Escrito 04
Josér Gersino
de Saraiva Maia
Busco
o futuro, mergulho no passado.
O pequeno filósofo do PCBR estava
preso.
O nosso encontro foi melancólico,
tenso, pois estava advertida que iria defrontar-me
com um delator. Ele, pálido, desestruturado
emocionalmente, fisicamente arrasado, olhava-me
assustado, em posição fetal.
Repetia-me "quase noventa nomes eu
falei". "Falei quase noventa nomes.
Eu não queria. Não queira".
Deixara a faculdade de medicina para assaltar
bancos. Vinha de uma vida que se transformara
em nada, em face de uma cruel descoberta.
A minha missão era arrancar-lhe as
delações, e depois renunciar
a causa. Cumpri a primeira parte, mas a
segunda recusei-me a cumpri-la.
Defendi-o com o mesmo ardor que defendi
heróis e pseudo-heróis, sofrendo
pressão de certo grupo de esquerda.
Pela
primeira vez observei o binômio neurótico
torturador e torturado. A necessidade que
sentia o tenente C?. de demonstrar a submissão
do torturado. A postura do corpo revela,
todos os sentimentos do homem. A presença
do torturador anulava o torturado, reduzia-o
a nada.
Meu caro Gercino, não sei exatamente
que caminhos percorrestes para chegares
a mim. Não sei o que te fizeram,
para buscares o PCBR como uma forma de autodestruição,
por isto não te julgo.
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