Insurreição
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte
A
Revolta Comunista de 1935 em Natal
Relatos
de Insurreição que gerou o primeiro
soviete nas Américas
Luiz Gonzaga Cortez
Nosso
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de Produção
03.
Mário Câmara não topou a revolução
O
ex-interventor (governador) do Estado do RN, Mário
Câmara que, em 14 de outubro de 1934, perdeu
a eleição para a Assembléia
Constituinte Estadual de 35 (ele integrava a Aliança
Social, uma coligação do Partido
Social Democrático e o Partido Social Nacionalista,
de Café Filho), foi acusado de covarde
ao recusar participar de um amplo movimento armado
para impedir a posse de Rafael Fernandes, considerada
pelos comunistas como o representante do reacionarismo
potiguar.
Rafael
Fernandes era do Partido Popular que elegeu 14
deputados e a Aliança Social 11, sendo
três do PSD (marista), Ciccinato Chaves
(que foi o proprietário da casa que viria
a ser a sede do governo revolucionário
popular de novembro de 1935), Djalma Marinho e
Felipe Guerra e oito do PSN, cafeísta:
Abelardo Calafange e Benedito Saldanha,, coronel
do Alto Oeste do RN e de Alto Santo, Ceará),
Gil Soares, José Lopes Varela, Amâncio
Leite (amigo de Benedito Saldanha). Raimundo Macedo,
Sandoval Wanderley e Maltez Fernandes. Os populistas
elegeram 14 deputados para a Constituinte Estadual,
obtendo maioria para eleger, via indireta, o governador
Rafael Fernandes, que tomaria posse em 1935. Devido
as fortes ligações com os comunistas
e os integrantes da Aliança Nacional Libertadora
(ANL), os maristas e cafeístas teriam sido
convidados para um golpe armado contra a oligarquia
do algodão do Seridó e seus aliados
da região salineira, cuja maior expressão
foi Rafael Fernandes.
É o que se depreende com a leitura de alguns
documentos apreendidos na casa de Luiz Carlos
Prestes, no Rio de Janeiro, em 1936, que constam
dos “Excertos da publicação:
Arquivos da Delegacia Especial de Segurança
Política e Social - Volume III - Polícia
Civil do Distrito Federal - Rio”. 1938.
Segundo cópias em poder de João
Alfredo, empresário gráfico de Natal,
os documentos foram apreendidos pela Polícia
do Distrito federal, a famigerada polícia
do nazista Felinto Müller, após a
intentona de novembro de 1935,” nos arquivos
dos chefes comunistas”.
O documento 36.C, datado de 31 de outubro de 1935,
Rio de Janeiro, trata-se de uma correspondência
de um dirigente do Partido Comunista do Brasil-PCB,
aos seus companheiros do Rio Grande do Norte.
É neste documento que Mário Câmara
é acusado de covardia pelos comunistas,
a vanguarda da ANL na ilegalidade.
Na íntegra, o documento diz o seguinte.
“ Companheiros do Rio grande do Norte. Confirmo
o recebimento da carta de 23.10.35 e nossa resposta
imediata de 28 do corrente. O essencial no momento
é desenvolver lutar independentes, ampliar
a nossa frente, aumentando nossas forças
com todos os desiludidos com a covardia de Câmara
e seus sequazes. São os magníficos
primeiros passos dados com a formação
da Frente Democrática pelas Liberdades
Populares, convocação e realização
de comícios em Natal etc. Compreendemos
o quanto é séria e perigosa a atual
situação estadual e estamos de inteiro
acordo com vocês, quando afirmam que não
podermos deixar de ocupar as posições
de vanguarda nas lutas populares que se avizinham.
Ninguém pode ser contrário ao começo
de grandes lutas armadas justamente no Rio Grande
do Norte e seria oportunismo de pior espécie
refrear as lutas populares sob o pretexto que
não é ainda possível começar
no resto do país. Precisamos estar à
frente do Povo e dirigi-los nas suas lutas. Nada
de passividade nem de oportunismo. O que nós
sempre combatemos foi o golpismo, a tendência
de seguir os elementos golpistas de um ou de outro
partido revolucionário.
Pela carta de vocês, compreendemos que o
que se passa atualmente no Estado, é coisa
já diferente. Os elementos combativos de
Mário Câmara e Café Filho,
estão desiludidos com os seus chefes e
ameaçados pela reação e pela
fome, querendo tomar armas contra o novo governo.
Ao mesmo tempo toda a polícia está
ameaçada de ser desarmada ou ter seus quadros
dirigentes substituídos por pessoas de
confiança dos novos governistas. As informações
enviadas não são suficientes para
que possamos ter um quadro mais exato da situação,
mas pelo que conhecemos compreendemos quanto é
séria a situação. Para a
ANL, ainda não é conveniente tentar
um grande movimento nacional nem mesmo precipitar
os outros Estados do Nordeste. Sem uma ação
simultânea nos outros Estados não
acreditamos que seja viável nem oportuno
lançar no Rio Grande do Norte a palavra
de ordem da tomada imediata do poder. Há
muitos elementos militares, especialmente oficiais
do Exército, aliancistas, sinceros revolucionários
que só acompanharão um movimento
de caráter nacional ou pelo menos de grande
envergadura abarcando um certo número de
outros Estados. Ora, atualmente encontra-se em
Natal uma forte concentração de
forças do Exército e lá também
se acha o próprio comandante da Região,
Gal Rabelo.
Nessas condições não nos
seria favorável lutar, logo de início
contra os soldados do Exército. Mas mesmo
sem lançar como palavra de ordem imediata
tomada do poder pela ANL no Estado devemos, sem
nenhum receio, dirigir e estar à frente
de todos os que quiserem lutar contra a reação,
pelas liberdades populares, civis e militares.
Caso na Polícia Estadual e na Guarda Civil
haja um ambiente contrário ao novo governo
assim como ameaça de expulsões,
devemos corajosamente lançar a palavra
de ordem de não entregar as armas, palavra
de ordem de revolta imediata contra os novos dominadores.
Se as forças militares de que dispomos
forem suficientes para dominar na capital, o que
não supomos, será então o
caso de organizar o nosso governo. Mas se as nossas
forças forem relativamente pequenas e não
contarem com o apoio do Exército, devem
tomar as armas e munição e marchar
para o interior do Estado. Neste último
caso a luta deve ser justificada pela necessidade
de impedir a expulsão dos oficiais e soldados
aliancistas das fileiras da Polícia, assim
como em defesa dos direitos populares. Em muitos
pontos de interior será então possível
tomar o poder e organizar o governo popular. Tais
governos devem ser ocupados pelas pessoas de maior
prestígio popular em cada localidade e
em nenhuma hipótese devem ser denominados
de governos soviéticos. Devem ser governos
genuinamente populares que executem imediatamente
uma série de medidas em benefício
do povo, contra a imperialismo e os grandes proprietários
mais reacionários. E será indispensável
evitar todo e qualquer esquerdismo numa ação
de tais governos locais, porque, como primeiros
que organizamos no país, devem bem refletir
o programa popular amplo da ANL, desmascarando
os que dizem ser a ANL uma simples máscara
do Partido Comunista. Enfim, o que queremos dizer
é que a tentativa do novo governo de nos
desarmar deve e pode ser respondida com grandes
lutas. É indispensável que os companheiros
compreendam a possibilidade de lutas armadas e
mesmo de revoltas militares, independentemente
da questão de poder em todo o Estado. Tais
lutas terão uma grande importância
principalmente se as soubermos ligar com as lutas
dos sertanejos e sua repercussão em todo
o país precipitará o lançamento
da palavra de ordem da insurreição
no resto do país.
Qualquer que seja a situação devemos
utilizá-la ao mais possível para
ganhar para a ANL, a grande maioria dos partidários
de Câmara e Café Filho, devemos reforçar
o nosso trabalho no interior, organizar os sertanejos
de dirigir suas lutas sem medo que eles se transformem
em lutas armadas, defender as liberdades populares,
os direitos dos funcionários ameaçados
pelo novo governo, assim como fazer o possível
para que os nossos elementos na Polícia
Militar não entreguem suas armas, preferindo
a revolta armada à expulsão.
Nas condições atuais do Brasil não
é aventura ter a coragem de iniciar lutas
armadas independentemente do resto do País.
Marchamos aceleradamente para o momento da insurreição
no conjunto nacional e não temos o direito
de, a espera de tal momento, sacrificar as posições
que já possuímos num ou outro ponto.
São muitas as formas de lutas anteriores
à insurreição e a todas elas
nos devemos lançar corajosamente. Faremos
o possível para enviar o quanto antes até
ai um companheiro da Diretoria Nacional com as
últimas instruções. Vocês
precisam nos manter a par de tudo que se for por
aí passando”.
CHEFES DA ANL NÃO QUERIAM UM GOLPE
MILITAR EM 35
O documento n.º 85-C sobre a Aliança
Nacional Libertadora e a situação
política no Rio Grande do Norte é
uma correspondência endereçada por
um dirigente do Partido Comunista do Brasil -
PCB, residente no Rio de Janeiro, a um aliancista
de Natal. O documento é do segundo semestre
de 1935 e tem o timbre confidencial, segundo se
deduz de uma cópia da transcrição
dos ‘Excertos da publicação
do Departamento de Polícia Especial do
Distrito Federal, de 1938, republicado pela Imprensa
Oficial do RN em 1938. Os documentos da ANL e
do PCB foram apreendidos em 1936 nas residências
dos chefes das duas organizações
que lutavam contra Getúlio Vargas, que
veio se tornar mais autoritário e desumano
após o golpe de novembro de 1937, com o
famoso golpe militar que implantou o “Estado
Novo” no Brasil, modelo tupiniquim do fascismo
europeu, elaborado por Francisco Campos e outros
fascistas caboclos.
O documento relata as negociações
mantidas pelos comunistas e aliancistas com os
políticos da Aliança Social, agrupamento
que reunia os seguidores de Mário Câmara
e Café Filho, no Rio Grande do Norte.
Eis a transcrição do Documento 85-C
DOCUMENTO
85-C
“A
ANL e a situação política
no Estado do Rio Grande do Norte. (Confidencial).
3) Frente a vitória eleitoral reconhecida
pelo Tribunal Superior Eleitoral ao Partido Populista,
alguns chefes do bloco Câmara-Café
Filho ameaçam desencadear lutas armadas
e não permitir a posse de um governo populista.
Tudo indica além disso que o próprio
Câmara e os elementos mais racionários
de seu partido já se dispõem a entregar
pacificamente o poder. É necessário
utilizar este momento para ganhar para a ANL,
os melhores elementos que ainda confiam em Câmara
ou nos seus elementos, que dizem que vão
lutar contra a implantação de um
governo ainda mais reacionário do que o
atual no Rio Grande do Norte. Deve chamar as massas
populares inclusive as que ainda seguem os dois
partidos em luta para demonstrarem na rua a sua
vontade de luta contra a reação
e pelos direitos democráticos mais elementares,
direito de reunião, de palavra falada ou
escrita. Pela legalidade da ANL, pelo desarmamento
dos bandos integralistas. Chamar, em apelos e
manifestos, os elementos de esquerda dos dois
partidos a declararem sua adesão a tais
manifestações. A ANL precisa declarar
que apoiará, nas condições
atuais qualquer governo que se disponha a garantir
os direitos democráticos populares, a desarmar
os bandos integralistas e de capangas dos grandes
proprietários, a garantir a legalidade
para a ANL e para todas as organizações
operárias, camponeses e populares. Na base
de uma tal declaração, desmascarar
a Câmara e os demais chefes reacionários
de seu partido que, com medo do povo, entregam
pacificamente o poder ao governo reacionário.
Com os elementos do partido de Câmara-Café
Filho que se dispunham a lutar com a ANL em frente
única na base do programa, organizar imediatamente
grandes manifestações em todo o
Estado, aproveitando as circunstâncias favoráveis
para que a ANL apareça em público,
ganhe a rua e propague o seu programa (o do manifesto
de Prestes a 5 de julho), o único que realmente
acabará com a situação de
miséria e de reação e que
só poderá ser executado pelo governo
popular nacional revolucionário com Prestes
à frente.
4) Muitos chefes do partido camarista só
querem saber porém se a ANL os acompanhará
em qualquer golpe militar contra a implantação
de um governo populista no Estado. Devemos mostrar
aos homens honestos como será contraproducente
uma luta militar restrita ao Estado do Rio Grande
do Norte e mesmo aos estados do Norte, mas que
se eles não querem acompanhar a ANL no
trabalho de propagação de massas
para uma luta em todo Brasil podem, no entanto,
estar certos de que a ANL não ficará
noutra frente a um golpe armado no Estado, tomando
naturalmente posição ao lado do
povo contra qualquer governo reacionário,
por um governo que se declare e dê as necessárias
garantias de que será, antifascista, que
dará legalidade a ANL, etc. Mas se tais
elementos querem realmente lutar devem começar
por armar o povo, fazer declarações
públicas no sentido de que permitirão
a atividade legal da ANL e dos sindicatos - que
exigirão o desarmamento dos bandos integralistas.
Os aliancistas devem conhecer todas as tentativas
de luta armada no Estado e sem se deixarem arrastar
nos golpes militares, precisam realmente mobilizar
as massas para uma atividade independente, preparando
greves, demonstrações, etc, através
das quais conseguirão no momento de uma
luta armada exigir a execução de
promessas, defender as reivindicações
das massas, exigir o desarmamento dos bandos integralistas,
a legalidade para a ANL, etc .................................................................................
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