13.09.1974
Anotações
Inéditas de Mércia Albuquerque
Leonardo
Márcio de Aguiar Barreto, tem me feito apelos, no sentido de ser
providenciado um encontro dele com as autoridades, pois se acha muito
arrependido e deseja sair do meio dos presos políticos.
Disse-lhe
apenas que enviasse a mulher dele tratar do assunto, pois me parecia,
que queria recompensa por ter se arrependido.
Manda
carta para o Auditor, para o Diretor do Presídio, delatando os
companheiros e implorando para ir ficar junto com os presos comuns.
Sou
observadora da decomposição desse homem.
Quando
adolescente, assaltou a joalharia Vitória, em Maceió, cumpriu pena em
Itamaracá, pois a sua mãe Raimunda era professora no presídio.
Solto,
vivia enganando as repartições e particulares, se dizendo técnico em
consertos de máquinas, passador de cheques sem fundos, agora delator do
grupo a que pertence, é um canalha, creio que a própria segurança não
vai se aperceber, logo que está sendo envolvida, só descobrirá quando
mergulhar as mãos no charco que é esse homem.
Estou
sentada vendo as águas rolarem e esperando pelo final.
Há
homens que nos contaminam com o seu fedor; só ao nos tocar e temos que
estar alerta para não sermos contaminadas.
Leonardo
é um homem vivo morto em adiantado estado de putrefação, caminhando
entre nós, adoecendo os fracos e enojando os fortes.
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