Insurreição
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte
A
Insurreição Comunista de 1935 –
Natal, o primeiro Ato da Tragédia
Homero de Oliveira Costa
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Capítulo
I
Algumas considerações sobre
as relações entre o partido
comunista do Brasil e a III Internacional
Comunista
1.1
- O Partido comunista do Brasil e a III
Internacional Comunista
Há
uma tese amplamente consagrada pela historiografia,
apoiada por um respeitável acervo
empírico(depoimentos, escritos dos
dirigentes,etc) que mostra como desde as
suas origens há uma vinculação
orgânica entre o Partido comunista
do Brasil e a III Internacional comunista.
Michel Zaidan Filho é dos estudiosos
desse período o que tem questionado
esta tese de forma mais consistente. Para
ele o próprio legado anarco-sindicalista,
de onde saem alguns militantes que irão
fundar o partido comunista em março
de l922, já é um problema
em si mesmo, dado seu ecletismo ideológico
e sua forma de recepção nos
meios operários brasileiro. Sua tese
é que o PC do B irá desenvolver
uma reflexão original nos anos l920,
vinculada à realidade brasileira
e não mera transposição
das orientações da III Internacional.
Salienta os aspectos nacionais da elaboração
teórico-politica dos comunistas brasileiros
e que “o caráter da sujeição
do PCB em relação a Internacional
Comunista, deve ser entendido mais em função
das carências teóricas e políticas
dos brasileiros do que da ingerência
burocrática , mecânica e estrangeira
do COMITERN na vida do partido”e continua
“é preciso lembrar que o PCB
nasceu à margem da IC, tendo procurado
o seu reconhecimento junto a ela através
de uma delegação ao IV congresso
do COMITERN, nos meses de novembro e dezembro
de l922, e que mesmo assim só foi
aceito como membro efetivo de suas fileiras
em principios de 1924”( Zaidan Filho,
l980, p.121). No entanto ele mesmo reconhecerá
que a partir do VI Congresso III Internacional
Comunista, realizado em 1928, passa a haver
uma influência decisiva da IC em relação
não apenas ao PC do B como aos demais
partidos comunistas a ela filiados.
Quanto aos aspectos nacionais na elaboração
teórica por parte do PC do B, é
de se reconhecer o esforço por parte
de alguns intelectuais, como é o
caso por exemplo de Octávio Brandão,
de aplicar algumas categorias do marxismo
para à compreensão da realidade
brasileira(2) daí
não se poder simplesmente reduzir
a relação entre o PC do B
e a III Internacional Comunistas à
imposição de suas determinações
. Mas é inegável que essas
relações existiam. Não
por acaso quando da realização
do congresso de fundação do
PC do B, em março de l922, o primeiro
ponto de pauta a ser discutido são
exatamente as 21 condições
que a III IC havia estabelecido para os
partidos comunistas que a ela se filiassem
(3).
Marcos Del Royo num estudo a respeito das
alianças políticas do PC do
B (l927 a l935) diz “... entre l927
e meados de 1929 vinha se formando no PCB
um grupo dirigente, ao mesmo tempo que,
de modo relativamente autônomo, procurava-se
formular teoricamente um projeto revolucionário
centrado na classe operária, buscando
compreender os mecanismos da crise de dominação
oligárquica. Essa relativa autonomia
de elaboração da linha política
em relação ao IC terminou
no momento que se estabeleceu a ditadura
stalinista na União Soviética
em meados de l929, estendida às seções
da IC na mesma época em que aumentava
o interesse pela América Latina e
particularmente pelo Brasil “(Del
Royo, l990,p.15 ).
Paulo Sérgio Pinheiro, apoiado numa
extensa bibliografia e documentos da III
Internacional Comunista, ao mesmo tempo
em que mostra como se dá o vínculo
entre ambos, amplia as versões conhecidas,
inserindo a análise em dois contextos
distintos: o movimento comunista internacional
e o sistema político nacional, mostrando
que apesar da influência da URSS havia
durante toda a evolução do
movimento comunista no Brasil inúmeros
sinais da tentativa de levar em conta a
realidade nacional”(Pinheiro,1987,
introdução) e reconstitui
o quadro em que essa articulação
se dá: o papel do COMITERN; o contexto
da guerra civil sobredeterminando a organização
da Internacional Comunista e seu funcionamento,
rastreando com muita propriedade os primeiros
contatos da IC com os partidos comunistas
latino-americanos e , com riqueza de detalhes,
a fundação tanto da III Internacional
comunista quanto do partido comunista do
Brasil.
O que nos interessa destacar é que,
em que pesem alguns esforços de elaboração
teórica por parte de intelectuais
comunistas e certa autonomia do PC do B
nesse sentido, a partir de l928 e até
l935 as inflexões da IC na determinação
da linha política do PC do B serão
decisivas.Como afirma Pinheiro “...
após a realização desse
congresso (VI) é possível
compreender a escolha feita pelos comunistas(e
pela IC)(...)que determinarão de
alguma forma a sucessão de eventos
até 1935 - tanto no formato da ANL,
como na insurreição armada”(1987,p.12)e
completa “...feita o curso da pesquisa,
nos surpreendemos ainda, na comparação
com outros partidos comunistas, como pesou
a orientação do COMITERN nas
principais e cruciais decisões do
(PC do B) entre l928 e l935”(1987,apresentação)
Notas
2
- Otavio Brandão é autor de
diversas obras, mas seu estudo pioneiro,
tentando aplicar as categorias do marxismo
à realidade brasileira é “Agrarismo
e Industrialismo: ensaios marxista-leninista
sobre a revolta de São Paulo e a
guerra de classes no Brasil.”Buenos
Aires, 1926
3 - Para maiores detalhes,
ver Astrogildo Pereira “Ensaios históricos
e políticos”São Paulo,
Alfa Ômega, l979 e o depoimento de
Cristiano Cordeiro in “Memória
e História No.2” São
Paulo, Livraria Editora Ciências Humanas,
l982
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