Dez
anos sem Mércia Albuquerque
Advogada de
presos políticos de Pernambuco
e do Nordeste
"Tudo
que fiz, foi em nome da liberdade"
Homenagem
de militantes dos Direitos Humanos a grande
advogada pernambucana Mércia Albuquerque
Ferreira que em 29.01.2013 acontece os
10 anos de seus falecimento.
Memórias
Arquivada de Mercia Albuqurque
Maria
do Carmo da Silva*
"Ninguém
tem o direito de fazer o outro sentir
dor"
No coração de Mércia
pulsava muitos corações.
A advogada pernambucana Mércia
Albuquerque não só defendeu
seus clientes como advogada, como tirou
dos seus olhos a venda que cegava a justiça
para não ver as adversidades no
período que chamamos de" vidas
partidas", em um período onde
os homens , mulheres e jovens tiveram
seus ideais dilacerados, seus sonhos usurpados,
roubados, silenciado e jogados nos porões
da maldade humana de alguns, que em nomedo
poder, desejava apodrecer todos as almas
desejosas de liberdade.
Para
celebrar os dez anos da sua morte nós
que fazemos o Centro de Direitos Humanos
e Memória Popular e o Comitê
da Memória,Justiça e Verdade
do Rio Grande do Norte, através
do grupo de trabalho intitulado Memória
Histórica – Acervo Mércia
Albuquerque, queremos lembrar a história
de uma mulher do direito e da justiça,
que entre os mais de 500 homens e mulheres
dolorida(o)s, pela força da mão
do Estado, usou seu coração,
sua alma e suas mãos, para aliviar
a dor de muitos norte riograndenses e
enfrentou doze prisões e seqüestros
na defesa dos direitos humanos.
Fez uso da sua patente de advogada para
trazer alento as famílias e presos
políticos naquele momento de horror,
ela a Dra. Mércia nos deixa um
arquivo organizado, uma memória
registrada em cartas para a posteridade,
como testemunho para que nossa juventude
tenha direito a verdade sobre um tempo
que roubou das mãos daqueles jovens
que ousava pensar a liberdade e o direito
a dignidade humana.
Presos, torturados, mortos, desaparecidos
e sequestrados assombrando as gerações
futuras e causando a morte de muitos sonhos,
sonhos que jamais foram apagados da memória
dos que resistiram até a morte
e sobreviveram, e, sobrevivem arquivados
nas muitas cartas lidas e selecionadas
com o mesmo carinho que a Dra. Mercia
adotou para salvaguardar a História
do Brasil e do Rio Grande do Norte a ser
revisitada , principalmente as escolas
, universidades , sindicatos , movimento
de mulheres e partidos politicos os quais
nasceram na luta e que sua historia foi
tecida nos fios da ditadiura militar.
Aqueles tempos, segundo Dra. Mércia,
eram assim: “As casas dos amigos
eram vasculhadas, meu filho Aradin, de
apenas quatro anos ameaçado de
morte, a polícia me seguindo, uma
ciranda satânica.”
Não faz tanto tempo assim, lembremos
que até os anos 70 a Dra. Mércia
cedia sua casa para aliviar os horrores
da ditadura de muito ser humano do Rio
Grande do Norte, da Paraíba de
Pernambuco e do Ceará marcados
pelas torturas viviam , era o seu lar
um porto seguro, era a sua coragem de
resistir, de solidariedade e sua capacidade
profissional que lhes davam força
para sobreviver, as cartas nos diz muito
sobre os corações que pulsavam
no coração da Dra. Mércia.
E neste dia 29 de janeiro , dez anos de
sua morte, queremos registrar que Dra.
Mércia vive, que sua lutaperrmanece
vibrando como o som dos sinos sagrados
em cada registro deixado em forma de aviso
para posteridade, em cada arquivo numerado,
nomeado e selecionado, um a um para que
ninguém esqueça , os horrores
cometidos e o zelo pelo ser humano.
Assim celebramos a memória de Dra.
Mércia Albuquerque como advogada,
militante de direitos humanos, mulher,
mãe e esposa, amada e respeitada
por sua postura ética frente a
luta pela democracia, pela liberdade,
justiça e paz .
Natal(RN),
Nordeste do Brasil 29 de janeiro de 2013
* Maria do Carmo da Silva é educadora,
membro do Centro de Direitos Humanos e
Memória Popular, do Comitê
pela verdade, Memória e Justiça
do RN e faz parte de um Grupo de Trabalho
que faz o levantamento do Acervo da advogada
Mércia Albuquerque, acervo este
sob a guarda do CDHMP.