Insurreição
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte
A
Revolta Comunista de 1935 em Natal
Relatos
de Insurreição que gerou o primeiro
soviete nas Américas
Luiz Gonzaga Cortez
Nosso
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de Produção
13. Agente da polícia antecipou a revolta
A
quartelada de 1935 foi um dos grandes erros cometidos
por Luiz Carlos Prestes, pois as condições
eram adversas (1). A quartelada
foi decidida em Moscou, pela III Internacional
Comunista. Naquele tempo os comunistas tinham
a sua Internacional, assim como hoje os sociais-democratas
tem a sua Internacional Socialista. 35 foi arquitetada
em Moscou com base em relatórios falsos,
triunfalistas, elaborados por Miranda, um professor,
que era o Secretário-geral do PCB. Miranda
mandava para Prestes e o Comintern relatórios
e subsídios que não correspondiam
à realidade. Em 1934, Prestes saiu da União
Soviética para liderar a revolução
no Brasil, onde chegou com passaporte português,
com nome de Antônio Vilar. Prestes tinha
o renome de “Cavaleiro da Esperança”
e pensava que isso iria contribuir para êxito
da revolução. Os tenentes, os que
participaram da Coluna Prestes-Miguel Costa, não
tinham o cunho ideológico que Aliança
Nacional Libertadora tinha. A ANL queria o fim
do latifúndio, nacionalização
das empresas estrangeiras, a moratória,
a reforma agrária, etc. Isso era um avanço
para a época. Antes de 35, Prestes, a personalidade
mais importante da época, foi convidado
para chefiar o comando militar da Revolução
de 30, mas ele não aceitou. Foi outro erro.
Apesar de ser um movimento intra-oligárquico
e burguês, Prestes teria dado uma guinada
à esquerda no tenentismo. Então,
o movimento de 35, foi mal pensado e mal encaminhado.
Eu digo que não nos envergonhamos de 35,
pois fazemos autocrítica”, disse
o escritor pernambucano Paulo Cavalcante, durante
uma conferência sobre o “Levante Armado
de 35”, proferida no auditório da
reitoria da UFRN, na manhã de 26 de setembro
de 1985.
Ele veio a Natal a convite da Universidade e dos
cursos de Mestrado em Educação e
História da UFRN, promotores do Seminário
“Sociedade e História do RN nas décadas
de 20 e 30”, para falar sobre comunismo
e lançar o seu último livro de memórias,
“A Luta Clandestina”, no qual relembra
fatos que presenciou como militantes do Partido
Comunista Brasileiro-PCB, no Estado de Pernambuco.
JUDEU TRAIU A REVOLUÇÃO
Cavalcante
reconhece que a revolução comunista
de 1935 (ele afirma que não foi uma quartelada
comunista mas da Aliança Nacional Libertadora)
marcou com graves seqüelas o Partido Comunista
do Brasil-PCB que, apesar das dolorosas lições
apreendidas não corrigiu seus erros e tentou
reeditar 35 em 1950, através do célebre
“Manifesto de Agosto”, que pregava
a extinção do Exército Brasileiro
e a sua substituição por um “Exercito
Popular Revolucionário”.
“O esquerdismo e o sectarismo da década
de 30 retornaram em 1950. Somente depois de 1957
o PCB levou em conta as experiências de
35”, segundo Paulo Cavalcante. “Com
a campanha nacional de “O Petróleo
é Nosso” foi retomada uma política
sensata e nos curamos do sectarismo com a última
campanha pela anistia. No partido havia homens
bem intencionados mas que não se conduziam
de acordo com a realidade. Lênin dizia que
“aí do partido que ocultar do povo
os seus erros”. Nós nos curamos dos
erros do passado. A linha do PCB hoje é
saudável, de frente ampla, de manter as
conquistas democráticas de Tancredo e Sarney
e aprofundá-las”.
Depois de falar sobre a tática e a estratégica
do Partidão, a linha política do
PC do B, religião e as oligarquias nordestinas,
Paulo Cavalcante foi indagado sobre a opinião
de Prestes a respeito da intentona de 1935.
“Prestes acha que 35 foi um movimento válido.
Ele rompeu amizade comigo. Prestes se recusa a
fazer autocrítica a respeito de 35. Só
aceita autocrítica depois de 45. “35
evitou que Plínio Salgado fosse Ministro
da Educação de Getúlio Vargas”,
dizia Prestes. Mas o Estado Novo, a ditadura de
Getúlio, foi o fascismo, o integralismo
sem Plínio Salgado”.
E sobre os propalados assassinatos de oficiais
legalistas, no Rio de Janeiro, durante a insurreição
nas guarnições militares? É
verdade que mataram oficiais legalistas quando
estavam dormindo?
“Olha,
o escritor Hélio Silva, um conservador,
portanto uma pessoa que nunca esteve simpatias
pelo comunismo, autor do célebre livro
“A Revolta Vermelha”, manuseou laudos
médicos, inquéritos e relatórios
policiais, processos, boletins... Em nenhum documento
oficial ele encontrou qualquer referência
de que tenham morrido oficiais legalistas dormindo.
Nos relatórios dos delegados auxiliares
de Recife e do Rio de Janeiro, Etelvino Lins de
Albuquerque e Hugo Belens Porto, respectivamente,
e os documentos estudados por Hélio Silva,
não há uma referência, nem
de leve, as mortes de oficiais dormindo. Essa
história é uma deslavada mentira.
Os quartéis estavam de prontidão.
Dos dois lados quem morreu estava com farda de
combate! Dizer que morreram ou fuzilaram oficiais
dormindo é uma ofensa que se repete todos
os anos, é uma balela que atinge a dignidade
dos oficiais mortos dos dois lados, pois eles
estavam de prontidão e não poderiam
dormir. Essa versão foi criado no Estado
Novo e repetida como um realejo para atingir a
dignidade dos oficiais e enganar a opinião
pública, como recentemente fez o general
Euclides Figueiredo”.
Por
que o movimento começou em Natal?
Bom.
Muniz de Faria, militar reformado da Polícia
Militar de Pernambuco, foi enviado do Rio de Janeiro
pela ANL, para contactar com Recife e Natal. Ele
não chegou a vir a Natal, pois viajou de
navio do Rio para Recife, onde mantivera contacto
com o Comitê Central do PCB. Faria chegou
de madrugada e disse a Alceu Coutinho que o movimento
tinha sido detectado pela inteligência inglesa
e pelo Governo e que tinha que ser sustado, pois
havia interesse do governo na sua eclosão
em dias diferentes. Coronel Muniz de Faria não
fez nada porque a revolução já
estava nas ruas do Recife. Isto é, não
deu tempo para chegar a contra-ordem. Infiltrado
no PCB havia um judeu brasileiro, conhecido por
Maurício, que trabalhava para a polícia.
Dias antes da insurreição, no Recife,
ele ficou perguntando pelas armas que “vieram
da União Soviética”, “Não
existem essas armas, vamos fazer a revolução
com as nossas próprias armas”, responderam
os revoltosos do Recife. De lá, esse tal
Maurício veio para Natal e aqui manteve
contatos com a tarefa de precipitar o movimento.
Hoje não se sabe que fim levou esse tal
Maurício”, respondeu o escritor Paulo
Cavalcante. (2)
Segundo ele a ditadura getulista, o Estado Novo,
viria de qualquer maneira e que a insurreição
de 1935 foi somente um pretexto e não a
causa de sua implantação pelo grupo
militar que mantinha Getúlio Vargas no
poder, Hitler e Mussolini estavam no poder na
Alemanha e Itália e a ascensão mundial
do fascismo foram os motivos principais que levaram
o Brasil ao “Estado Novo”, principalmente
depois da divulgação do “Plano
Cohen”, documento falso elaborado pelo capitão
Mourão Filho, do Estado Maior do Exército
e Chefe do serviço secreto da Ação
Integralista Brasileira.
“Não vim aqui para repudiar o movimento
de 35, mas para fazer uma autocrítica.
Por causa do espírito tenentista, golpista
e pequeno burguês, que predominava no Exército,
35 foi um movimento precipitado, não tenho
dúvidas”, completou Paulo Cavalcante,
autor de quatro volumes de memórias (“O
Caso eu conto como o caso foi”).
No final de sua conferência, Cavalcante
homenageou três comunistas do Rio Grande
do Norte, mortos; Luiz Maranhão Filho,
Vivaldo Ramos de Vasconcelos e Hiram Pereira de
Lima. Vivaldo Vasconcelos, em Natal, foi elemento
de ligação entre os que faziam os
preparativos para a insurreição
militar de 23 novembro de 1935, que ontem completou
50 anos.
NADA DE ALIANÇA. FOI COMUNISTA
MESMO
O
professor Homero Costa, da UFRN, que faz mestrado
na Universidade de Campinas-SP, estudioso dos
movimentos comunistas no Brasil, disse durante
o seminário que a revolução
de 1935, ocorrida em Natal, Recife e Rio de Janeiro,
foi um movimento estritamente comunista, planejado
e executado pelo Comitê Central do Partido
Comunista do Brasil-PCB. (3)
O professor Homero disse que a Internacional Comunista,
sediada em Moscou, mandou para o Brasil, clandestinamente,
Luiz Carlos Prestes e a sua mulher Olga Benário,
Artur Ewert (Harry Berger) um ex-deputado comunista
alemão, Rodolfo Ghioldi, secretário
Geral do Partido Comunista Argentino, todos “figuras
importantes da Internacional Comunista”.
“A insurreição de 35 foi uma
decisão do Partido e não da Aliança
Nacional Libertadora. Paulo Gruber era elemento
infiltrado pela polícia. A ANL foi uma
frente do PCB para a insurreição
militar. Em Natal, toda a junta governativa era
do Partido Comunista. Era uma junta comunista
e não uma junta aliancista. Houve planejamento
bem elaborado para a insurreição
e o CC do PCB foi quem autorizou o levante”,
garantiu Homero Costa, que está preparando
uma tese de mestrado sobre a Revolução
de 35.
A DEPUTADA MARIA DO CÉU DISCURSOU
NA ASSEMBLÉIA SAUDANDO O FRACASSO DA REVOLTA
COMUNISTA
Na décima página, a edição
de “A República”, de 1º
de dezembro de 1935 (n.º 1.468), publicou
um pequeno artigo de autoria da deputada estadual
Maria do Céu Pereira Fernandes, do Partido
Popular, a agremiação dos políticos
conservadores e carcomidos do Rio Grande do Norte.
Cinco dias depois do fracasso da revolução
comunista de 1935, o órgão noticioso
oficial não publicava uma linha sobre a
existência de qualquer herói, civil
ou militar.
A
transcrição do artigo foi feita
pela nossa auxiliar Maria Igacir Ribeiro da Silva.
A sua publicação nesta série
de reportagens sobre o comunismo no RN deve-se
ao fato de não existir nenhuma referência
aos debates ocorridos na Assembléia Constituinte
Estadual, depois da intentona, nos livros e trabalhos
publicados após 1937. “O Hosanna
da Victoria”, de Maria do Céu, é
transcrito aqui com a ortografia da época,
(Maria do Céu foi a primeira mulher deputada
no Brasil. É mãe do ex-deputado
Paulo de Tarso Fernandes, ex-presidente do Diretório
Estadual do PMDB-RN).
“O HOSSANNA DA VICTORIA“
Não
seria por certo, lícito a quem nada tem
com que pagar a ousadia de pedir. E eu que nada
possuo para ressarcir a generosidade com que sempre
me acolhe a gente boa e magnânima da minha
grande terra, ouso ainda pedir que consinta em
que, vez por outra, desdobre as páginas
do nosso órgão oficial.
Louvável e merecedora dos nossos melhores
aplausos é a iniciativa do muito digno
diretor de “A República” dando-lhe
domingueiras roupagens no dia consagrado ao Senhor.
À página literária feita
semanalmente hão de todos a correr porque
nossa gente é sedenta do que é bom
e são, é ávida do que é
bello. Hoje que, louvado seja Deus, já
sentimos brilhar sobre nossas cabeças a
luz de uma abóbada sem nuvens, onde rutilam
o direito e a justiça, sob cuja iluminura
de debuxa o vulto da paz, é justo, é
imprescindível que “A República”
se dê cores diversas, tintas outras que
não só as que de que se revestem
os decretos e actos officiaes.
Tudo
o que hoje nos punge relembrar já passou.
O mal sempre flue para o seu ponto de partida.
A procella, os ciclones, as trombas que devastam,
que danificam, que destroem, não tem durações
de eternidades. O oceano é que não
passou, o bem é o que não morre,
a verdade é que jamais sucumbe aos embates
dos vendavais furibundos da anarchia e do crime.
Passada a tormenta ella assoma, inalterável
como sempre viveu, com serenidade de bonança
para gáudio da virtude, e para vergonha
do vício.
“O
Rio Grande do Norte que teve em cinco anos o seu
longo calvário, a sua dolorosa peregrinação
por ínvios caminhos com o cruento holocauto
de uns pela liberdade collectiva, ouve agora,
cantada por todos os corações, a
epopeia inenarrável”, do seu civismo,
vê agora enaltecido pela gente deste grande
Brasil o seu heroísmo que não tem
confronto, assiste agora glorificada a sua ressurreição
no Thabor de Luz que seus filhos lhe prepararam,
e que há de iluminar imensidade a dentro
e os tempos para orgulho das gentes que hão
de vir.
Tudo
hoje se alegra, tudo rejuvenesce, tudo entoa o
Hosanna Magnífico da grande victoria. Maria
do Céu. Essa foi saudação
de Maria do Céu Pereira Fernandes à
vitória sobre o comunismo”.
NOTAS:
1 - Carta de Miguel
Costa, de 05/08/35,(general da Coluna Prestes
de 1926) ao Cavaleiro da Esperança, publicada
no volume 1930/1935, da coletânea “Nosso
Século”, edição da
Abril, pág. 119:
“Estou
hoje convencido de que realmente não há
possibilidade de um meio termo no acerto de contas
entre explorados e exploradores. Mas, se na luta
em favor dos explorados os fins justificam os
meios, parece-me que tem havido erros na luta,
escolha e na aplicação desses meios.
A ANL foi lançada no momento preciso. O
seu programa anti-imperialista, pela libertação
nacional do Brasil, antifascista e pela divisão
dos latifúndios, realmente empolgou, não
apenas as massas trabalhadoras, mas até
a pequena-burguesia e mais fundamente os meios
intelectuais honestos. Defendendo-se da ilegalidade
em que seria fatalmente posta pela Lei de Segurança
Nacional, a ANL propôs-se a resolver aquelas
questões dentro da ordem. Fez a sua profissão
de fé nacionalista e por último
negou qualquer ligação mais estreita
com o Partido Comunista. Nessa sua primeira fase,
a ANL estancou desde logo o surto integralista
no país. Veio o 5 de Julho. Você
naturalmente pouco ou mal informado, supondo que
o movimento da ANL tivesse tanto de profundidade
como de extensão, lançou o seu manifesto
dando a sua palavra de ordem de “Todo Poder
à Aliança Nacional Libertadora”,
brado profundamente revolucionário, subversivo,
aconselhável aos momentos que devem preceder
a ação. Grito que deveria, para
estar certo, ser respondido pela insurreição.
No entanto, aí estão os fatos: veio
o seu manifesto, veio o decreto de fechamento
da ANL e este movimento popular, que parecia à
primeira vista ter tomado todo o país,
não reagiu nem com duas greves organizadas.
O golpe reacionário do Governo, amparando-se
nos termos de seu manifesto, pode ser desferido
antes da hora que nos convinha. Não foi
possível revidá-lo. Mas, se você
tivesse, em vez de pregar o assalto ao poder,
recomendado a mais viva consagração
em torno da Aliança, não se teriam
precipitado os acontecimentos”.
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