DECLARAÇÃO
Eu,
Andréia Serra Azul da Fonseca, brasileira, solteira, nascida em
16/12/1971. Registro Geral 95002322559 – SSP/CE, CPF 49218468391,
residente e domiciliado à rua Virgílio Paes, 2367, Cidade dos
Funcionários, Fortaleza/CE, venho declarar o que se segue:
Em
meados de mais de 1974, minha mãe Iracema Serra Azul da Fonsêca
e meu pai Manoel Dias de Fonsêca Neto foram presos por órgão da
repressão política em Abreu e Lima, Pernambuco, quando eu tinha
3 anos e nove meses de idade. Nesta ocasião eu e minha irmã Andréia
Serra Azul da Fonsêca, de apenas dois anos, fomos retirados violentamente
do convívio familiar e, separados, ficamos com pessoas completamente
estranhas e provavelmente ligadas aos torturadores de meus pais.
São vagas as lembranças deste tempo tenebroso, mas me recordo
que estas pessoas diziam que meu pai era mau, pois queria matar
minha mãe, de uma tal de “tia Zeca”, que nesse período passei
por um local em que pessoas de branco me seguraram com força e
me furaram a cabeça, presumo que num hospital. Sei que quando
retornei para parentes meus passei vários dias sem querer falar
com ninguém, a não ser com a minha mãe e não queria falar com
o meu pai.
Caracterizo
este período em que passei sem meus pais como um crime hediondo
de sequestro de criança e manutenção em cárcere privado, com a
única justificativa de manter clandestina a prisão de meus pais
durante o longo período de 40 dias de torturas a que foram submetidos.
Considero
que o reconhecimento oficial deste crime, oportunizado certamente
pelo Governo do Estado de Pernambuco aos que sofreram perseguições
e prisões por motivo político durante o período da ditadura militar,
contribui para romper com a impunidade, resgata o sofrimento causado
a mim e renega a prática ominosa do sequestro de criança por motivos
políticos.
Gostaria
de afirmar que meus pais, anos depois, me relataram que os esforços
da Dra. Mércia Albuquerque, advogada deles, e do Dr. Paulo Cavalcante,
através de contatos com vários organismos internacionais de defesa
dos direitos humanos, foram decisivos para que eu e minha irmã
Andréia fossemos devolvidos e voltássemos ao convívio familiar.
Fortaleza,
30 de julho de 2001.
Luis
Ernesto Serra Azul da Fonsêca.
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