Violência Contra Idosos8
As violências contra idosos manifestam-se de forma: (a) estrutural, aquela que ocorre pela desigualdade social e é concretizada nas manifestações de pobreza, de miséria e de discriminação; (b) interpessoal que se refere às interações e relações cotidianas e (c) institucional que diz respeito à aplicação ou à omissão na gestão das políticas sociais e pelas instituições de assistência. Internacionalmente, estabeleceram-se algumas categorias e tipologias para designar as várias formas de violências mais praticadas contra a população idosa:

• Abuso físico, maus tratos físicos ou violência física são expressões que se referem ao uso da força física para compelir os idosos a fazerem o que não desejam, para feri-los, provocar-lhes dor, incapacidade ou morte.
• Abuso psicológico, violência psicológica ou maus tratos psicológicos correspondem a agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar os idosos, humilhá-los, restringir sua liberdade ou isolá-los do convívio social.
• Abuso sexual, violência sexual são termos que se referem ao ato ou jogo sexual de caráter homo ou hetero-relacional, utilizando pessoas idosas. Esses abusos visam obter excitação, relação sexual ou práticas eróticas por meio de aliciamento, violência física ou ameaças.
• Abandono é uma forma de violência que se manifesta pela ausência ou pela deserção dos responsáveis governamentais, institucionais ou familiares de prestarem socorro a uma pessoa idosa que necessite de proteção.
• Negligência refere-se à recusa ou à omissão de cuidados devidos e necessários aos idosos, por parte dos responsáveis familiares ou institucionais. A negligência é uma das formas de violência contra os idosos mais presente no País. Ela se manifesta, freqüentemente, associada a outros abusos que geram lesões e traumas físicos, emocionais e sociais, em particular, para as que se encontram em situação de múltipla dependência ou incapacidade.
• Abuso financeiro e econômico consiste na exploração imprópria ou ilegal dos idosos ou ao uso não consentido por eles de seus recursos financeiros e patrimoniais. Esse tipo de violência ocorre, sobretudo, no âmbito familiar.
• Autonegligência diz respeito à conduta da pessoa idosa que ameaça sua própria saúde ou segurança, pela recusa de prover cuidados necessários a si mesma.

A classificação e a conceituação aqui descritas estão oficializadas no documento de Política Nacional de Redução de Acidentes e Violências do Ministério da Saúde (2001).

No Brasil, hoje, as violências e os acidentes constituem 3,5% dos óbitos de pessoas idosas, ocupando o sexto lugar dentre as causas de mortalidade , depois das doenças do aparelho circulatório, das neoplasias, das enfermidades respiratórias, digestivas e endócrinas. Morrem cerca de 13.000 idosos por acidentes e violências por ano, significando, por dia, uma média de 35 óbitos, dos quais (66%) são de homens e (34%), de mulheres.

Cerca de 10% dos idosos que morrem por violência são vítimas de homicídios, sendo que na maioria dos casos, são homens. Também são elevadas as taxas de suicídio (7/100.000), duas vezes a média brasileira. Como nos homicídios, os homens se suicidam mais que as mulheres.

As informações sobre doenças, lesões e traumas provocadas por causas violentas em idosos ainda são pouco consistentes, fato observado também na literatura internacional que ressalta elevada subnotificação em todo o mundo. Pesquisadores chegam a estimar que 70% das lesões e traumas sofridos pelos idosos não aparecem nas estatísticas. No Brasil, há cerca de 93.000 idosos que se internam por ano por quedas (53%), violências e agressões (27%) e acidentes de trânsito (20%).

Praticando: Conhecer a realidade dos segmentos de atuação prioritária dos conselhos é fundamental, pois ajudará na deliberação de políticas e na definição de ações prioritárias para a garantia de direitos e combate às violações. É tarefa de todos os conselhos nos âmbitos nacional, distrital, estaduais e municipais.
1) Você conhece a situação do idoso no seu Estado e município?
2) Quais são as principais violações dos direitos desta população em seu Estado e município?
3) O conselho tem discutido ações para enfrentar estas violações?
4) Quais têm sido as principais ações indicadas pelos conselhos e fóruns para enfrentar estas violações?

REFERÊNCIAS
1 Texto base da I Conferência Nacional de Direitos do Idoso, Construindo a Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa – RENADI. Disponível em: http://www.mj.gov.br/sedh/ct/cndi/i_conferencia_idoso.htm

O Brasil mais idoso, Maria Regina de Lemos Prazeres Moreira. Disponível em: http://www.unb.br/acs/artigos/at1004-01.htm

Carta de Ouro Preto, Desigualdades sociais e de gênero e saúde dos idosos no Brasil. Disponível em: http://www.unati.uerj.br/doc_gov/destaque/ouro_preto.doc

O espaço público e o idoso: possibilidades através de um conselho municipal, Sônia M. Lenhard Bredemeier. Disponível em: http://www.pucrs.br/textos/anteriores/ano1/gerontologia03

Estudos e Pesquisas - Informação Demográfica e Socioeconômica número 17 - Síntese de indicadores sociais, 2005 - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2005/indic_sociais2005.pdf

Fundação Joaquim Nabuco - Mudanças estruturais na distribuição etária brasileira – Disponível em: www.fundaj.gov.br/tpd/117a.html

CAMARANO, Ana Amélia; KANSO, Solange; MELLO, Juliana Leitão. Como vive o idoso brasileiro? In: Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60? 1. ed. Rio de Janeiro: IPEA, 2004, v.1, p. 1-594.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. Violência contra idosos: relevância para um velho problema. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19 (3), mai-jun, 2003. p. 783-791.

Links interessantes
Revista Idade Ativa - http://www.techway.com.br/techway/revista_idoso/politica/editoria_politica.htm

Notas
1 Definição a partir da Política Nacional do Idoso. O Estatuto do Idoso do Brasil de 2003 considera idoso as pessoas de 60 anos ou mais de idade acatando sugestão das Nações Unidas para países em desenvolvimento

2 Estudos e Pesquisas - Informação Demográfica e Socioeconômica número 17 - Síntese de Indicadores Sociais, 2005 - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE

3 http://www.techway.com.br/techway/revista_idoso/politica/politica

4 Fonte: Fundação Joaquim Nabuco. Disponível em: www.fundaj.gov.br/tpd/117a.html

5 O Brasil mais idoso, Maria Regina de Lemos Prazeres Moreira. Disponível no site www.unb.br/acs/artigos/at1004-01.htm

6 Carta de Ouro Preto, Desigualdades Sociais e de Gênero e Saúde dos Idosos no Brasil. Disponível em: http://www.unati.uerj.br/doc_gov/destaque/ouro_preto.doc

7 Maria Aparecida Ferreira de Mello (extraído do documento base da I Conferência Nacional dos Direitos do Idoso).

6 Maria Cecília de Souza Minayo – extraído do documento base da I Conferência Nacional dos Direitos do Idoso

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