Concepção,
Estrutura e Funcionamento da Comissão
Nilmário
Miranda
Criada
no dia 31 de janeiro deste ano, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos
Deputados já se consolidou como uma das referências institucionais mais
conhecidas nesta área. Nestes oito meses, a Comissão frequentou
cotidianamente os meios de comunicação, oferecendo resposta pronta as mais
variadas violências que a sociedade brasileira tem presenciado.
O compromisso
do Congresso Nacional contra a violência não é de agora. Na legislatura
anterior, várias CPIs. comissões e subcomissões investigaram a findo
alguns dos principais problemas de direitos humanos do país. Mortes e
Desaparecimentos políticos, extermínio de crianças. Pistolagem, violência
no campo. prostituição infantil, trabalho escravo, violência contra as
mulheres e sistemas penitenciário são alguns destes temas, que agora estão
sob responsabilidade da Comissão de Direitos Humanos. Ao criá-la por
unanimidade, na última sessão da legislatura 91-94, o Congresso resgatou sua
divida com uma luta cujo primeiro resultado foi o fortalecimento do próprio
legislativo.
São
três as frentes principais de atuação da Comissão: fiscalização dos
poderes públicos, apuração de denúncias e legislação.
A
Comissão está fiscalizando políticas que estavam praticamente “órfãs”
por falta de uma comissão especifica encarregada de cobrar o executivo, Fundação
Cultural Palmares, Secretaria de Fiscalização do Trabalho, Polícia Federal,
Departamento Penitenciário, Secretaria de Cidadania, Itamaraty, Funai e
Procuradoria da República são alguns dos órgãos com os quais a Comissão
mantêm um diálogo constante. Seus orçamentos serão atentamente estudados,
para que os programas que afetam os direitos humanos possam ser fortalecidos.
As
denuncias que nos são encaminhadas recebem um tratamento diferenciado.
conforme a gravidade e a precisão dos dados.
Com
frequência, um simples pedido de esclarecimento da Comissão já é o
suficiente para que uma injustiça seja reparada. Os casos divulgados pela
imprensa são respondidos imediatamente. Quando as denúncias atingem
grandes proporções, é nomeado um relator, que estuda o caso a fundo e propõe
medidas. Quando necessário, a Comissão não hesita em aprovar
posicionamentos firmes.
A
questão dos direitos humanos com frequência incomoda diretamente as
autoridades. Por ação ou omissão, os órgãos policiais são sempre
responsabilizados por muitas das mais graves violações, como torturas e
execuções extra-judiciais. Temerosos de enfrentar uma opinião pública
desinformada, o corporativismo das instituições, alguns políticos.
promotores e juizes adotam posturas tolerantes. quando não abertamente favoráveis
ao uso ilegal da violência. São estas as situações em que a presença de
uma autoridade externa. como a Comissão de Direitos Humanos, poderá ser
decisiva, exigindo das instituições o cumprimento de suas funções e
mostrando concretamente que a dignidade da pessoa humana não pode ser barrada
por fronteiras de países. estados ou municípios.
Composta
por deputados de todos os partidos, as decisões da Comissão são sempre
tomadas por consenso. o que atesta a isenção de seus posicionamentos. Ao
contrário do que poderia parecer. o caráter político da Comissão só
facilita seus trabalhos As vezes. o contato feito por deputado do mesmo
partido gera na autoridade que está sendo cobrada a segurança de que a ação
da Comissão não reflete qualquer oposição de cunho partidário. Um simples
telefonema pode dissolver resistências e mal-entendidos. evitando o
acirramento de tensões que só dificultariam a promoção dos direitos
humanos.
É
claro que nem só de política poderia depender a apuração das violências.
Para ações de natureza judicial, já existem outras instituições. como o
Ministério Público e as Defensorias Públicas. A experiência tem
demonstrado que a combinação de instituições técnicas e políticas é a
que pode dar os melhores resultados. Também na esfera internacional coexistem
órgãos de ambos os tipos. A Comissão de Direitos Humanos é composta por
representantes diretos dos países e suas gestões são políticas. Já o
Comitê dos Direitos Humanos é composto por especialistas e suas ações têm
o caráter jurídico de supervisão do Pacto de Direitos Civis e Políticos.
No
plano legislativo. a Comissão tem cumprido o papel de influir na agenda do
Congresso Nacional, a fim de que o tema dos direitos humanos ocupe o lugar que
merece. Os projetos de maior interesse são por ela avocados e alterados, para
que a ótica dos direitos humanos se faça presente. Diante de bons projetos.
a Comissão manifesta seu apoio e intercede perante outras comissões, para
que tenham tramitação acelerada. A Comissão sempre procura articular as
violações constatadas com as leis que poderiam preveni-las. fazendo
convergir para o processo legislativo a indignação perante a violência.
Pela
projeção que tem alcançado, a Comissão tem consciência do papel
exemplar que pode desempenhar. Por esta razão, tem procurado estimular a
constituição de comissões análogas nos poderes legislativos e de
conselhos nos poderes executivos. Embora necessário, o estimulo externo não
é suficiente para coibir as violações. É preciso criar entidades.
conselhos e comissões em todos os estados e municípios. pois é só pela
atuação local e imediata que a violência pode ser detida. Mais que isto, é
preciso impregnar de direitos humanos várias instituições, a começar pela
policia. Não podemos perder a esperança de que um dia a população poderá
reconhecer em cada policial um defensor seguro de seus direitos.
A
moderna tecnologia permite que os benefícios da centralização e da
descentralização sejam simultaneamente potencializados, por meio da comunicação
instantânea, como o fiz a lnternet, já podemos divisar no horizonte a
formação de uma comunidade de instituições de direitos humanos conectadas
reciprocamente por uma rede de telemática. A Comissão está lançando um
informativo semanal que será enviado por fax e pela rede lnternet para as
principais entidades do país e do exterior.
Mais
importante que ações emergenciais é a consolidação de instituições.
Acreditamos que este primeiro ano já foi suficiente para firmar a Comissão
de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados como uma Instituição nova. mas
que veio para ficar.
Nilmário
Miranda