JANEIRO DE 1973
Anotações
Inéditas de Mércia Albuquerque
08.01.1973
Preso- Jarbas Pereira
Marques na livraria onde trabalhava, na rua Ubaldo Gomes de Matos, 115.
Livraria Moderna.
Acusado de ter denunciado José Moura, Ayberê, Martinho
e mais quinze rapazes. Ligado a Américo Balduino.
(Daniel), marido de uma paraguaia que pertencia a um grupo terrorista,
Daniel fazia um trabalho para polícia, pertence à equipe
de Fleury.
Não ficando esclarecido o que Jarbas pretendia. A verdade é
que por onde passava havia prisões.
Recebi a visita da mãe de Jarbas, Dona Rosália, que em
uma crise nervosa, me pedia que localizasse, antes que fosse morto,
perdeu os sentidos várias vezes, e me falava que tinha um filho
esquizofrênico, que estivera paralítica, e nessa fase o
marido colocou uma amante dentro de casa, e Jarbas era o único
que sofria com ela. Prometi procurar o rapaz, a velha sai chorando.
16.01.1973
O pai de José
Gercino de Saraiva Maia me procurou aflito, pois estás sem notícias
do filha a dias.
Gercino foi preso no Rio de Janeiro, e apavorado revelou dezenas de
nomes, renunciou de público a subversão.
Quando vivia na clandestinidade sempre foi um radical, exaltado. Preso,
pararam as emoções, e ficou sem condição
de aceitar a realidade. Começou a denunciar, ressurgiram as emoções,
o perigo de ser assassinado pelas esquerdas.
Pobre Gercino, condenado a 24 anos. Com apenas vinte e dois anos.
Não sei se é de direita, se esteve de esquerda. Sei apenas
que vive procurando se encontrar. Sei também que foi usado pela
esquerda e pela direita.
Tenho sofrido muitas críticas porque o defendo. Gercino é
pessoa, é sobretudo jovem, e aquela pessoa que sempre foi considerado
coisa, ninguém se preocupou por ele.
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