Capitulo
III
A Insurreição de novembro
de 1935
3.6
- A articulação dos levantes
nos quartéis do Nordeste
3.6.1 - Paraíba
A leitura dos autos dos
processos do Tribunal de Segurança
Nacional referentes a Paraíba demonstra
que havia um plano para um levante que começaria
no 22 Batalhão de Caçadores,
aquartelado em João Pessoa. A articulação
com alguns militares desse quartel se deu
através do capitão Otacilio
Alves, do 29 BC de Recife, que se deslocava
com frequência para João Pessoa.
O plano para o levante
na Paraíba foi elaborado em Recife
e continha os detalhes da tomada do quartel
e ocupação de lugares estratégicos
da cidade de João Pessoa. Foi enviado
ao Dr. João Santa Cruz de Oliveira,
ex-presidente da ANL da Paraíba pelo
capitão Otacilio Alves, tendo sido
portador o tenente José Cassiano
de Melo (da bateria de artilharia do Quartel
de Dorso).O Dr. Santa Cruz não foi
localizado e o documento foi entregue a
Antonio Pereira Araújo, militante
do partido comunista, que sua vez entregou
a Elias Gomes Araújo, o secretário
geral do partido comunista na Paraíba.
O plano consistia na tomada do 22 Batalhão
de Caçadores e do vizinho municipio
de Gramame, onde o partido desenvolvia um
trabalho de arregimentação
entre os camponeses.
O partido se reune para
discutir o documento. Manoel Miranda é
destacado para Cabedelo , municipio a poucos
quilometros de João Pessoa, onde
o partido já tinha organizado algumas
células. Severino Diogo foi destacado
para organizar uma greve em Santa Rita,
Miguel “Barbeiro para armar e organizar
os camponeses em Gramame, contando com as
células já formadas., Gabriel
Alves deveria se deslocar para Jaguaribe,
onde o partido também tinha células
entre os camponeses e José Pedro,
com a mesma finalidade, no municipio de
Cruz das Almas. Em João Pessoa o
partido deveria concentrar os esforços
no 22 Batalhão de Caçadores
e no cais do porto, através do estivador
Manoel Fagundes, de grande liderança
entre a categoria, com o objetivo de impedir
a saída ou entrada de navios na cidade.
No dia 24 de novembro,
com as noticias dos acontecimentos de Natal,
que os pegam de surpresa, o partido se reune
em caráter de urgência. A reunião
é realizada na casa de Elias Araújo
e participam dela: João Domingos,
Marcos Evangelista, João Santa Cruz
Oliveira , Manoel Dias Parente, Antonio
Pereira e Luiz Gomes da Silva (secretário
da comissão camponesa do PC na Paraíba).
A avaliação, consensual, era
de que, se não se rebelasem de imediato,
o exército entraria de prontidão
, a policia militar e civil seriam mobilizadas
e isso inviabilizaria qualquer possibilidade
de levante. O que deveriam fazer de imediato
era mobilizar seus militantes e estabelecer
contatos com os militares do 22 BC comprometidos
com o levante (não haviam militares
presentes à reunião).
José Pedro, que
havia ficado de ir para Cruz das Almas avalia
que o mais importante naquelas circunstâncias
era concentrar os esforços na capital
e seu argumento prevaleceu. Ele mesmo consegue
ainda mobilizar e armar cerca de 200 homens
que se concentram por trás do quartel
do 22 BC. O estivador Manoel Fagundes conseguiu
reunir cerca de 90 homens, prontos para
invadirem o quartel. Aguardavam apenas as
ordens. No entanto, elas não vieram.
Ao ser informado dos acontecimentos em Natal,
o comandante do 22 BC põe o quartel
em prontidão ainda na madrugada do
dia 24 de novembro,o que impossibilitou
contatos com os que estavam comprometidos
com o levante dentro do quartel. Embora
os esforços fossem concentrados na
capital, não impediu que ocorressem
tentativas em cidades do interior do Estado,
como foi o caso de Gramame. Conforme o relatório
da policia, nesta cidade “...verificou-se
um começo de levante armado feito
por operários que, de muito, vinham
sendo trabalhado por agitações
comunistas”. O partido comunista,
através do camponês João
José consegue mobilizar cerca de
200 homens que invadem a delegacia local,
recolhendo as armas dos policiais e prendendo-os.
Entretanto, têm informações
de que o 22 BC estava de prontidão
e o plano de sua invasão se tornara
inviável. Os que haviam sido mobilizados
e se colocados para as imediações
do quartel são orientados a se dispensarem,
a fim de não levantarem suspeitas.
Não resta outra alternativa quer
não a desmobilização
e a fuga. Com a repressão policial
e a descoberta do plano , 101 pessoas são
indiciadas ,processadas e julgadas pelo
Tribunal de Segurança Nacional.
Fica evidente que a articulação
de levantes, tanto na capital quanto no
interior, foi feita pelo partido comunista
e não pela Aliança Nacional
Libertadora. O partido tinha uma inegável
inserção entre algumas categorias
de trabalhadores, expressa na rápida
mobilização. No relatório
policial consta que “... das investigações
procedentes ficou apurado não ser
por demais estreito o quadro de adeptos
do credo moscovita na capital da Paraíba(...)
quase todos antigos partidários da
ANL, com a extinção desta,
serviam nas fileiras do exército
de Moscou”.
ANL, desde sua formação
em abril de 1935, não teve um grande
número de adeptos, tanto na capital
quanto no interior do Estado. Em João
Pessoa, consegue montar um pequeno diretório
tendo como presidente João Santa
Cruz de Oliveira, que era militante do partido
comunista. Durante a legalidade, realizou
algumas reuniões públicas,
que não contaram com uma presença
muito significativa de pessoas. Com a ilegalidade,
se restringe aos militantes do partido comunista.
Este, bem mais organizado, tinha várias
células tanto na capital quanto em
vários municipios “...disseminando-se
por todos os bairros e irradiando-se até
Santa Rita e Campina Grande ”(45).
Dentre as células mais atuantes destacam-se
as de Jaguaribe, Torelândia, Rogers,
Piragibe e Boca da Mata.
Notas
45 - Auto
dos processos do Tribunal de Segurança
Nacional relativo à Paraíba.
Relatório policial, I volume, Arquivo
Nacional, Rio de Janeiro.
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