Padre
Henrique incluído na relação dos desaparecidos
DIÁRIO DE PERNAMBUCO – 8 de fevereiro de 1996
Comissão
vai examinar 15 novos casos
BRASILIA
— A Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos examinará
hoje em sua terceira reunião, a inclusão de 15 novos casos
na lista oficial do Governo, entre eles o caso do padre Antônio
Henrique Pereira Neto, coordenador da Pastoral da Arquidiocese
de Olinda e Recife e um dos mais destacados auxiliares do cardeal
Dom Helder Câmara. Padre Henrique foi morto no dia 26 de maio
de 1969 por membros do CCC (Comando de Caça aos Comunistas).
No inquérito aberto no Tribunal de Justiça de Pernambuco, um
dos acusados pelo sequestro, tortura e morte do padre foi o
então tenente (hoje ex-major) da PM pernambucana José Ferreira
dos Anjos, preso recentemente por envolvimento no escândalo
da mandioca. Ao ser preso, depois de mais de uma década foragido,
o major Ferreira disse saber quem foi o militar que assassinou
o padre Henrique. Até agora, a comissão já reconheceu 144
desaparecidos políticos (oito deles na última reunião).
Os
outros casos de mortos políticos são os de Sônia Maria Lopes
de Moraes, Antônio Carlos Bicalho Lana, Hélcio Pereira Fortes,
José .Júlio de Araújo, Amaro Luiz de Carvalho, Pedro Jerônimo
de Souza, Maurício Guilherme da Fonseca, Carlos Nicolau Danielli,
José Raimundo da Costa, José de Souza, Olavo Hensen, Hiroaki
Torigoi e Dorival Ferreira. Todos, segundo seus familiares,
tiveram suas mortes forjadas por agentes do Estado.
A
Comissão Especial já está recebendo os requerimentos para a
localização dos corpos de diversos desaparecidos, mas por enquanto
se concentrará nos casos dos mortos. Os cartórios de registro
civil de todo o Pais já estão orientados para conceder os atestados
de óbito. Quanto às indenizações, a comissão aguarda a nomeação
de um assessor jurídico para fazer os cálculos necessários.
Mortes
são esclarecidas
Em
depoimento emocionado, a advogada Mércia Albuquerque e a aposentada
Sônia Maria Cavalcanti de Franca Lúcio desmascararam, ontem
à tarde, a versão oficial de que três militantes políticos –
Jarbas Pereira Marques, Soledad Barret Viedma e Pauline Reichstul
– morreram em 7 de janeiro de 73, ao reagir às forças policiais
da repressão, na Granja São Bento, em Paulista.
Segundo
relato de Mércia Albuquerque ao secretário de Justiça, Roberto
Franca, antes de ser preso, o comerciante Jarbas Pereira Marques
a informou de que a equipe do delegado Fleury estava no Recife,
para prendê-lo e matá-lo. Depois de dar a informação, Jarbas
conforme Mércia, entregou-lhe uma foto e a autorizou a divulgá-la.
Vinte e três anos depois, Mércia Albuquerque divulga a foto,
que é do ex-cabo Anselmo, infiltrado no movimento de contestação
ao regime militar.
Mércia
confirmou em seu depoimento que Anselmo era casado com a militante
Soledad Viedma que ao chegar ao IML ficou chocada ao vê-la,
autopsiada, tendo ao lado um feto. Segundo ela, o feto era o
filho de Anselmo, que tinha dupla personalidade – participava
da repressão e posava de contestador do regime.
Em
seu depoimento, Sonja de Franca Lúcio relata que presenciou,
em sua butique, o espancamento e a prisão das duas militantes
e que, na época, ao tentar denunciar os fatos presenciados,
foi desaconselhada pela delegacia de Boa Viagem. No momento
da prisão. Os cinco homens armados se limitaram a informá-la
de que eram policiais.
Os
depoimentos foram prestados também na presença da coordenadora
do “Tortura Nunca Mais”. Amparo Araújo. Ao final, o secretário
Roberto Franca entregou a Cada uma um buquê com sete rosas
vermelhas, num reconhecimento das verdadeiras circunstâncias
das mortes de Soledad, Pauline e Jarbas. “Desmascaramos mais
uma farsa”, desabafou, ontem à noite, Amparo Araújo.