Insurreição
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte
1935
Setenta anos depois
Isaura Amélia Rosado Maia
e Laélio Ferreira de Melo (Organizadores)
Nosso
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Deixando
a metáfora de lado
Roberto Monte
Homenageio, inicialmente, o nosso companheiro
Francisco Meneleu dos Santos e sua companheira,
dona Lourdes. Meneleu, é um grande prazer
você estar sempre conosco, aqui em Natal,
em eventos desta natureza, que alude a trajetória
de vida de todos nós. Temos você,
como tantos outros companheiros, na verdade, como
uma memória viva, testemunha dos acontecimentos
de 1935.
O
Centro de Direitos Humanos e Memória Popular,
que represento, sempre trabalhou com o que ocorreu
em 1935 dentro de uma visão humanística,
numa perspectiva de direitos humanos.
Quando
falamos de 1935, também falamos da Confederação
do Equador, falamos na Inconfidência Mineira,
em Canudos, da Campanha do Petróleo é
Nosso, da luta contra o nazi-fascismo, da Campanha
De Pé no Chão Também se Aprende
a Ler, a luta armada contra a ditadura militar,
a Campanha pela Anistia e a Campanha das Diretas.Essas
lutas continuam em vários lugares, nas
comunidades, no campo e nas cidades.
Gostaria
de abordar rapidamente dois pontos: a questão
dos maniqueísmos, e a questão das
vidas partidas. No último domingo, abrindo
o jornal O Poti, vimos um general de pijama fascista,
José Carlos Leite, admirador de Pinochet,
esbravejar ódios, isso é uma indústria.
Muita gente se deu bem. Muita gente que deu golpe,
até por que geralmente esses “milicos”
são de jurar muito a bandeira, mas eles
gostam muito dar um “golpezinho”.
Sempre
que falo com alguns oficiais amigos da polícia,
pergunto-lhes quando é que eles vão
tirar aquele mausoléu do quartel da polícia
militar, na Avenida Rodrigues Alves. Estou me
referindo ao mausoléu construído
em “homenagem” ao soldado Luiz Gonzaga,
o “Doidinho”.
Referi-me
a história do general de pijama, por que
ainda existe toda essa cultura de criar esse tipo
de armação que o jornalista e pesquisador
Luiz Gonzaga Cortez enfatizou na sua fala neste
seminário. Muitas vezes a própria
polícia, os próprios oficiais da
polícia, o exército, às vezes
pressionam para que aconteça aquele tipo
de pantomima que foi o assassinato de Luiz Gonzaga,
o “Doidinho.
É
curioso constatar que o movimento de 1935 foi
chamado de intentona. Essa expressão que,
segundo o Aurélio, significa intento louco;
plano insensato; conluio e/ou tentativa de motim
ou revolta, parece coisa de gente doida, de gente
perturbada que é o caso de “Doidinho”,
que representa, no caso, os companheiros de 1935.
Representa também os golpes que as elites
dominantes dão há quinhentos anos.
Vivenciei
alguma coisa e, muitas vezes, com o próprio
Cortez. Nós saíamos a pesquisar,
íamos a alguns lugares, pesquisávamos
e levantávamos algumas histórias.
Temos um acervo de muitas histórias nesse
meio tempo. Pesquisamos as vidas partidas, eu
diria, talvez, que a presença de Meneleu,
neste seminário é uma das exceções
de quem sobreviveu. Apesar de tudo o que ele sofreu,
hoje é um cidadão que constituiu
uma família, tem uma esposa/companheira
ao seu lado, e tem ainda essa saúde de
ferro setenta anos depois.
Recordando
aqui um outro golpe militar, o de 1964, denominado
de “Redentora”, digo que na década
de 1970 muitas pessoas foram destruídas,
inclusive psicologicamente, ou seja, gerações
inteiras foram detonadas. Destruição
de sonhos, pessoas, famílias, o mesmo que
ocorreu em 1935. Vou dar rapidamente um exemplo:
Trabalhei muitos anos na Cohab, a minha chefe
chamava-se Isabel Barros Cavalcanti, casada com
Lúcio José Cavalcanti. Fiquei sabendo
que Lúcio era, na verdade, Lúcio
Lago, filho de Lauro Lago, ministro do Interior
do Governo Revolucionário de 1935. Quando
houve a rebordosa de 1935 e todo mundo teve que
fugir, o que aconteceu com Lúcio? Foi criado
por José Ivo Cavalcanti e por sua mulher,
Josefina Cavalcanti, ou seja, o marido de Isabel
deixou de ser Lago e virou Lúcio José
Cavalcanti.
Estou
tentando mostrar o drama familiar que ocorre numa
situação como essa de 1935, seja
naquela época, seja nas décadas
1960/1970. Momentos de violência. A versão
que coloca 1935 como coisa de gente maluca, esquece
o sonho, a utopia, a questão da democracia.
Quando falamos de democracia, estamos falando
de 1935. Quando examinamos o programa da Aliança
Libertadora Nacional (ALN), estamos falando de
uma frente de democratas. Não é
só de 1935 que falo, refiro-me também
às torturas que o exército e a aeronáutica
praticaram nos anos 1950, aqui em Natal, reporto-me
a Vulpiano Cavalcanti e seus companheiros, aludo
às torturas que o jornalista Rubens Lemos
foi submetido nos anos 1970.
O
Centro de Direitos Humanos e Memória Popular
possui uma gravação com Rubens Lemos
em S-VHS e vamos divulgar quem entregou e torturou
Rubens Lemos. Vamos divulgar os nomes das pessoas
que ajudaram a fazer todo esse tipo de vileza
nos anos 1960. Falaremos também de Emmanuel
Bezerra dos Santos, o estudante torturado e assassinado
por um oficial do exército chamado de Cúrcio
Neto. Emmanuel Bezerra dos Santos foi morto a
tesouradas; essa é uma história
que precisa ser contada.
Entender
1935 é importante para não repetirmos
os erros cometidos novamente em 1964. Episódios
que mudaram a nossa sociedade e que continuam
no nosso cotidiano, nas páginas de jornais,
nas telas de TV ou trancafiados, com a conivência
dos poderes instituídos.
Vocês
acham que não existe conexão entre
o capitão do mato e os chefes dos grupos
de extermínio, como os “Meninos de
ouro”? É necessária uma reconstituição
histórica da memória potiguar, para
podermos ampliar não só o nosso
conhecimento, mas também edificarmos uma
maior organização e participação
popular na defesa dos direitos humanos.
O
Centro de Direitos Humanos e Memória Popular
empenha-se também em fazer sua parte. Vou
aproveitar a ocasião e dizer: nós
gravamos um vídeo com Meneleu, mostrando
como e o que foi a construção do
jornal A Liberdade. Pretendemos juntar a gravação
de Meneleu com a vida do poeta Othoniel Menezes
(fundador do jornal) e veicular em CD a edição
de A Liberdade, que consta, inclusive, a letra
do hino da Aliança Nacional Libertadora.
Finalizando,
peço desculpas se em alguns momentos fui
enfático. Esse é o meu jeito de
falar, além do que eu acho que, às
vezes, falar de história inclui falar de
canalhas e canalhices. Sou de opinião que
temos que deixar a metáfora de lado, e
de alguma maneira, botar tudo na mesa. Obrigado.
Roberto
Monte
Educador;
Coordenador do Centro de Direitos Humanos e Memória
Popular
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