Insurreição
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte
A
Revolta Comunista de 1935 em Natal
Relatos
de Insurreição que gerou o primeiro
soviete nas Américas
Luiz Gonzaga Cortez
Nosso
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de Produção
07. Dias. Errei ao mandar fuzilar três
Algumas
colocações do Secretário-Geral
do Partido Comunista Brasileiro-PCB, Giocondo
Dias, publicadas na reportagem da edição
de O Poti de 30.06.85, foram contestadas por algumas
testemunhas dos acontecimentos da “novembrada
de 35” em Natal. Indagados pelo repórter,
os escritores e historiadores Manuel Rodrigues
de Melo, Otacílio Cardoso e Clóvis
Travassos Sarinho (este último foi o médico
que tratou dos ferimentos superficiais de Giocondo,
na noite em que rebentou o levante militar), negaram
euforia popular nas ruas de Natal. Manuel Rodrigues
afirmou que andou, a pé, pelas ruas sem
ser incomodado pelos revoltosos.
O veterano comunista Poty Aurélio Ferreira,
que não ingressa no PCB porque é
prestista, disse que “houve ajuntamentos
no quartel do 21º BC” e que desconhece
qualquer notícia de realização
de comícios em Natal durante a Revolução
de 35.
“Se o ambiente era de revolução,
como é que se poderia promover comícios?,
indagou Poty Aurélio. Ele é uma
das pessoas que asseguram que muitas coisas ainda
não foram reveladas sobre a revolução
de 1935, inclusive sobre fatos que antecederam
ao movimento. Por exemplo: as pessoas que financiavam
o Partido Comunista. Alguns financiadores das
atividades do PCB se passavam por conservadores...
Giocondo mentiu?
O médico-cirurgião Clóvis
Travassos Sarinho desmente que Giocondo Dias tenha
passado a noite do dia 23 de novembro de 1935
no Hospital Juvino Barreto (ex-Miguel Couto, ex-Miguel
Couto, ex da Clínicas e hoje Hospital Universitário
Onofre Lopes). Giocondo disse que no tiroteio
da rua São Tomé foi ferido com três
tiros e que, na manhã do dia 24 de novembro
de 35, “quando os médicos me examinaram
e verificaram que os ferimentos não tinham
gravidade que se pensava, cai fora do hospital.
Vi que podia andar e fui para o quartel”.
Segundo o Dr. Sarinho, esse relato de Giocondo
não tem fundamento. Apesar do Dr. Sarinho
não querer tocar no assunto, soubemos que
Giocondo Dias foi ferido gravemente na fazenda
“Primavera”, município de Lages,
de propriedade de um amigo.
O acontecimento da “Fazenda Primavera”,
no qual Giocondo foi salvo por um sargento da
Polícia Militar do RN, Genésio Cabral,
não foi abordado na entrevista que o chefe
do PCB deu a três jornalista do jornal “Voz
da Unidade”, órgão do Partidão,
em dezembro de 1981, em São Paulo: José
Paulo Netto, Luiz Arturo Obojes e Regis Frati.
Sarinho, por ouvir dizer, pois não participou
do movimento revolucionário – era
integralista -, disse que Otacílio Werneck
não provocou o seu matador, Epifânio
Guilhermino, motorista de Guglielmo Letieri.
Eis as versões do Dr. Sarinho sobre algumas
afirmações de Giocondo Dias, publicadas
na reportagem desta série, em O Poti:
1 - Não houve comícios durante o
domínio dos comunistas em Natal, por ocasião
da Revolução de 1935. A população
da cidade permaneceu em casa com receio de sair
à rua, e não se faz comício
sem povo.
2
- Cabo Giocondo Dias apresentava dois pequenos
ferimentos em um antebraço. Foi feito o
atendimento entre 20 e 21 horas, e logo após
o paciente retirou-se, voltando no dia seguinte
(domingo, 24), pela manhã, para novos curativos.
Os outros médicos do Hospital eram os Drs.
Otávio Varela, Ernesto Fonseca, Aderbal
de Figueiredo, Raul Fernandes e Antônio
Martins Fernandes. Eu chefiava a clínica
cirúrgica dos indigentes desde o mês
de agosto. Os médicos não se encontravam
no Hospital na noite do sábado quando lá
cheguei, porque nenhum deles tinha obrigação
a cumprir àquela hora.
3 - Alguns dias depois que os revolucionários
abandonaram Natal e fugiram para o interior, o
Dr. Onofre Lopes tratou de ferimentos em Giocondo
Dias. Não foi hospitalizado.
4
- Cheguei no sábado à noite, às
20 horas, e só me retirei do Hospital na
terça-feira à tarde. O Tte Zuza
Paulino chegou ao Hospital pouco depois das 15
horas do domingo, apresentando um ferimento grave,
depois de terminado o ataque ao Quartel da Polícia,
onde se houve com muita bravura em defesa da legalidade.
Sofreu amputação do braço
em seção plana, praticada pelo cirurgião
Dr. José Tavares. Soube por informações
de um amigo que o oficial foi morto há
alguns anos em Mato Grosso.
5-
Não houve provocação no caso
de Otacílio Werneck. Ele foi morto no domingo
pela manhã no portão de sua casa.
É de causar estranheza que o Sr. Giocondo
Dias tenha esquecido o sapateiro José Praxedes
(2), que, na formação do governo
revolucionário, ocupou o Ministério
do Abastecimento, juntamente com Lauro Lago, Ministro
do Interior, João Batista Galvão,
Ministro da Viação, José
Macedo, Ministro das Finanças e o sargento
músico Quintino, Ministro da Defesa. Esta
notícia foi dada pelo jornal “A LIBERDADE”,
órgão do governo revolucionário,
informando ainda que os ministros foram aclamados
pelo povo em praça pública. Acontece
que o governo da revolução foi organizado
em Vila Cincinato, e o povo não tomou conhecimento
do fato.
Natal.
04.07.85
Clóvis
Travassos Sarinho
FUZILAMENTOS
Terceira e última parte da transcrição
do capítulo “1935, novembro: O Levante
de Natal (Giocondo Dias: Os objetivos dos comunistas,
Editora Novos Rumos, São Paulo, 1983).
As transcrições foram publicadas
nas edições de O Poti, de 23.06,
30.06 e 07.07.85.
Embora as comunicações na época
devessem ser bem difíceis, Natal já
estava derrotada quando o Rio de Janeiro sublevou-se,
não é verdade?
Giocondo – Acredito que sim. Nós
sabíamos – reafirmo – que Natal
sozinha não resistiria. Por isso, procuramos
espraiar nossa ajuda para outros Estados. Nós
tínhamos consciência de que o que
decidia era Recife, coisa que a reação
também sabia. Antes de nos atacar, ela
fez convergirem forças para Recife.
Quando solicitado a contar coisas interessantes
sobre o levante em Natal, Giocondo disse que “algo
muito divulgado foi a difamação
de que teríamos executado fuzilamentos.
O que aconteceu foi o seguinte: quando eu resolvi
sair do hospital e cheguei ao quartel, o Cabo
Carneiro, que era uma das pessoas mais ativas,
um homenzarrão forte e violento, chegou
para mim e disse: - O quartel de Polícia
está resistindo, eu vou desertar...
Avisou que ia desertar!
Giocondo – É, avisou que ia cair
fora, com fulano e sicrano. Eu disse: - não
faça uma coisa dessas. Logo após,
fui ao Quintino, que era um homem muito bonachão,
e falei: - olhe, o Carneiro disse que vai desertar,
com fulano e sicrano, etc... É melhor você
prender ele logo. O Quintino foi ao Carneiro:
- Vê se larga desta idéia de deserção
porque o homem (era eu) levou um tiro na cabeça
e manda lhe fuzilar. Foi ai que ele desertou mesmo.
Ele foi até bom, podia ter me matado, eu
estava desarmado... Ele desertou com os outros.
Minha atividade foi a de passar um telegrama para
um sargento que estava em Panelas, município
perto de Natal, dizendo: Prenda fulano, sicrano
e beltrano e fuzilem-nos. E assinei. Ora, este
telegrama serviu de pretexto para dizerem que
eu tinha ordenado fuzilamentos em geral...”
Mais detalhes sobre “Um depoimento Político
– 1935, novembro: o levante de Natal”,
está no livro “Os objetivos dos comunistas”.
(Endereço da Editora Novos Rumos Ltda:
Praça Dom José Gaspar, 30, 21º
andar, SP, CEP. 0147 – telefone (011)231-2538.
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