Ética
Virtual
O que é ?
Inicialmente,
acho que seria necessário definir o conceito de virtual.
Empregamos esta palavra em dois contextos que parecem opostos.
Num deles nos referimos a "virtual" como algo que
está por acontecer, que ainda não acontece mas é iminente, ou
presumido. Assim, fala-se do ganhador virtual de uma eleição
democrática, por exemplo, querendo dizer que o virtual é
apenas uma etapa na qual se permanece até chegar a ser
"real". Em outro contexto, definimos virtual como o
que aparenta ser, o que simula algo, o que falsamente é. Sob
esse contexto, ninguém jamais espera que o virtual se converta
em real. E é a partir dessa grande diferença que se define a
importância da ética virtual.
Acaso eu
espero que meu amigo virtual se converta em meu amigo
real? Ou estou consciente de que ele é só a imagem que está
aparentando ser, que está simulando algo?
Se
acredito que o virtual termina no real, então é
necessária uma ética virtual, que regulamente para nós essa
etapa virtual, para que ao converter-se no real não haja tantas
diferenças.
Se creio
que o virtual é imaginário e é só falsa
aparência do real, então a ética virtual não se torna
necessária, porque aceitamos o mundo virtual como um mundo fora
de nossa realidade. E ao se situar fora de nossa realidade, ele
não está sujeito às normas e regras de nossa convivência em
relação aos demais.
Pessoalmente,
gosto mais da idéia do virtual como caminho para o
real. É algo que nos dá mais esperança, mais coerente com o
objetivo final da comunicação: a relação interpessoal
direta. Sob esse esquema, todos os meios de comunicação são
virtuais, porque estão emulando (imitando) a comunicação
interpessoal. Uma carta, um telefonema, um chat na Internet,
todos são virtuais, e a todos devem ser aplicados os mesmos
critérios éticos.
Na melhor das hipóteses, a
diferença entre um telefonema e uma carta ou um chat é o
anonimato...
Em todos
os meios de comunicação anteriores, a
identificação do remetente é a chave para o intercâmbio de
idéias: ninguém vai comunicar-se com quem não conhece. Mas
com o chat da Internet isso se rompe e, ao romper-se, rompem-se
também todos os parâmetros de comunicação que, agora nos
damos conta, existiam pelo fato de sabermos que não podíamos
ocultar nossa identidade. E entramos em uma comunicação na
qual somos uma mescla do que queríamos ser, de nossos sonhos e
aspirações, com o que na realidade somos, e ficamos focados no
primeiro contexto de virtual que defini: aquele que nunca será
real. Isso pode muito bem se converter em uma prisão, porque a
diferença entre o eu virtual que criei e o eu real é tão
grande que a relação não pode acontecer, pois a imagem cairia
por terra. E então, se não há a intenção de chegar a uma
relação interpessoal, então isto não é uma forma de
comunicação: é em si já uma forma de vida... um universo
paralelo.
Este texto, escrito pelo mexicano Francisco Cacho,
é uma contribuição ao tema da comunicação pela Internet
e suas implicações, abordado no artigo "O
Outro Espelho Mágico"
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