Insurreição
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte
A
Revolta Comunista de 1935 em Natal
Relatos
de Insurreição que gerou o primeiro
soviete nas Américas
Luiz Gonzaga Cortez
Nosso
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09. Na Serra do Doutor não houve vitória
Segundo
o hoteleiro José Pacheco, 68 anos, o então
padre Walfredo Gurgel foi o primeiro a descer
do carro que carregava “gente importante”
para o combate na Serra do Doutor, em novembro
de 1935, quando os insurretos pretendiam fugir
sem destino, em virtude do fracasso da revolução
comunista. Giocondo Dias, em entrevista publicada
nesta série de reportagens, afirmou que
a coluna de revolucionários que esteve
na Serra do Doutor, do dia 25.11.35, era uma tentativa
de manutenção do governo ‘Popular
Revolucionário’, no interior do RN.
Monsenhor Walfredo, que era padre nesse tempo,
foi o primeiro homem a carregar pedras para a
barreira que colocaram na subida da Serra do Doutor.
Depois que ele carregou seis pedras, chegou um
caminhão com o pessoal que o Monsenhor
Walfredo tinha aliciado em Acari para lutar contra
os comunistas. Esse pessoal deu um “duro”
danado. Em seguida, chegou um caminhão
carregado de rapaduras, carne de charque e muita
comida. Apareceram uns oficiais da Polícia
Militar e como não tínhamos tomado
nenhuma decisão, pois a tarde estava terminando,
resolveram organizar a defesa na serra. Vi muita
gente, umas 300 a 400 pessoas. Lembro-me bem de
Olivier, Orestes e Walter Cortez no meio desse
povo. Apareceu o sargento da PM, conhecido por
“Severinho da Cazuzinha” (ele era
filho de Severino Bezerra) e o tenente Pedro Siciliano.
“Todo recruta fica aqui em baixo. Quem já
serviu o Exército, os que sabem atirar,
ficarão lá em cima. Por volta das
17h e 30h a poeira começou a aparecer no
horizonte. Era a poeira dos carros dos revolucionários.
Pedro Siciliano mandou que devíamos atirar
carros dos revolucionários. Pedro Siciliano
mandou que devíamos atirar quando os revolucionários
estivessem cercados na subida, perto da barreira
de pedras. Um sargento da Polícia, de Caicó,
estavam com umas bombas. “transvalianas”,
cheias de pregos. Quando os comunistas apareceram,
esse sargento jogou essas bombas, iniciando um
tiroteio danado, obrigando-me a me esconder com
medo das bombas. Eu não dei um tiro na
Serra do Doutor. Não sei o tempo que durou
o fogo cercado, mas lembro-me que os comunistas
tinham uma metralhadora pesada atirando contra
nós. Depois do tiroteio, vi muita gente
fugindo nos caminhões, inclusive Walfredo
Gurgel. Dinarte Mariz tinha ido para à
Paraíba. Alguém disse na fuga para
o padre Walfredo: “não temos medicamentos
e gasolina, mas vamos buscar em Currais Novos”.
Era só motivo para a fuga, mas o padre
Walfredo mandou José dos Santos vender
gasolina e avisou Tristão de Barros, que
tinha uma farmácia em Currais Novos, que
preparasse medicamentos para qualquer eventualidade.
Eu soube que, quando Tristão de Barros
(pai de ex-Reitor Genibaldo Barros) estava embalando
os medicamentos, apareceu gente gritando “tá
todo mundo fugindo da Serra”. Eu voltei
para a Serra do Doutor, a fim de levar as quatro
caixas de gasolina, num Chevrolet pavão.
Na Ladeira do Boi Chôco encontrei o meu
grupo e ainda assisti uns 20 minutos de tiroteio.
Do lado dos comunistas, morreram quatro pessoas,
inclusive um soldado do Exército, um rapazinho
louro. Soube que morreram dois homens que foram
feridos na Serra, mas não sei quem matou-os.
Lembro-me que Ivo Trindade matou um soldado que
estava em cima de um caminhão. Em resumo,
acho que o tiroteio da Serra do Doutor não
teve vencedores nem vencidos. Enquanto uns corriam
para um lado, outros corriam para outro lado.
Foi uma batalha de frouxos, pois todo mundo corria,
inclusive eu. Olivier caiu no escuro, cortou o
rosto e foi medicado em Campo Redondo, por exemplo.
A única pessoa que ficou na cidade de Currais
Novos foi o médico Mariano Coelho, que
se improvisou como telegrafista e ficou mandando
mensagens para Natal sobre a situação.
Dinarte Mariz não esteve na Serra do Doutor,
mas foi o grande aliciador de sertanejos. Sem
ele não teria havido resistência
no Seridó. Dinarte foi uma espécie
de general, de um chefe, apesar de não
ter ido para o combate na Serra do Doutor”,
disse José Pacheco.
Depois do tiroteio na serra, vários sertanejos
rumaram para a cidade paraibana de Santa Luzia
do Sabugi, onde existia uma ordem de Dinarte Mariz
para entregar os presos à Polícia
da Paraíba. “E assim foi feito”,
diz Pacheco, acrescentando ainda que o major Antônio
de Castro, da Paraíba, foi o comandante
de 300 pessoas aquarteladas em Santa Luzia do
Sabugi. Dois dias depois, recebemos a notícia
de que a revolução tinha acabado
e todo mundo retornou para o Seridó do
RN. “A ida do nosso grupo para Santa Luzia
fazia parte de um plano para enfrentar possíveis
revolucionários naquela região da
Paraíba”, adiantou Pacheco. Ele considerou
o episódio como uma aventura que lhe rendeu
um emprego na Prefeitura de Natal, por determinação
do governador Rafael Fernandes, pois o prefeito
Gentil Ferreira de Souza resistiu muito a assinar
a sua nomeação.
Funcionários
aposentado da Prefeitura do Natal, Pacheco diz
que tem boas recordações de Djalma
Maranhão. “Em 1964, o capitão
Lacerda, do Exército, me interrogou e queria
que eu dissesse que Djalma Maranhão era
comunista. Eu não aceitei a ameaça
e disse que Djalma não era comunista, mas
já tinha sido comunista na juventude. Djalma
me dizia que o comunismo não medra no Brasil”,
completou José Pacheco.
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