Prefácio
Pedimos, por
favor, não achem natural o que muito se repete!
(B. Brecht, A exceção
e a regra).
A Cartilha Direitos
e Deveres dos presos que o leitor tem em mãos, que para mim
apresenta-lo é motivo de orgulho e satisfação pessoal, é o
resultado extraordinário do trabalho desenvolvido pelo GRUPO
TORTURA NUNCA MAIS _ BAHIA, que se propõe, a partir de uma
cuidadosa pesquisa na Lei de Execução Penal e tomando como parâmetro
à defesa e promoção dos direitos humanos, trabalhar com a
população carcerária de Salvador. Os presídios talvez sejam a
outra face da moeda; é a face obscura que nos recusamos a ver.
Portanto é incentivadora a metodologia utilizada nesse trabalho
(diminuição concreta do tempo da pena, recuperação da auto
estima do preso e a recuperação dos laços desfeitos com a família).
Enquanto se
acreditar que prisão é solução, nunca se atacará o pior, isto
é, o fato de que prisão nenhuma pode "recuperar",
"ressocializar", "reabilitar" ou qualquer
verbo mais que se crie. A prisão é u_ma instituição criada pela
sociedade no intuito de isolar os elementos que ela acredita lhe
serem prejudiciais. No entanto, como toda criatura, a prisão
reflete o seu criador. Isto é, a prisão jamais será um espaço
de produção de cidadãos, enquanto a própria sociedade for o
oposto disso.
O senso comum
acerta quando se refere ao fato de que às vezes pessoas entram na
prisão por motivos leves, por crimes que poderiam ter sido únicos
e saem profissionais do crime. Naturalmente o senso comum reduz
todos os seres humanos que cumprem pena privativa de liberdade à
mesma condição. Não há, entretanto, qualquer ontologia do
crime ou uma "essência" a definir o
"criminoso". As pessoas que se encontram encarceradas
possuem entre si pouco em comum além do fato de serem
invariavelmente pobres, jovens e semi-alfabetizados.
Há uma tendência
mundial que se propõe a repensar a questão da prisão, para
delitos leves, por exemplo, criando-se penas alternativas, que
evitem a impunidade, sem tornar as pessoas piores. Serviços
prestados a comunidade, multas, obrigatoriedade de freqüentar
aulas de cidadania, prisão de fim de semana, restrições de
direitos, entre outras, podem ser aplicadas a uma serie de casos.
Neste sentido, o
trabalho do Grupo Tortura Nunca Mais, se constitui em uma refe
rência incontornável
a todos aqueles que se interessam de uma forma ou outra pela temática
e estão empenhados nos esfo_rços pela reforma do sistema
prisional.
Daniel Almeida
é vereador e Presidente da Comissão de Direitos do Cidadão da Câmara
Municipal de Salvador.
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