11.10.1974
Anotações
Inéditas de Mércia Albuquerque
Descobri
hoje que não me pertenço. Não consigo meia hora para cuidar dos meus
problemas, estou curvada com os problemas de vários rapazes.
Fui
para auditoria participar de uma audiência, de Juarez e outros;
terminou às 14 horas. Fiquei estarrecida com as loucuras do procurador
Carlos Alberto Borges, saudou o Conselho, ofereceu a pessoa dele e a
casa para servir ao Conselho, só pode estar desagregando.
Às
14:20 cheguei em casa e deparei-me com o pai e a mãe de Juarez, com uma
galinha, ovos e jerimum. Olhei os velhos camponeses e uma dor me
machucou o peito, eles choravam e eu já não sentia mais fome, os
confortei, mas não dei-lhes esperanças de liberdade para o filho,
muito breve. Eles se sentiam perdidos, procurei ajudá-lo??????s; enfim, já não
choravam e animados se foram. O estômago começou a doer e eu chorei e
me senti abandonada.
A
noite apareceu-me uma conterrânea, Nara, com dois filhos que fugia do
marido e eu escondia.
Nem
bem resolvi o problema de Nara, chegou a mãe de Marcos Burle feliz e
infeliz. Feliz pela absolvição e infeliz porque o filho terá que ir a
São Paulo; ajudei-a com palavras e de repente abraçou-me chorando e
disse que uma voz estranha lhe havia dito que restava a Marcos poucos
dias de vida. Conversei muito com ela. Enfim, abraçou-me nervosamente e
se foi.
Fui
até o quarto de Aradin observar Ana
Maria Santos que, tendo sido liberada,
ficou comigo. Todos dormiam. Olhei
a escuridão da rua e mais uma vez
chorei; então veio a paz e uma fé
inabalável que sou forte e chegarei
ao fim.
|