Uma
origem humilde e vida atribulada
Gregório
Bezerra nasceu em Panelas de Miranda no sítio denominado Mocós,
no dia 13 de março de 1900. De família de camponeses, pobre,
analfabeto, sem terra, composta por seu pai, Lourenço Bezerra
do Nascimento, sua mãe, Belarmina Conceição do Nascimento, e
doze filhos, sendo Gregório um dos últimos; todos os filhos
foram criados juntos até 1907. Depois disso, uma reviravolta
em consequência da morte de seus pais, da seca e de fome, fez
com que a família se dispersasse.
Quando
completou quatro anos, começou a trabalhar na enxada e na foice.
Com oito anos passou a ser assalariado agrícola num engenho,
ganhando oitenta réis por dia. Seu ofício consistia em espalhar
o bagaço das moendas no pátio do engenho e quando o mesmo secava,
juntá-lo novamente para ser transportado. Mais tarde foi trabalhar
no eito, juntamente com os pais, e em seguida transformou-se
em ajudante de carreiro com um primo. Porém, como era muito
pequeno, não podia ajudá-lo com o feixe de cana. Todavia deu-se
bem nesse serviço e sentia-se o menino mais importante do engenho,
ganhando o salário de 200 réis por dia.
INGRESSO
NO PC – Gregório Bezerra teve os primeiro contatos de idéias
socialistas em 1917, em consequência do jovem movimento bolchevique
na União Soviética, não o de outubro mas o de fevereiro, quando
Kerensky assumiu o poder. O mundo estava vivendo a guerra de
1914/18 e no Brasil houve um movimento pela paz e contra a guerra.
Nesse período Gregório já era ajudante de pedreiro e participava
de manifestações de rua por jornadas de trabalho de oito horas,
por melhores condições de trabalho, aumento de salário e solidariedade
ao jovem regime que surgiu numa sexta parte do mundo.
Esses
movimentos eram sempre reprimidos pela Cavalaria e envolvido
neles Gregório Bezerra foi preso e condenado a sete anos de
prisão em agosto de 1917. No ano de 1922, foi submetido a julgamento,
quando foi posto em liberdade, após cinco anos de detenção.
Procurando trabalho, exigiram sua carteira de reservista, o
que forçou-o a ir para a caserna e sentar praça no Exército.
Depois de um ano, foi transferido para o Rio de Janeiro, onde
começou a se alfabetizar. Em 1927, já alfabetizado, foi promovido
a segundo sargento e em seguida desligado da escola para ser
Instrutor da Companhia de Metralhadoras Pesadas no Segundo Regimento
de Infantaria na Vila Militar, e Instrutor de Esportes. Em seguida
voltou para o Recife a fim de continuar sua vida de embarcadista
com a profissão de canoeiro.
Em
janeiro de 1930 Gregório se filiou ao Partido Comunista, que
havia sido organizado no dia 25 de março de 1922 e logo em seguida
posto em ilegalidade. Nesse tempo o fascismo estava em plena
ascensão tanto na Alemanha quanto na Itália ou no Brasil, com
Plínio Salgado. Havia certo atrito entre os “galinhas verdes”
de Plínio Salgado e o movimento da classe operária. Já existia
luta entre os estudantes mais progressistas e nacionalistas,
luta que se proliferava pelas ruas. Em 34, Prestes se declarou
membro do Partido Comunista e em 35 foi criada a Aliança Nacional
Libertadora, o maior movimento de massas organizado até hoje,
inspirado na organização da Frente Popular na França e na Espanha.
O nome de Prestes era uma bandeira de luta para as classes trabalhadoras
da cidade e do campo, até mesmo entre a pequena burguesia. O
Partido começou a crescer e a participar abertamente no sentido
de ampliar a força dessa aliança. Com a ilegalidade muitos aliados
se afastavam. Foi aí que o Partido encampou toda a força da
ANL e marchou para a luta armada.
A
REVOLUÇÃO DE 35 – A 23 de novembro de1935 um movimento comunista
eclodiu em Natal, no Rio Grande do Norte. Os rebeldes tomaram
conta do Quartel do 28º Batalhão de Caçadores, prenderam a oficialidade
e no dia seguinte atacaram o Quartel da Polícia que na sua maioria
tinha compromisso com a ANL, estabelecendo-se a primeira tentativa
de governo comunista no Brasil. O próprio Gregório admite em
entrevista recente que “houve um erro muito grande. Acredita
deveria se preparar colunas para enfrentar os adversários que
marchavam sobre o RGN, mas resolveram arrombar o Banco do Brasil
e distribuir o dinheiro entre as massas de insurretos. Elementos
que nunca pegaram em cinquenta contos ou duzentos contos e não
quiseram saber mais nada da luta. Só no apagar das luzes do
Governo Popular Revolucionário é que organizaram uma grande
coluna que saiu para fazer guerrilha no interior do Estado.
Quando esta coluna chegou a uma distância de oito quilômetros,
parou para restabelecer a ordem e não tinha mais nem a metade.
O pessoal tava com o dinheiro e resolveu se esconder para tratar
da sua vida. Caíram fora. Só ficou a vanguarda e mesmo assim
nem todos. Na primeira parada para descanso não tinha nem um
terço da coluna. Assim fracassou a guerrilha”.
CONDENAÇÃO
– Gregório participou do levante comunista de 35 no Recife,
sufocado pelo Exército, sendo preso e condenado pelo Tribunal
de Segurança Nacional. Recebeu a maior sentença do Recife: 28
anos de detenção, que ele teria de cumprir em Fernando de Noronha.
Quando a ilha foi transformada numa base militar, em 42 ele
e os demais presos foram transferidos para a Ilha Grande no
Rio de Janeiro, de onde só saiu em abril de 1945, graças à Anistia
promulgada pelo então presidente Vargas.
Quando
o Partido Comunista foi novamente declarado ilegal, Gregório
teve seu mandato cassado, a 8 de janeiro de 1948. Dias depois
ocorreu em João Pessoa o incêndio do 15º Regimento de Infantaria,
tido como uma sabotagem dos comunistas em represália ao Exército
contra a cassação dos mandatos dos deputados. Por conta disso
Gregório foi mais uma vez preso e conduzido a João Pessoa, onde
ficou detido no próprio Quartel. Outros incêndios ocorridos
nessa época foram também atribuídos aos membros do PC, entre
eles o de uma fábrica de pólvora no Cabo. Posto em liberdade
dois anos depois, viajou para Goiânia, onde entrosou-se com
a direção do Partido visando a reorganização das Ligas e Uniões
Camponesas. Lançaram eles em Goiás a Campanha pela Paz. Nesse
Estado viveu Gregório quatro anos, tentando reorganizar os sindicatos
rurais, terminando por voltar a Pernambuco onde se entrosou
nos mesmos movimentos até 1964.
Foi
preso novamente durante a Revolução de 64, passando por vários
cárceres. Segundo seu depoimento, foi torturado e quase morto
pelo coronel Villoc, do Quartel de Motomecanização , em Casa
Forte. Villoc teria feito o ex-deputado desfilar pelas ruas
daquele bairro insuflando a população a linchá-lo. “Como resultado
dos bárbaros espancamentos – conta Gregório – fiquei com o sistema
nervoso completamente abalado. Uma insônia perniciosa me persegue,
a próstata esta arrebentada, apesar de duas operações a que
me submeti. O coração está afetado; os rins e os intestinos
trabalham preguiçosamente. Tenho um zumbido nos ouvidos que
me enerva constantemente”.
Gregório
Bezerra foi condenado a 19 anos de prisão, pena que não chegou
a cumprir, pois foi trocado, juntamente com mais 14 presos políticos
pelo embaixador norte-americano Elbrick, sequestrado em setembro
de 1969. Inicialmente, Gregório foi para o México, seguindo depois
para Cuba e dali para a União Soviética, onde viveu exilado até
a semana passada.