Declaração
Soube da
inclusão do meu nome no rol dos presos políticos que devem ser
libertados em troca da entrega, vivo, do Embaixador norte-americano,
pelo rádio. Não contribui para que tal coisa acontecesse. Estou
preso a mais de cinco anos, sem contactos com ninguém, a não ser
com meus familiares. Por uma questão de princípio, devo declarar
que, embora aceitando a libertação, nessas circunstâncias, discordo
das ações isoladas, que nada adiantarão ao desenvolvimento do
processo revolucionário.
Respeito o ponto de vista daqueles que impuseram à ditadura a
forma de libertar inúmeros compatriotas, que sofrem no cárcere
do atual regime entreguista que vem sacrificando a vida e a liberdade
do nosso povo. Mas me mantenho firme na convicção de que somente
a união de todas as camadas e classes sociais não comprometidas
com a ditadura entreguista é que decidirá a sua instauração no
Brasil de um regime de plena liberdade, de livre desenvolvimento
econômico, de paz e nacionalismo. Só o proletariado, o campesinato,
as camadas urbanas da classe média, os estudantes, os intelectuais,
o clero, progressistas, os setores da burguesia nacional não comprometidas
com o imperialismo, sem excluir camadas das forças armadas que
se opõem à atual ditadura, terão força suficiente para implantar
no Brasil uma verdadeira democracia, aceitando a minha libertação,
faço questão de declarar que não abdicarei jamais dos princípios
marxistas-lenilistas, que orientam a luta da massa contra as forças
da exploração e do imperialismo longe do Brasil, farei tudo para
participar da luta do nosso povo por sua final libertação. Esta
a declaração que julgo dever fazer, no momento em que sou posto
em liberdade. Exijo, como condição para aceitá-la, que ela seja
publicada na íntegra pela imprensa brasileira. Não quero, com
minha atitude, pôr em risco a vida dos demais presos políticos
a serem libertados. Nem desejo, como humanista que sou, que se
sacrifique a vida de um homem, ainda que seja o Embaixador da
maior potência imperialista da história, uma vez que luto contra
um sistema de força, e não contra pessoas, individualmente.
Recife,
6 de setembro-69
Gregório
Bezerra