Capitulo
V
Revisão crítica da Bibliografia
sobre a insurreição de novembro
de 1935 em Natal
5.3
- Alguns equívocos
Entre a bibliografia publicada
no Brasil que faz referências aos
acontecimentos de Natal, há algumas
completamente delirantes. É o caso
de Boris Koval, que entre outras coisas,
diz “... os primeiros a se levantarem
foram os operários e soldados revolucionários
do nordeste(...) os comunistas e aliancistas
tinham ali posições sólidas
em 52 sindicatos, o que desempenhou um importante
papel no movimento grevista de massa (...)
o governo popular revolucionário
de Natal tentou desde o início atrair
amplas massas da população
para a defesa da cidade contra as tropas
de Vargas, o que deu certos resultados.
Muitas organizações sindicais
operárias, intelectuais progressistas
e estudantes apoiaram ativamente os revoltosos
e lutaram de armas contra as forças
contra-revolucionárias”(Koval,
l982, p. 310)
Alguns autores vão
atribuir a ex-integrantes da guarda-civil,
extinta pelo governador pouco antes da insurreição
com 420 homens, um papel relevante para
o desencadeamento da insurreição.
Entre eles Robert Levine,
que diz “... em um ato que teria graves
consquências o governador do estado
exonerou sem aviso ou compensação
420 membros da guarda-civil, mas não
desarmou os homens. E estes, incapazes de
conseguir outro emprego, passaram a rondar
as ruas de Natal, sem destino certo”(Levine,
1980, p. 162 )Outros são José
Murilo de Carvalho : “... em Natal,
o 21 BC é sublevado por praças
que dominam com facilidade o batalhão,
unindo-se aos revoltosos, cerca de 200 elementos
da guarda-civil(Carvalho, l980, p. 177)
e José Praxedes que afirma “
eles ficaram insuflando o 21 BC a se insurgir”(Oliveira
Filho, l985, p.56 ).
No entanto, a consulta
aos autos dos processos do tribunal de Segurança
Nacional mostra que o número de guardas-civis
que foram idiciados, presos e condenados
é insignificante, considerando o
número dos demitidos(ver relação
completa anexo) .Apenas 20 são indiciados,
dos quais 11 participam mais ativamente,
sendo condenados a penas que variam de 4
a 8 anos de prisão (um é condenado
a 8 anos,dois a 4 anos e 6 meses; três
a 5 anos e cinco a 5 anos e 6 meses )
Paulo Sérgio Pinheiro
diz que “não mais de 300 pessoas
participaram do tumulto” e mais adiante
“ ... a junta, sem fundos(os produtos
dos saques jamais chegaram as suas mãos),
sem condições de conter os
excessos, tomando conhecimento do fracasso
da rebelião em Recife, se rende em
poucos dias”( Pinheiro, 1987, p. 590-591
). Como vimos, são indiciadas l039
pessoas. E quanto ao dinheiro que não
teria chegado à junta, conforme relatamos,
não só chegaram como ,quando
são presos carregam consigo grande
somas de dinheiro. E não se rendem.
Fogem como podem e são presos por
tropas policiais de outros Estados que se
dirigiam à Natal.
Fernando Morais, ao se
referir ao levante do 21 BC afirma que ele
teria se rebelado ao meio dia e que o governador
, seu secretário e policiais de plantão
e os oficiais que se encontravam fora do
quartel “se dividiram na fuga : parte
escondeu-se na casa do Consul honorário
do Chile, alguns se espremeram no avião
Croix du Sud da Companhia Letecere, que
estava na cidade” e que “os
oficiais presos foram encarcerados em navios
que se encontravam atracados no porto”e
ainda que “cofres dos bancos foram
arrombados e o dinheiro (...) distribuidos
entre a população”e
que “a zona liberada estendeu-se por
mais meia duzia de municipios do interior
(Moraes, l985, pp. 94-96). Há vários
erros. O quartel não se rebela ao
meio dia, mas às 19:30. Pode ser
um pequeno detalhe, mas é importante.
Se fosse ao meio -dia, é muito provável
que não tivesse o desfecho que teve.
O Governador e seu secretário (Aldo
Fernandes) e não o secretariado,
ficam a primeira noite(23 de novembro) na
casa de um amigo, Xavier de Miranda, nas
proximidades do teatro. E se asila na residência
de Guilherme Letiere, consul italiano. Os
policiais que estavam de plantão
nas delegacias foram presos pelos insurretos
e no dia do levante haviam apenas dois aviões
no aeroporto, um dos primeiros lugares a
ser ocupado, impossibilitando o seu uso
para fugas. Quanto aos oficiais, foram presos
e encarcerados no próprio 21 BC e
só na madrugada do dia 27 de novembro,
quando a junta decide fugir, é que
são transferidos, junto com outros
presos, para a bordo do navio mexicano G-24.”O
dinheiro arrecadado pela junta não
foi distribuido a população(embora
muitos tenham sido encontrados com dinheiro
resultado dos arrombamentos dos bancos e
arrecadações feitas no interior
do Estado), e finalmente o número
de municipios não foi “meia
duzia”e sim 17.
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