Cartilha
é retirada de circulação
07/05/2005
A publicação que continha expressões consideradas pejorativas
foi criticada por intelectuais e políticos
Agência
Globo
BRASíLIA
– O Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos
determinou a suspensão da distribuição da cartilha ‘‘Politicamente
Correto’’, elaborada pela Secretaria Nacional de Direitos
Humanos e que contém 96 expressões consideradas pejorativas
e discriminatórias contra mulheres, negros, homossexuais
e portadores de deficiência física, entre outros grupos
sociais. A medida do comitê confirma decisão do próprio
presidente Luiz Inácio Lula da Silva de tirar o livro
de circulação.
Subordinado
à secretaria do ministro Nilmário
Miranda, o comitê é composto por 31 representantes de
universidades, de organizações não-governamentais, do
Congresso Nacional e de setores do governo. Além de
recomendar a suspensão, o comitê aprovou proposta de
realização de um seminário para debater o conteúdo da
cartilha e discutir a relação entre linguagem e discriminação.
A
coordenadora do Comitê de Educação em Direitos Humanos,
Aida Monteiro da Silva, afirmou que a cartilha precisa
ser revisada e melhorada, mas, dessa vez, com a participação
de representantes dos grupos vítimas de discriminação.
“A
cartilha tem questões negativas e que precisam ser melhoradas,
precisam ser revistas. O governo tomou a decisão correta
em suspender a circulação e concordamos com essa medida”,
disse Aida Monteiro.
Nilmário
Miranda suspendeu a divulgação da cartilha e pediu a
opinião do comitê após críticas do próprio Palácio do
Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou
contrariado com a edição do livro, criticado por intelectuais,
escritores e entidades da sociedade civil.
Representante
da Câmara dos Deputados no comitê,
o deputado Orlando Fantazzini
(PT-SP) também condenou a publicação do livreto. “A
cartilha é inofensiva. Se de fato o governo quer combater
o preconceito é preciso um trabalho a
longo prazo. Não é uma cartilha que irá resolver.
A sua publicação não é negativa, mas não surte o efeito
desejável”, disse o deputado.
Na
nota que divulgou, a Secretaria de Direitos Humanos
afirma que o comitê decidiu suspender a publicação por
considerar que a cartilha ‘‘tem limitações’’. A cartilha
foi elaborada em parceria com a Fundação Universitária
de Brasília e a primeira tiragem foi de cinco mil exemplares.
A distribuição era gratuita.
A
cartilha ‘‘Politicamente correto’’ incluiu uma
lista de palavras que devem ser evitadas no dia a dia,
como sapatão, veado, turco, barbeiro, beata, palhaça,
baianada, baitola e louco.
O livro condena também expressões como ‘‘mulher no volante,
perigo constante’’, ‘‘preto de alma branca’’, ‘‘a coisa
ficou preta’’ e ‘‘farinha do mesmo saco’’.
Repercussão – A cartilha “Politicamente correto” foi
publicada, segundo o governo, com o objetivo de “chamar
a atenção da sociedade para os preconceitos nossos de
cada dia”. Ela começou a ser distribuída na semana passada,
num seminário realizado pela Comissão de Direitos Humanos
da Câmara dos Deputados para vereadores, deputados estaduais
e pessoas ligadas a ONGs que atuam nessa área.
Depois
da reportagem do jornal “O Globo” sobre a cartilha,
houve uma reação de setores intelectuais. O escritor
João Ubaldo Ribeiro classificou a cartilha de autoritária.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou contrariado.
O ministro Nilmário Miranda
foi levado a ligar para João Ubaldo e anunciar que o
livro seria recolhido e submetido à análise do Comitê
Nacional de Educação em Direitos Humanos, que recomendou
a suspensão da distribuição.
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