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Insurreição Comunista de 1935
em Natal e Rio Grande do Norte

 

A Revolta Comunista de 1935 em Natal
Relatos de Insurreição que gerou o primeiro soviete nas Américas
Luiz Gonzaga Cortez

 

 

 

 

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06. Dias: Igreja não combateu o levante

Nesta reportagem sobre o comunismo no RN, publicamos a segunda parte das transcrições dos documentos dos chefes do PCB, apreendidas pela Polícia do então Distrito Federal (RJ) sobre a revolução de novembro de 1935 (Documentos G-C, p. 70 excertos da publicação “Arquivos da Delegacia Especial de Segurança Política e Social. Volume III - Polícia Civil do Distrito Federal - Rio” - 1938 - Cópias xerografadas do Arquivo Particular de João Alfredo Lima. O comunista Santa, conta mais detalhes sobre os últimos dias da rebelião de novembro de 35, em Natal, inclusive sobre a prisão dos auxiliares do governador Rafael Fernandes num navio mexicano. Na segunda parte da entrevista de Giocondo Dias, ele revelou os nomes de quase todos os membros da Junta Governativa de 35, mas afirmou não se lembrar do nome do sapateiro José Praxedes. Será que Praxedes, nos 49 anos de clandestinidade permaneceu ligado ao pessoal do PC do B? Teria sido esse o motivo do “esquecimento” de Giocondo? Não sabemos.


A VERSÃO DO CHEFE DO PCB SOBRE AS CAUSAS DA REVOLUÇÃO DE NOVEMBRO DE 35, EM NATAL (II)

Na entrevista que concedeu em 1981, aos três jornalistas de São Paulo, o secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, Giocondo Gerbasi Alves Dias, um dos líderes da revolução de novembro de 1935, em Natal, disse que servia em Manaus quando recebeu o primeiro convite para participar de uma conspiração que visava a instalação de uma ditadura militar - “para acabar com a corrupção” -, que seria estabelecida por descontentes com a Revolução de 30.

Na verdade, a gente não tinha a mínima noção do que significaria uma ditadura militar. Quando surge a ANL, fomos convocados para uma reunião na casa de um companheiro chamado Euclides, que era primeiro-sargento. Naquela ocasião, o capitão Otacílio de Lima fez uma exposição sobre a Aliança Nacional Libertadora. Quando ficaram sabendo das ligações com os comunistas, todos pularam fora, menos eu. Eu disse na hora que era comunista e que estava de acordo com a coisa.

- E de onde é que você tirou isso?

Giocondo - Quando eu trabalhava, conheci um cidadão que vinha do Rio de Janeiro, que tinha ido à Bahia para tratar-se de uma tuberculose: Aluízio Campos. Esse homem era do partido e foi candidato a deputado federal, na Bahia, pelo Bloco Operário e Camponês. Foi dele que recebi as primeiras noções - bem vagas, aliás - sobre o comunismo. Ele defendia a criação das Repúblicas Socialistas da América do Sul, com a capital em La Paz. Se havia a URSS, com a capital em Moscou, no nosso caso a capital deveria ser em La Paz, o centro da América, o coração do continente - era a loucura total. Este camarada conversava muito comigo. Por outro lado, nessa época, o partido imprimia um jornal diário. A Nação.

- Um jornal do Rio, do Leonidas Rezende.

Giocondo - Sim. Este jornal vinha pelos navios Ita e pelo Lóide, chegava com um ou dois dias de atraso. O Aluízio Campos, que o recebia, me dava o jornal - trabalhávamos no mesmo escritório - para vender - o que eu ganhasse, ficava para mim. Só que ninguém queria comprar o jornal, aliás não o queriam nem de graça, de puro medo... De qualquer modo, a coisa foi ficando na minha cabeça. Aluízio conversava comigo, eu ia aos comícios dele. Eram comícios pequenos, no máximo quinze pessoas ouvindo a sua vozinha fraca. Foi com ele que fui ao primeiro sindicato da minha vida, o dos padeiros. Não tinha nem móveis... Os sindicatos desta época não recolhiam o imposto sindical. Eu já me julgava comunista e, naturalmente, fui um dos entusiastas da revolução da Aliança Liberal. Quando surgiu depois, um cidadão dizendo que a ANL era contra o imperialismo, contra o pagamento da dívida externa, pela distribuição das terras...

- Você embarcou logo...

Giocondo - Eu achei formidável. Aí começamos o trabalho de recrutamento do pessoal, dos cabos e sargentos para o movimento da ANL. Nesta época, entrei formalmente no partido: deram-me uma ficha, eu assinei. Para vocês verem como era a coisa, nós recrutamos todos os cabos do batalhão, menos dois, um porque era ex-integralista e o outro porque era o cabo do racho...

- O que significava ser o cabo do rancho?

Giocondo - O cabo responsável pela alimentação, que sempre é odiado por todo mundo, pois a alimentação era a pior possível. E toda a nossa agitação concentrava-se na denúncia das péssimas condições de alimentação...

- Partir das necessidades sentidas pelas massas...

Giocondo - Exatamente. Além disso, eu era admirado porque era branco, louro de olhos azuis e não tinha luxo. Eu fazia tudo o que os outros faziam. Para aqueles homens, em sua maioria vindos do campo, humilde, aquilo era algo extraordinário. Por outro lado, eu sabia ler e escrever.

- Isto não era comum entre os cabos?

Giocondo - O analfabetismo não era comum entre os cabos, mas grassava nos praças. Vocês podem imaginar o que era o analfabetismo no Brasil, naquela época.

- E então?

Giocondo - Naquele período foi organizado o partido no batalhão. Quem dirigia o trabalho era o Quintino Clementino de Barros, músico de primeira classe do Exército. Tinha 42 anos e era um intelectual, contador e velho conspirador. Era o único que tinha contato com a direção do partido. O trabalho político - como já disse - foi concentrado nos quartéis e não podia dar outra coisa do que deu, na medida em que fazer trabalho político, agitar um quartel é bem diferente do que fazer o mesmo em uma fábrica.

- Os seus companheiros de Natal não estavam investindo no trabalho de massa?

Giocondo - Estavam, mas isso é muito relativo. Vocês têm de levar em conta que a indústria de Natal era constituída de uma fábrica de cigarros e uma de sabão. Logo, todas as esperanças dos civis voltavam-se para o quartel. A agitação ligada às reivindicações mais sentidas dos praças...

- Quais eram elas?

Giocondo - Melhor bóia, acesso dos cabos e sargentos ao oficialato, direito de voto para os praças, direito de permanecer, de reengajar...

- O que significava esta reivindicação?

Giocondo - O cabo, depois de cinco anos no exército, era obrigado a dar baixa, a massa voltava-se contra isso, principalmente porque o desemprego na época era grande. Então, a conspiração, a movimentação cresceu em tono destas e de outras reivindicações.

- E na oficialidade, vocês não conseguiram adeptos?

Giocondo - Nós não tínhamos trabalho entre a oficialidade. Era orientação, e acredito que correta do ponto de vista conspirativo, esta linha de separar os praças da oficialidade. Só que, na hora do levante, nós prendemos todos os oficiais, inclusive os que eram da ANL.

- Vocês não sabiam quais eram?

Giocondo - Pelo menos a grande massa não sabia. Eu, por exemplo, sabia - havia um oficial da ANL que estava preso, mas de combinação com ele, preferimos que ficasse preso, para não dar na vista.

- Mudando de assunto, qual a sua opinião sobre a idéia de que o próprio Governo tenha colaborado para a precipitação do levante a 23 de novembro?

Giocondo - Não creio. Acredito, como já disse, que a explosividade da situação era grande. Houve, então, uma tentativa de desmobilização, de desarmamento do batalhão, e daí...

- ... O batalhão levantou-se...

Giocondo - Nós reunimos com a direção da ANL e eles achavam que deveríamos levantar o batalhão às duas horas da tarde. Nós discordamos disto. Tinha de ser às sete horas. E, efetivamente, não foi necessário sequer um tiro para tomarmos o batalhão. Nós éramos de tal forma organizados que a coisa não levou mais de 20 minutos.

- Mas esta orientação da ANL era só em função do clima local ou tinha ligação com uma conspiração a nível nacional? Isto é importante para a análise do fenômeno. Veja bem: Natal levantou-se, depois foram Recife e Rio de Janeiro, entre os dias 23 e 27. Por que é que Natal sai na frente dos outros, sem uma coordenação nacional?

Giocondo - O Gregório Bezerra, no livro dele, aborda direito esta questão. Havia uma apreciação exagerada em relação às possibilidades do movimento. A concepção era a da fagulha que incendeia, que gera a chama, até hoje utilizada pelos agrupamentos de ultra-esquerda. Isto é: levantando-se um setor ou batalhão, todos os outros se levantariam. E também nos diziam que havia outros batalhões em situação bem melhor que o nosso, no que se referia ao levante. E não era verdade. Nós éramos, efetivamente, um dos poucos batalhões onde havia trabalho. O 22º Batalhão de Caçadores da Paraíba, por exemplo, foi imediatamente mobilizado contra nós e acabou por nos abafar.

- E as mortes, Giocondo?

Giocondo - Antes de tudo, o seguinte: no batalhão não houve resistência, nós o tomamos sem um tiro. Tínhamos organizado a coisa de modo a que as autoridades fossem presas no teatro da cidade. Estavam todos lá, em uma comemoração: o governador, comandante do batalhão, da polícia, todos. Depois que nós tomássemos o batalhão, sairia um agrupamento para tomar o quartel da polícia, onde nós já tínhamos apoio no cabo da guarda. Aí também não seria necessário dar um tiro sequer. Em seguida, este agrupamento iria para o teatro, liberando os presentes, com exceção das autoridades. Ocorre que houve vacilação no grupo que deveria realizar a tomada do teatro. Ai me disseram: por que é que você não vai tomar o teatro? E eu fui. No caminho houve um tiroteio, um dos recrutas que ia conosco atirou num soldado da polícia, na Delegacia da rua São Tomé. No tiroteio fui ferido, levei três tiros e tive que ir ao hospital. O restante dos camaradas foram alertados e fugiram do teatro.

- Está bem, mas o Quartel da Polícia?

Giocondo - Esperam aí... os oficiais que estavam no teatro foram ao quartel da Polícia e do Exército. O sargento Amaro, comandante do grupo que ia tomar o quartel, começou a atirar antes de chegar lá, o que não fazia parte das instruções. Pelo contrário, ele devia ter ido calmamente e ocupado, pois teria o apoio do cabo da guarda. Com o ocorrido, houve tempo para os oficiais no teatro - em número de 19 - fossem para o quartel da polícia e para que o Governador se refugiasse no Consulado Chileno, indo após para um navio de guerra mexicano que estava no porto. Estes dezenove oficiais, o comandante da Polícia e muitos oficiais do exército comandaram a resistência no Quartel da Polícia, durante dezenove horas. Isto não estava previsto nos nossos planos. E eu no hospital...

- E como você conseguiu sair de lá?

Giocondo - De manhã cedo, quando os médicos me examinaram e verificaram que os ferimentos não tinham gravidade que se pensava, cai fora do hospital. Vi que podia andar e fui para o quartel.

- Você se lembra o nome de alguns dos oficiais que resistiram, e que depois tinham prosseguido na carreira militar?

Giocondo - Depois eu falo sobre este assunto. Voltando à resistência no quartel, nós nos defrontemos com alguns problemas. Não tínhamos munição para os morteiros e muito pouca para as metralhadoras. Começamos a assediar o Quartel da Polícia. Mas ele estava numa espécie de “ângulo morto”: as balas das metralhadoras não atingiam o alvo. Foi ai que eu discuti com o cabo Valverde - um dos homens mais valentes que eu conheci na minha vida, dois anos mais novo que eu -, e resolvemos cercar o quartel pelos fundos, pois tínhamos certeza que pela frente eles não poderiam fugir. A única possibilidade deles fugirem era pelos fundos, pelo esgoto que dava para o mar, para o mangue. Quando eles foram saindo, fomos prendendo. Daí esperamos: oficial de um lado, praça de outro. Estes últimos aderiram em massa ao movimento.

- E o que vocês fizeram com a oficialidade?

Giocondo - Levamos para o nosso quartel e prendemos no cassino dos oficiais. Nenhum dos que nós prendemos foi morto; aliás, nenhum oficial foi morto durante o movimento. Só soldados, alguns, dos dois lados, em combate. Este negócio de dizer que alguém morreu dormindo, isto é mentira. Por outra parte, nós éramos tão ingênuos que abordávamos a coisa apenas pelo lado humano. Os presos estavam apavorados e eu fui ao cassino falar com eles. O Chefe da Polícia, que estava preso, João Medeiros, veio a mim e disse: - “Estão ameaçando nossas vidas”. Respondi que todos eles estavam com a vida garantida, que seriam julgados por um Tribunal Popular, e quem não tivesse culpa no cartório não precisava se preocupar.

- Quando tempo durou essa “República Popular” que você ajudou a montar?

Giocondo - Três dias, de sábado à noite até terça-feira. A Junta Governativa era composta pelo Lauro Cortês Lago, diretor da Casa de Detenção, João Batista Galvão, advogado, José Macedo, tesoureiro dos Correios e por um sapateiro que não me recordo o nome, além do Quintino, que representava as Forças Armadas na Junta. Quintino era do partido.

- Que medidas a Junta tomou durante os três dias?

Giocondo - Decretou a Reforma Agrária. Foi editado um jornal “A Liberdade”, além de uma série de medidas que constavam no programa da ANL. Em relação à população, é preciso dizer o seguinte: não foi violado um único lar, não houve uma só prisão de civis. Houve o máximo respeito às liberdades democráticas.

- E a vida da cidade, como é que ficou?
Giocondo - Continuou normal. Na primeira noite, a massa foi para a praça pública, houve comícios. Depois a vida continuou normal, sendo que nós passamos a organizar o envio de colunas, por exemplo, no sentido do Ceará, para pegar os operários de Mossoró, Areia Branca, que era o maior núcleo operário do Rio Grande do Norte, os salineiros. Organizamos também uma outra, no sentido do interior do Rio Grande do Norte, além de uma terceira, para ajudar o pessoal de Pernambuco.

- Houve reação civil ao levante?

Giocondo - Não, não houve. Os representantes mais notórios da oligarquia sumiram do mapa.

- Mas vocês cercaram a cidade, fizeram barreiras para impedir a fuga dos usineiros?

Giocondo - Não, não houve nada disso... Nossa preocupação era avançar, pois sabíamos que Natal, sozinha, não resolveria o problema. Vejam bem a situação, queríamos mandar tropas para Pernambuco e não pudemos, pois o maquinista do trem sumira. Isto é exemplo da fraqueza de nossa organização.

- Conte algo sobre as reações dos vários setores da cidade...

Giocondo - Aconteceram coisas folclóricas. Um dia, por exemplo, estou lá no batalhão e me aparece um cidadão, grãn - finíssimo - chamavam-no de Visconde - que eu não conhecia. Dispôs-se a ajudar na manutenção dos carros que havíamos requisitado na cidade. Ele disse que os veículos estavam mal cuidados, sem lubrificação, que dentro em pouco quebrariam. Logo descobri: os dois carros dele estavam lá... Aceitamos a ajuda do sujeito. Em outra ocasião apareceram fornecedores, de pão e outras coisas, dispostos a regularizar o fornecimento. Como vocês vêem, a coisa estava legitimada.

- E em relação ao poder de decisão no quartel, como é que ficou?

Giocondo - Nós assumimos o controle. A maioria do batalhão era de recrutas, e da pior espécie: recrutas sorteados. O camarada vem do interior, a contragosto. A preocupação central dele é voltar, o mais cedo possível. Às vezes não sabe distinguir o pé direito do esquerdo. No momento em que fui ferido e abriu-se uma brecha, desertaram oitenta, logo na primeira noite. Minha mulher, já falecida, quando veio para a cidade, encontrou dois ou três soldados e perguntou o que é tinha havido; responderam que o batalhão tinha se levantado e eles estavam caindo fora. Ela perguntou por mim: “Ah, esse daí levou uns tiros”, ela passou-lhes uma descompostura...

- Ela estava sabendo do levante?

Giocondo - Que nada. Ainda teve o azar de perder a irmã na história. Quando a coitada foi avisá-la da coisa, passou em frente ao quartel e levou um tiro na cabeça. Minha cunhada foi uma das vítimas de 35; uma menina de 16 anos de idade.

- E as violações de lares, ex - propriações?

Giocondo - Não houve, nem uma coisa nem outra. No caso do banco - todo governo tem poder sobre o tesouro - a Junta pediu ao gerente do Banco do Brasil a chave do cofre. Apesar dele não ter dado, eles abriram-no e retiraram uma quantia que, para a época, era grande. O Gregório Bezerra conta isto nas memórias dele: um dos erros principais foi ter distribuído este dinheiro para parte dos participantes. No momento em que o sujeito sentiu-se dono de uma parcela de dinheiro, já foi começando a pensar na vida. Foi realmente um grande equívoco.

- E as tentativas de difamação do movimento?

Giocondo - Difundiram que tínhamos deflorado as filhas dos fazendeiros, que estudavam na Escola Doméstica. Os próprios pais das moças trataram de desmentir, e rápido. A verdade é que ninguém tinha passado nem perto do local. Outra coisa: o único carro que nós não requisitamos foi o do bispo, dom Marcolino Dantas. Por sinal, ele não se prestou a servir na luta contra nós, apesar da reação ter insistido. O único que prendemos foi o chefe da polícia.

- E a Igreja? Ela não tentou mobilizar-se contra o processo?

Giocondo - Não, que eu saiba não, apesar do bispo não ter nenhuma simpatia por nós. Depois da derrota ele deu, por outro lado, declarações anticomunistas: Sabem como é que é, na hora da baixa todo mundo põe a boca no trombone...

- Veja bem: Em jornais da época, lemos que, depois da retomada do poder na cidade, a Irmandade Do Sacramento já estaria coordenando uma marcha de agradecimento a Deus “pela derrota fragorosa do comunismo”. Reuniu-se o equivalente a um quilômetro de fiéis, com seus terços à mão, orando e praguejando contra o bolchevismo, sob o comando de Dom Marcolino Dantas. Ouviam-se tudo contado pela imprensa da época - “pesadas maldições contra os vermelhos”, com senhoras pedindo a forca para Luiz Carlos Prestes, implorando a Cristo que a “Rússia Soviética se transformasse em um montão de cinzas”. Exaltou-se, na passagem, “A coragem cívica do Governador do Papa, do clero em geral”. O que você diz sobre isto? (1)

Giocondo - Isto é natural que tenha acontecido, a partir da derrota do movimento. Agora, o que eu tenho certeza é que não conseguiram arrancar do Bispo nenhuma declaração de que nós teríamos cometido arbitrariedades ou tentado coagi-lo. Diferente de outras pessoas, com as quais nem sequer havíamos tido contato, e que passaram a posar de vítimas, a alardear sofrimentos inexistentes...”(Final da 2ª. Parte).


NOTA:

1- O professor Otto Guerra disse que não correram “maldições contra os vermelhos” ou “força para Luís Carlos Prestes”, na procissão realizada do bairro do Alecrim ao centro de Natal, após o fracasso da insurreição de Novembro de 1935. “Tudo mentira, pois participei da procissão e não vi nada disso”. (Otto Guerra, entrevista, Natal, 13.02.87).

Giocondo omitiu a reação dos seridoenses na Serra do Doutor, no município de Currais Novos, hoje encravado em Campo Redondo.

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