GEOPOLÍTICA
"A
República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional; II - prevalência dos direitos
humanos III - autodeterminação dos povo; IV - não-intervenção; V
- igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução
pacífica dos conflitos; VIII repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX
- cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X
-concessão de asilo político.
Parágrafo
único. A República Federativa do Brasil buscará a
integração econômica, política, social e cultural dos povos da
América Latina, visando à formação de uma comunidade
latino-americana de nações."
Constituição
da República Federativa do Brasil, art. 4º.
1ª SUGESTÃO
Esta atividade pode ser
desenvolvida, por exemplo, nas disciplinas de Geografia e História.
O educador pode
começar recordando alguns fatos fundamentais no plano
sócio-político, que caracterizam o período de 1948 (data da
Declaração Universal) até os nossos dias:
- A reconstrução e o
desenvolvimento extraordinário da Europa, dos Estados Unidos e
Japão, reconhecidos atualmente como países desenvolvidos ou
ricos.
- O mundo polariza-se
ao redor de duas grandes potências militares e econômicas:
Estados Unidos e União Soviética.
- Surge um movimento
descolonizador. Entre 1948 e 1973, milhões de pessoas conseguem a
independência política. O surgimento do bloco do Terceiro Mundo.
- As reivindicações
de tipo social e econômico, exigidas pelas nações
subdesenvolvidas, faz surgir a Conferência das Nações Unidas
para o Comércio, Energia e Desenvolvimento (UNCTAD - 1964).
- A ineficácia desta
Conferência motiva o golpe de força de 1973. A OPEP quadruplica
o preço do petróleo e altera o injusto equilíbrio econômico.
- O primeiro resultado
desta medida foi a adoção, em 1973, por parte da ONU, de uma
resolução na qual é solicitada a instauração de uma nova
ordem econômica internacional (NOEI). Esta instauração está
contida na Carta dos Direitos e Deveres Econômicos dos Estados
(1974).
2ª SUGESTÃO
Esta atividade pode ser
desenvolvida, por exemplo, nas disciplinas de Língua Portuguesa,
História e Geografia.
À luz dos elementos
extraídos das exposições acima, seria interessante que os alunos
discutissem os textos abaixo, podendo-se utilizar as questões
elencadas para se organizar a discussão.
TEXTO 1
A
HISTÓRIA DE TRITÔNIA
"Em algum lugar
do planeta, existe um pequeno país chamado Tritônia. São pessoas
dedicadas sobretudo ao cultivo da banana e do café. Tritônia é
rica em petróleo e minérios.
Seus produtos são
vendidos a um país vizinho, chamado Nortônia. Vêm de lá os
veículos, os aparelhos elétricos, as máquinas e, em geral,
produtos elaborados com matérias-primas vendidas à Nortônia por
Tritônia.
Em Tritônia, há
também algumas indústrias. As principais, no entanto, pertencem
aos nortonienses.
Os produtos
exportados por Tritônia são baratos. Os que importa são caros.
Nortônia e Tritônia
consideram-se países amigos. Nortônia envia ajuda a Tritônia,
concedendo-lhe empréstimos para a construção de estradas,
hospitais e escolas, e para dotar o exército de armas modernas.
A situação do povo
de Tritônia tornou-se cada vez mais difícil. Um dia resolveram
organizar uma greve cívica. Esto foi considerado como um ato
subversivo. De Nortônia chegou ajuda militar para defender a
"democracia" e a " liberdade".
Os países vizinhos
inteiraram-se destes acontecimentos, mas não fizeram nada, porque
não devem intervir nos " assuntos internos " de outros
país."
a) Como se relacionam Tritônia e Nortônia?
b) Em que Tritônia serve Nortônia e vice-versa?
c) Qual é a situação econômica e política de
Tritônia em relação a Nortônia?
d) O que pensar quanto à atitude dos países vizinhos?
e) Em que se assemelha a situação do conto com a
nossa sociedade?
TEXTO 2
ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES SOBRE TOLERÂNCIA,
IGUALDADE
E DIÁLOGO
"Precisamos mais
do que nunca desenvolver diálogos que contenham, de fato, a noção
e a vivência da igualdade e da tolerância. Lembrando sempre que
não se há de tolerar o intolerável, isto é, tudo aquilo que
atente contra a dignidade e a vida humana, contra os direitos
humanos em geral".
A Declaração de
Princípios sobre a Tolerância, aprovada pela
Conferência Geral da UNESCO, em Paris, aos 16 de novembro de 1995,
por ocasião de sua 28ª reunião, define tolerância como :
Artigo 1º -
Significado da tolerância.
1.1. A tolerância é o respeito, a aceitação e o
apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo,
de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir
nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento,
a abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de
pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é a
harmonia na diferença (grifos meus, de Paulo Arns). Não só é
um dever de ordem ética; é igualmente uma necessidade política
e jurídica. A tolerância é uma virtude que torna a paz
possível e contribui para substituir uma cultura de guerra por
uma cultura de paz.
1.2.
A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A
tolerância é, antes de tudo, uma atitude ativa fundada no
reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das
liberdades fundamentais do outro. Em nenhum caso a tolerância
poderia ser invocada para justificar lesões a esses valores
fundamentais. A tolerência deve ser praticada pelos indivíduos,
pelos grupos e pelo Estado.
1.3.
A tolerância é o sustentáculo dos direitos humanos, do pluralismo
(inclusive o pluralismo cultural), da democracia e do Estado de
Direito. Implica a rejeição do dogmatismo e do absolutismo e
fortalece as normas enunciadas nos instrumentos internacionais
relativos aos direitos humanos.
1.4.
Em consonância ao respeito dos direitos humanos, praticar a
tolerância não significa tolerar a injustiça social, nem
renunciar às próprias convicções, nem fazer concessões a
respeito. A prática da tolerância significa que toda pessoa tem a
livre escolha de suas convicções e aceita que o outro desfrute da
mesma liberdade. Significa aceitar o fato de que os seres humanos,
que se caracterizam naturalmente pela diversidade de seu aspecto
físico, de sua situação, de seu modo de expressar-se, de seus
comportamentos e de seus valores, têm o direito de viver em paz e
de ser tais como são. Significa também que ninguém deve impor
suas opiniões a outrem."
O Artigo 2º do
documento trata do papel do Estado; o artigo 3º, das dimensões
sociais; o 5º, dos signatários comprometendo-se a agir; e o 6º
institui o dia 16 de novembro como Dia Internacional da Tolerância. O
artigo 4º trata da Educação e merece ser transcrito:
4.1.
"A educação é o meio mais eficaz de prevenir a
intolerância. A primeira etapa da educação para a tolerância
consiste em ensinar aos indivíduos quais são seus direitos e suas
liberdades a fim de assegurar seu respeito e de incentivar a vontade
de proteger os direitos e liberdades dos outros.
4.2. A educação para a tolerância deve ser considerada
como imperativo prioritário; por isso é necessário promover
métodos sistemáticos e racionais da tolerância centrados nas
fontes culturais, sociais, econômicas, políticas e religiosas da
intolerância, que expressam as causas profundas da violência e da
exclusão. As políticas e programas de educação devem contribuir
para o desenvolvimento da compreensão, da solidariedade e da
tolerância entre os indivíduos, entre os grupos étnicos, sociais,
culturais, religiosos, lingüísticos e as nações.
4.3. A educação para a tolerância deve visar a
contrariar as influências que levam ao medo e à exclusão do outro
e deve ajudar os jovens a desenvolver sua capaciade de exercer um
juízo autônomo, de realizar uma reflexão crítica e de raciocinar
em termos éticos.
4.4. Comprometemo-nos a apoiar e a executar programas de
pesquisa em ciências sociais e de educação para a tolerância,
para os direitos humanos e para a não-violência. Por conseguinte,
torna-se necessário dar atenção especial à melhoria da
formação dos docentes, dos programas de ensino, do conteúdos dos
manuais e cursos e de outros tipos de material pedagógico,
inclusive as novas tecnologias educacionais, a fim de formar
cidadãos solidários e responsáveis, abertos a outras culturas,
capazes de apreciar o valor da liberdade, respeitadores da dignidade
dos seres humanos e de suas diferenças e capazes de prevenir os
conflitos ou de resolvê-los por meios não violentos."
Gostaríamos de
acrescentar à reflexão sobre a tolerância umas breves palavras
sobre a igualdade e o diálogo. Vale lembrar e insistir : somos
diferentes, mas somos iguais. O que nos distingue, uma pessoa da
outra, uma cultura da outra, é a diferença, jamais a desigualdade.
A vivência desta
igualdade é que possibilitará e tem possibilitado o diálogo
realmente digno deste nome. Podemos constatar com através dos mais
variados caminhos da reflexão humana, todos estão convergindo para
uma mesma conclusão ao raiar do terceiro milênio: a conclusão de
que apenas o diálogo, mas o diálogo entre iguais, entre sujeitos,
pode popiciar a construção de uma sociedade fundada na solidariedade
que leva à plena vigência dos direitos humanos.
Por caminhos e
correntes de pensamentos diferentes, pessoas como Martin Buber,
Emmanuel Lévinas, Jürgen Habermas, Cornelius Castoriadis, Jacob Levy
Moreno, Paulo Freire chegaram a esta conclusão, sem falar em muitas
outras pessoas que ora não nos ocorrem.
A relação de
opressão se dá nos diálogos, seja entre pessoas, grupos ou
nações, quando o vínculo comunicativo, que busca o entendimento
mútuo, "é substituído pela ação estratégica, em que um
protagonista procura exercer poder sobre o outro, ou quando a ação
comunicativa se dá de modo deformado, através da ameaça de
coação, interna ou externa. Nos dois casos, a particularidade de um
dos participantes é destruída autoritariamente."
Estamos citando Sergio
Paulo Rouanet (grifos nossos) e suas reflexões a partir de Habermas.
Os homens, quando conversam entre si, supõem a não-identidade
:"Eles aspiram a ser reconhecidos reciprocamente como
individualidades únicas, insuscetíveis de serem subsumidas em
categorias abstratas, e num processo comunicativo normal esse
desideratum é alcançado, mesmo quando utilizam na argumentação
categorias universais....O universal e o particular se conciliariam, e
o idêntico não teria porque opor-se ao não-idêntico (...) Não é
o não-conceitual que é oprimido, e sim o mundo vivido, que o sistema
procura colonizar. Não é o conceito que oprime e sim a razão
sistêmica, centrada no sujeito (...) a razão que oprime, a
sistêmica, é diferente da que libera, a comunicativa."
Esperamos ter mostrado,
com o que escrevemos até aqui, que a razão comunicativa já está se
dando e que, apesar de tudo, temos motivos concretos para sermos
esperançosos e otimistas. Diálogos, há pouco inimagináveis, como
os de Clynton com Mandela, do Papa João Paulo II com Fidel Castro, do
IRA com os ingleses, de países do Oriente Médio entre si e com o
Ocidente, na busca da paz e do entendimento mútuo, apenas reforçam
este otimismo.
Ao lado de tantas
guerras e de tantas pessoas que defendem a morte, há uma riqueza
constituída por um número incalculável de homens e mulheres de boa
vontade, que com seus trabalhos, seja enquanto intelectuais,
políticos, religiosos, simples cidadãos, estão construíndo um novo
mundo, um mundo que vai dando lugar à declarações como a que trata
da Tolerância ou a Marchas que, a nível mundial, pretendem erradicar
o trabalho infantil; que sabem, que é especialmente na educação,
através da mudança das mentalidades, que se dá a reconstrução do
diálogo e da igualdade, enfim, de um mundo que venha a conhecer, de
fato, a Justiça e a Paz.Trabalhar por direitos humanos para todos,
mais do que apenas denunciar o que deve ser denunciado, é ser capaz
de dar testemunho da ação cidadã, solidária, tolerante,
igualitária, é ser capaz do diálogo que liberta e vê, no outro, um
sujeito, um seu igual, com uma liberdade e autonomia a ser preservada
e respeitada."
Antônio Carlos
Ribeiro Fester - a partir de artigo "Guerra
e Paz", de Dom Paulo Evaristo, Cardeal Arns, publicado na
Revista de Cultura Vozes, em 1998
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