RAZÕES DE DEFESA
Exmo. Sr.
Prof. Arnóbio Marques da Gama
Diretor da Escola de Engenharia
Da Universidade Federal de Pernambuco
Os
abaixo-assinados, todos alunos dessa Escola e integrantes do Diretório
Acadêmico, cujas atividades foram suspensas por medida de V. Ex.a. no
dia 18 de abril último, vêm, conjuntamente, apresentar defesa sobre as
acusações que lhes são feitas, a propósito da distribuição de
cartazes e panfletos no recinto dessa unidade universitária.
A
defesa conjunta impõe-se não só pelo fato de pertencerem todos os
acusados ao mesmo grêmio estudantil, atingido pela medida de suspensão,
como pela circunstância de não haver, a rigor, incriminações
individuais no inquérito sumário instaurado por determinação de V.
Ex.a.
IMPROCEDÊNCIA
DAS ACUSAÇÕES
Quanto a
cartazes e panfletos distribuídos porventura no recinto dessa Escola, não
assumimos a sua responsabilidade. Quando nos achávamos investidos nas
funções de dirigentes do Diretório Acadêmico, nossas ações eram públicas
e visavam sempre a um trabalho de colaboração com a diretoria da
Escola de Engenharia. Tanto assim era que, inúmeras vezes, contamos com
o apoio de V. Ex.a. e chegamos a merecer elogios pelo aprumo e equilíbrio
de nossas atividades, no trato dos problemas estudantis.
Embora
discordando do ato de V. Ex.a. que determinou a suspensão, por tempo não
mencionado, do Diretório Acadêmico, acatamos a medida emanada dessa
Diretoria, na certeza de que, mais cedo ou mais tarde, V. Ex.a. se
convenceria de sua improcedência.
Não
teríamos interesse, desse modo, de conturbar o trabalho de
convencimento a respeito da lisura e probidade com que se portava o
Diretório Acadêmico, utilizando meios através dos quais somente se
poderia acirrar ânimos, dificultando a normalização da vida do nosso
grêmio estudantil.
Portanto,
além de não assumir a responsabilidade pela distribuição de cartazes
ou panfletos no recinto da Escola, queremos manifestar a nossa convicção
de que tudo faremos, reiteradamente, para obter, por meios legais, a
volta do Diretório Acadêmico às suas legítimas origens, como forma
de debater amplamente e por processos democráticos os graves problemas
universitários, que interessam, não somente aos alunos, mas também
aos integrantes do corpo docente.
Refutamos,
assim, quaisquer acusações que nos forem assacadas, de impressão,
distribuição e colagem de jornais, cartazes e panfletos que contrariam
a nossa firme orientação, já exposta linhas acima. Estamos cônscios
de que o D. A. há de reintegrar-se nas mãos dos estudantes, porque só
a eles pertence. E, certos disso, não iremos, nem iríamos, conturbar a
nossa luta pelo restabelecimento dos nossos direitos, fazendo uso de
expedientes ineficazes ou improfícuos, como os de dividir os estudantes
da grande maioria de professores, igualmente empenhados na melhoria do
ensino e na maior obtenção de recursos para o nosso aprendizado.
Por
conseguinte, e pelas mesmas razões e motivos, não reconhecemos, como
sendo de nossa autoria, o noticiário que circulou na Escola, como sendo
procedente do Diretório Acadêmico, muito menos o jornal “Resistência”
que, insidiosamente, se intitula “órgão informativo do DAE”,
quando na verdade o é de origem suspeita, com o fito de comprometer o
nosso trabalho em prol do erguimento do grêmio estudantil suspenso.
Fala-se,
no processo investigatório, de “assembléias gerais” realizada
pelos abaixo-assinados na Escola de Engenharia, em horários noturnos. A
acusação é das mais descabidas, uma vez que a Escola de Engenharia não
funciona à noite. E V. Ex.a. já teve oportunidade de esclarecer essa
deslavada e cínica exploração, segundo nos disse pessoalmente.
Restaria,
das incriminações que nos são atribuídas, a de havermos sido cúmplices
ou co-autores da carta que, mimeografada, foi distribuída na Escola com
a assinatura do nosso querido e nunca esquecido colega Cândido Pinto de
Melo. Não queremos, sequer, entrar no mérito desse documento, que não
é apócrifo nem clandestino. Apenas, como dever de consciência,
queremos declarar que, oficialmente, em nome do Diretório Acadêmico, não
tivemos a menor participação na elaboração ou circulação dessa
missiva.
Isso
não implica em negar o colega Cândido Pinto de Melo, vítima de
monstruoso atentado que o inutilizou para o resto da vida, o direito de
protestar contra tudo que lhe parecer injusto e desacertado. Nas
circunstâncias em que ele se encontra, não seríamos nós quem deixaríamos
de proporcionar-lhe toda assistência e solidariedade, quer moral, quer
material.
No
que diz respeito, porém, à citada carta, não tivemos a menor
participação, como já foi dito, tanto na sua redação, como na sua
distribuição, se é verdade que ela é, realmente, de autoria do
colega gravemente enfermo, cujas atividades motrizes são precaríssimas,
como se sabe.
Do
exposto de tudo quanto acabamos de referir, esperamos, com absoluta
tranquilidade, o julgamento de V. Ex.a., que há de ser calcado
em princípios inarredáveis de Justiça e de bom-senso. Não acreditamos
que V. Ex.a. macule as gloriosas tradições de firmeza e independência
dessa Escola.
Recife,
18 de agosto de 1969.
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