Insurreição
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte
A
Revolta Comunista de 1935 em Natal
Relatos
de Insurreição que gerou o primeiro
soviete nas Américas
Luiz Gonzaga Cortez
Nosso
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de Produção
16. Jornal oficial não registrou “herói
A
partir de hoje, iniciamos a publicação
das reportagens do jornal do governo do Estado
do Rio Grande do Norte, sobre a insurreição
de 23 de novembro de 35 em Natal, inclusive fac-símile
da edição de “A República”
de 29.11.35. Em nenhuma edição do
jornal governamental aparece o nome do suposto
soldado Luiz Gonzaga como uma das vítimas
dos combates entre as forças legais e os
insurretos.
Cabe aos leitores observarem que os relatos são
oficiais e abundantemente adjetivados e facciosos.
E qualquer menino pode notar isso. A nossa intenção
é fornecer o máximo de informações
sobre os acontecimentos da novembrada de 35, cujo
responsáveis foram anistiados em 1945 pelo
então ditador Getúlio Vargas.
Eis a primeira reportagem do jornal do Governo
do Estado do Rio Grande do Norte sobre 35:
A REPÚBLICA
– NATAL – QUINTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO
DE 1935. N.º 1465, 1ª PÁGINA.
A MALOGRADA
REBELIÃO EXTREMISTA NO ESTADO. DIAS E HORAS
DE CALAMIDADES – OS TIROTEIOS TRESLOUCADOS,
AS CORRERIAS, OS SAQUES E DEPREDAÇÕES
– A LUTA NAS RUAS – A HERÓICA
RESISTÊNCIA DO QUARTEL DA POLÍCIA
MILITAR – A ORGIA DOS AUTOMÓVEIS.
Natal,
em toda a sua existência de cidade pacata,
não fora ainda constrangida a assistir
espetáculos tão triste e de tão
sangrenta dramaticidade como os das noites e dias
23, 24, 25 e 26 do corrente, dias e noites de
desespero e horror. Sob o domínio cruel
da estupidez desenfreada dos elementos extremistas.
Pelas 19:30 horas de sábado, quando o Governador
do Estado, alguns dos seus secretários
e grande parte da sociedade natalense, com os
alunos das escolas, assistiam no “Carlos
Gomes” à festa de diplomação
dos Contabilistas do Colégio Marista, foram
surpreendidos pela interrupção de
um levante que logo aos primeiros momentos caracterizou
nitidamente extremista.
Os tiroteios esparsos pelos bairros da cidade
e correrias nas ruas, apavoraram as famílias,
lançando o desassossego em todos os espíritos.
Logo mais, soube-se que elementos do 21º
BC, ligados a indivíduos de idéias
sabidamente avançadas, se achavam apossados
de vários pontos da capital, paralisando
o tráfego de bondes e automóveis
e tiroteando desvairadamente os pedestres que
se arriscavam a percorrer as ruas, de regresso
aos lares.
Toda a noite de sábado foi assim, de incalculável
terror. Os rebeldes, no intuito de aterrorizar
a população, lançavam rajadas
de metralhadoras por toda parte. O Batalhão
de Polícia Militar, sob o comando do major
Luiz Júlio, que ali se achava em companhia
do coronel Pinto Soares, comandante do 21º
BC, vários oficiais e alguns civis, trinta
e poucos homens, ao todo, foi logo assediado pelo
sediciosos, que se entrincheiraram nos prédios
e ruas adjacentes. O Batalhão resistiu
com uma coragem extraordinária, durante
19 horas à superioridade numérica
e bélica dos assaltantes.
Depois do assédio do Batalhão, que
com seu edifício quase desmoronando, as
paredes crivadas de balas, caiu às 15 horas
do domingo, a cidade inteira se tornou campo de
ambição, do ódio e dos instintos
dos masoqueiros. A caça aos automóveis
públicos e particulares, “Limosines”
e caminhões “Ford” e “Chevrolet”,
que se encontravam nos depósitos de suas
agências, foi um dos primeiros atos da situação
desgovernada, acéfala, confusa e titubeante.
Então, aos tiros e clamores bárbaros
de rua em rua, em doida disparada, os sublevados
puseram em pé de guerra a cidade, varejando
casas, praticando arrombamentos de toda espécie,
saqueando armazéns, carregando mercadorias
em caminhões, abrindo à turba sanguinária
casas comerciais.
Durante os dias de horror, foram assaltadas e
roubadas, entre outras as seguintes firmas:
a) “A Chilentes”;
b) “M. Martins e Cia.” (Agência
Ford, com prejuízo de cerca de 200 contos
);
c) “Severino Alves Billa” (Agência
Chevrolet, com cerca de 170 contos de perda);
d) “M. Machado” (armazéns de
gêneros alimentícios);
e) “Cia. Sul América”;
f) “Viana e Cia.” (ferragens);
g) “Cia. Souza Cruz”;
h) “M. Alves Afonso” (joalheiria);
i) “A Paulista” (filial do Alecrim);
j) “A Casa das Fazendas Baratas” (molhados);
k) “Armazéns Copacabana”.
O
mercado público e os quiosques circunjacentes
também foram assaltados e depredados, sem
nenhuma consideração pelos seus
pobres ocupantes que ali ganhavam a vida no pequeno
comércio.
Quase todas as repartições públicas,
federais e estaduais sofreram as consequências
da baixaria reinante. Os cofres do Banco do Brasil,
Banco do Rio Grande do Norte, Delegacia Fiscal,
Recebedoria de Rendas foram criminosamente arrombadas,
à maçarico, ficando os documentos,
papéis públicos, selos, espalhados
pelo chão, de mistura com cinzas e detritos
de destruição.
Enquanto isso, de rua em rua, procediam os rebeldes
a caça às autoridades constituídas.
O Governador Rafael Fernandes, em companhia do
seu secretário e inúmeros amigos,
saiu do Teatro “Carlos Gomes” sob
o tiroteio dos rebeldes, em direção
a residência do Sr. Xavier Miranda, transferindo-se
depois para o Consulado da Itália acompanhado
do Dr. Aldo Fernandes, Secretário Geral
do Estado. O Cônsul Sr. Guilherme Lettiére,
cercou do maior conforto o governo constituído.
Entretanto em ligação com as forças
legais, o governador do Estado pôs a par
do que ia sucedendo, orientando providências
e se comunicando com diversos pontos.
O Monsenhor João da Mata, presidente da
Assembléia Constituinte, e os Drs. Gentil
Ferreira, Prefeito da capital, Paulo de Viveros,
Chefe do Gabinete do Governo e Edgar Barbosa,
diretor da imprensa oficial abrigaram-se durante
os dias de luta no Consulado do Chile recebendo
da família dos Srs. Carlos e Amador Lamas
Elihimas as maiores demonstrações
de conforto e fidalguia.
A população da capital atravessou
momentos terríveis, que as palavras mal
podem descrever. As dificuldades insuperáveis
para se conseguir gêneros alimentícios,
com as ameaças constantemente feitas pelos
rebeldes, puseram pânico em Natal inteira.
Enquanto isso os boatos alarmantes andavam de
ouvidos sendo os sublevados os primeiros a lançar
as notícias terroristas.
As famílias que veraneavam na praia da
Redinha, e que hospedaram inúmeras pessoas
foragidas desta capital, tiveram também
terríveis sobressaltos.
Os seus chefes foram intimados a se apresentar
a uma Junta Governativa constituída de
elementos cuja vida progressa não autorizava
ninguém a acreditar em garantia de qualquer
espécie.
Nessa praia a busca de armas foi vexatória,
tendo o pelotão que ali praticou arruaças
trazido presos vários cidadãos,
entre eles o Sr. Arnaldo Lira, que aqui na casa
em que se instalara a Junta Revolucionária,
foi gravemente ferido a sabre.
Temos a lamentar diversas mortes e ferimentos
em pessoas reconhecimente pacatas, contra as quais
se atirava a esmo, numa caçada selvagem.
Oportunamente, publicaremos minuciosa reportagem
dessas tristes ocorrências.
O Governador Rafael Fernandes, prestigiado pelo
povo e pelas autoridades da República,
tomou desde ontem as medidas mais severas de vigilância
e repressão contra esses elementos que
deram ao Brasil no Rio Grande do Norte e em Pernambuco,
o mais sangrento e triste exemplo de suas verdadeiras
intenções políticas.
AO COMÉRCIO
Restabelecida
a ordem pública e assegurada todas as atividades
profissionais, o comércio desta capital,
que foi obrigado a cerrar as suas portas durante
os dias de terrorismo, abrirá hoje reiniciando
os seus negócios. Assim, podem os senhores
comerciantes recomeçar o seu trabalho,
pois as repartições públicas,
escolas e demais estabelecimentos também
funcionaram em seus expedientes regulares retomando
o ritmo normal.
TELEGRAMAS
DO DR. RAFAEL FERNANDES ÀS ALTAS AUTORIDADES
DO PAÍS.
O DR. RAFAEL FERNANDES DIRIGIU ONTEM AOS EXMO.,
Srs. PRESIDENTE DA REPÚBLICA, MINISTRO
DE ESTADO E GOVERNADORES O SEGUINTE TELEGRAMA:
“Tenho pesar comunicar vossência que
sábado, 19 horas, momento me achava no
Teatro Carlos Gomes assistindo festa escolar grandemente
concorrida famílias rebentou levante caráter
extremista quartel 21º BC. Dentro alguns
minutos vários pontos da capital foram
ocupados soldados rebeldes que iniciaram forte
fuzilaria metralhando aliados elementos extremistas.
Batalhão Polícia Militar atacado
rebeldes resistiu tremendo sítio que durou
19 horas seguidas, dada rendição
Btl. Policial 15 horas Domingo, presos seu bravo
comandante dignos oficiais que souberam tão
alto defender ordem constitucional v.g. rebeldes
ficaram senhores toda cidade pt. foram espalhados
boletins explicando movimento partido Aliança
Libertadora sendo organizada junta de operários
soldados que se instalou residência particular
governador estado pt. Comércio, casas bancárias
foram pilhados pt. cofres Banco do Brasil, Banco
do Rio Grande do Norte, Banco Rural, Recebedoria
do Estado, Delegacia Fiscal foram rebeldes arrombados
calculando-se tenham rebeldes apoderado quantia
superior a 5.00:000$000 pt. Há grande número
de mortos pt. Interior Estado foi organizada resistência
contra incursão rebeldes que não
puderam além Santa Cruz onde estalada bases
operações legalista pt. Momento
telégrafo Capital está recompondo
atividade estando oficiais exércitos polícia
respectivos quartéis ultimando providência
pt. tenho apresentar vivas congratulações
vossa excelência pela vitória ordem
legal restabelecimento império lei para
honra da Nação pt. respeitosas saudações.
Rafael
Fernandes
Governador
do Estado.”
O GOVERNADOR CONSTITUCIONAL DO ESTADO AO POVO
DO RIO GRANDE DO NORTE.
NOTA
OFICIAL
O
Governador Constitucional do Rio Grande do Norte,
prestigiado pelo povo unanime que não esqueceu
um momento os seus sentimentos de cristandade,
nos dias e nas horas dolorosas por que passou
a nossa querida terra, amparando pelas forças
legais e pela solidariedade absoluta do Governo
Federal, com os poderes do Estado legitimamente
firmados em funções, recomenda aos
nossos conterrâneos a maior calma perante
a situação.
Quando o Rio Grande do Norte marchava para um
período de reconstrução e
trabalho, dentro da ordem e do sossego que tranquilizava
os espíritos, uma rebelião de saqueadores
tentou implantar o maior negregado regime de espoliações,
assaltos e assassínios, dominado pela violência
e pela satisfação dos desenfreados
instintos de selvageria cujos resultados sinistros
todos assistimos nos três dias e nas quatro
noites terríveis que atravessamos. A heróica
Polícia Militar Norte-rio-grandense durante
um assédio de 19 horas, tudo fez para resistir
à avalanche dos bárbaros, mantendo-se
impávida, até os derradeiros minutos,
com os seus oficiais e soldados que se cobriram
de glória.
Na defesa do regime democrático e das instituições
que estão formando e dirigindo a Nacionalidade,
o Governador Rafael Fernandes conta com o grande
povo conterrâneo para colaborar na tarefa
urgente de reconstrução da ordem
e composição dos elementos primordiais
do Governo. O Presidente Getúlio Vargas,
autorizado pela maioria quase absoluta da Comarca
e do Senado, decretou o Estado de Sítio
para o país inteiro, com suspensão
das garantias constitucionais. Entretanto, o Governo
do Rio Grande do Norte garantirá a todos,
em seu lar e em sua propriedade, nas suas profissões
e no seu trânsito, sendo porém implacável
na manutenção da ordem, agindo severamente
contra os que ainda quiserem lançar a confusão
e promover desordens.
No cumprimento do programa comum ao Brasil, na
defesa do regime, na imposição do
respeito às famílias e aos bens,
na vigilância indormida contra os masorqueiros
e propagandistas do famigerado credo político
que nos acaba de dar tão sangrento e terrível
exemplo, o Governo será intransigente,
agindo com a máxima autoridade.
Assim, fique tranquila a população
natalense, que soube sofrer com heróica
firmeza as horas tristes dos assaltos, dos tiroteios
loucos, das correrias selvagem dos extremistas.
Fiquem tranquilos todos os nossos conterrâneos,
que o regime da paz e da ordem, da lei e justiça,
se acha assegurado em toda sua plenitude. Às
12 horas de hoje Natal viu o seu céu, que
tremera sob o fragor da metralha dos bárbaros,
iluminado pelas asas serenas dos aviões
do Exército e da Marinha Nacional. O invencível
22º Batalhão de Caçadores,
que se cobriu de louros nas trincheiras do Recife,
derrotando os rebeldes de Socorro, chegará
ainda hoje a esta capital, afim de mais perfeitamente
tranquilizar o povo com a sua presença
confortadora.
Os últimos comunistas sem coração
e sem alma fugiram a esta notícia, debandaram
em desordem, perseguidos sempre pela nossa gloriosa
polícia e por centenas de voluntários
civis que pegaram em armas para defender os sentimentos
de cristandade que nos embalam desde o berço
e que nunca poderemos substituir pelas idéias
sanguinárias indesejáveis e loucas
dos adeptos de uma doutrina que procura assaltar
o mundo com a sua onda de sangue e de desonra.
(NOTA OFÍCIAL DISTRIBUÍDA ONTEM
E HOJE NESTA CAPITAL E NO INTEIROR DO ESTADO ).
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