Subsecretário
defende a cartilha
Luiz
Antonio Magalhães
A
cartilha que a Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República lançou sobre as expressões
politicamente incorretas suscitou uma polêmica tão grande
que já forçou o governo a recuar, por ordem do próprio
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O
subsecretário Perly Cipriano, responsável pela elaboração da cartilha, no
entanto, defende a medida do governo federal. Ele viu
com estranheza a reação ao documento neste momento,
um ano após a publicação do material. "Não é uma cartilha impositiva, que pretenda regulamentar nada, apenas
servir de reflexão para delegados de polícia, parlamentares,
jornalistas, radialistas e demais profissionais que
mantém contato com o público", explica.
A
reação à cartilha ganhou as páginas dos jornais após
a divulgação de uma carta aberta do jornalista João
Ubaldo Ribeiro, reproduzida pelo OI, que caracterizou
o documento como autoritário e pouco inteligente. Segundo
Cipriano, porém, a cartilha nada tem de autoritária,
pois não se destina a servir de regra para os profissionais
aos quais foi dirigida. Ele explica que a Secretaria
de Direitos Humanos já produziu outros documentos semelhantes
em defesa das minorias e que não tiveram repercussão
semelhante. "A intenção foi fazer uma pesquisa
para saber como as vítimas de preconceito gostariam
de ser tratadas", afirma.
De
acordo com Perly Cipriano, a idéia é defender aqueles que se ofendem
com certos padrões de linguagem que aparecem na mídia,
como os negros, os cegos, as loiras e os homossexuais.
"Há expressões que deveriam ser evitadas",
diz o subsecretário. "Os palhaços profissionais,
por exemplo, ficam ofendidos quando se usa o termo ‘palhaçada’
para caracterizar o que acontece no Congresso Nacional",
explica, lembrando que "palhaço é uma profissão
séria". Cipriano não vê excessos na cartilha e
diz que a secretaria está aberta para as sugestões de
todos os que se sentem ofendidos para melhorar o material.
Ele acredita que a polêmica é positiva, pois vai gerar
uma "maior reflexão sobre os termos preconceituosos
que todos nós acabamos usando", e lembra que os
manuais de redação dos jornais tembém trazem verbetes que devem ser evitados.
Para
o subsecretário, um dos maiores problemas está no uso
das expressões que a cartilha veta por parte dos delegados
de polícia. "Quando eles usam os termos ‘bandido’
ou ‘ladrão’, em geral se referem a criminosos pobres,
nunca aos de colarinho branco ou ricos. Mas ele acredita que os jornalistas também
não são muito cuidadosos e que o material da secretaria
poderia ser útil a todos.
Cipriano
também revelou ao OI que a tiragem da Cartilha
do politicamente correto foi de 5 mil exemplares, que
começaram a ser distribuídos "há cerca de um ano".
O texto foi elaborado pelo jornalista Antonio Carlos
Queiróz, que teria consultado
especialistas e se baseado em um livro do professor
Jaime Pinsky, professor titular da Unicamp e da PUC de São Paulo,
intitulado "12 faces do preconceito".
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