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Gregório Bezerra

O ABC DE GREGÓRIO BEZERRA
Autor: Grivaldo Tenório
Recife - 1987

 

Pronunciamentos de Personalidades por motivo da morte de "Gregório Bezerra"
Introdução
ABC de Gregório Bezerra



Pronunciamentos de Personalidades por motivo da morte de "Gregório Bezerra"


LUIS CARLOS PRESTES - Líder Comunista

"Para todo o movimento operário brasileiro, para todos os trabalhadores do pais, é uma das perdas mais dolorosas e sentidas. Ele era um homem do povo, filho do povo, particularmente um dos filhos dos trabalhadores do campo e, ele mesmo, com 05 anos de idade, já estava trabalhando de enxada na terra. Ele foi um defensor permanente dos interesses dos trabalhadores".

ROBERTO ARRAIS - Vereador - Recife-PE

"Com Gregório, descobrimos que a poesia, a música, o amor, o parlamento, os fuzis, as organizações populares e os partidos, são armas poderosas e necessárias para a construção do mundo, onde as crianças tenham o mesmo direito à infância sadia e feliz; e as relações de exploração do homem pelo homem sejam apenas amargas lembranças da miséria, do desemprego, da violência e da degradação humana".

FLORESTAM FERNANDES - Sociólogo e Professor

"Ele é o elo que nos faltava pra conferir ao movimento socialista revolucionário uma sólida base na terra firme e o verdadeiro encravamento no âmago da consciência popular".

BRUNO MARANHAO - Presidente do PT-PE

"A nossa homenagem a esta liderança do movimento operário popular, Gregório Bezerra, que é símbolo da luta revolucionária do povo brasileiro e da classe operária".

JAIR MENEGUELLI - Coordenador Geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT)

"O Companheiro Gregório nos deixou, mas as suas idéias jamais nos deixarão, as suas idéias permanecem na cabeça de cada um de nós. E nós haveremos de trilhar o caminho aberto por este companheiro e chegaremos aonde ele nos mostrou, aonde ele nos ensinou que deveremos chegar, que é no estado socialista, aonde todos os trabalhadores têm o direito à escola, têm o direito à comida, têm o direito ao trabalho e têm o direito à sobrevivência. Obrigado, companheiro Gregório, por tudo que nos deixou".

FERNANDO LYRA - Deputado Federal

"Nascido com o século, acaba de nos deixar - o sertanejo, a lutador, o homem-povo e, para os pernambucanos, o homem-lenda Gregório Bezerra. Falar dele é falar do homem pobre do Nordeste, dos seus sofrimentos, mas é falar também da sua fortaleza, da sua luta contra a desigualdade e a injustiça".

LOURIVAL BATISTA - Poeta Popular - São José do Egito

"Tantos anos de prisão
Cercearam a liberdade
Deste leão do Leão
do Norte, a fraternidade
Mostra os direitos humanos
Com oitenta e tantos anos
Esta claro como a verdade".

FERREIRA GULLAR - Poeta

"Mas existe nesta terra
muito homem de valor
que é bravo sem matar gente
mas não teme o matador,
que gosta da sua gente
e que luta a seu favor,
como Gregório Bezerra,
feito de ferro e de flor".

OPINIÃO DE ROBETO ARRAES SOBRE O AUT0R

Alguns anos atrás conheci Grivaldo. De primeiro momento, seu rosto marcado por traços fortes e rígidos, me dava a impressão de um homem insensível e exigente. Nossas primeiras palavras e conversas foram duras mas, marcadas com a vontade comum de fazer o melhor e dentro do mesmo objetivo.

Após a convivência cotidiana e juntos na mesma causa, buscamos com nosso companheiro Gregório Bezerra, construir uma nova formulação para o processo Político Brasileiro, e um novo instrumento, que não fosse aquele -"Água de Flor de Laranja", oportunista e deformador dos quadros políticos revolucionários.
A vida de Gregório, representa exemplo de um revolucionário, que era ao mesmo tempo, disciplinado, corajoso, valente, sensível e de uma ternura e pureza que poucos homens têm dentro de si num mesmo momento, era ele acima de tudo ousado nas suas tarefas e ações, como bem dizia: "O revolucionário tem que ser antes de tudo um audacioso."

E esta audácia que conhecemos em Gregório, eu vejo neste companheiro que em toda sua vida de Metalúrgico Soldador, participando da construção das grandes obras deste Pais, como Volta Redonda, Coperbo, Polo Petroquímico de Camaçari e outros, vem tecendo e tentando soldar a unidade das forças revolucionárias e progressistas na luta para por fim a miséria e a exploração do homem pelo homem em nossa terra.
E agora, ele nos mostra o seu lado sensível, de um poeta, como tão poucos, que consegue falar em rimas, sobre a vida deste herói do povo brasileiro, do homem feito de ferro e flor, deste homem feito de ferro e aço mas um coração de flor, chamado Gregório Bezerra.

O ABC de Gregório torna-se uma leitura imprescindível para os jovens, operários, camponeses, intelectuais, que descobrirão a vida portentosa e bela de Gregório, e os versos deste poeta revolucionário, que tenta atingir e sensibilizar, com a sua força e com suas palavras o nosso povo nesta caminhada na conquista de urna nova sociedade.

Introdução

Conheci Gregório Bezerra na Campanha da Constituinte de 1946. Eu morava na cidade de Barreiros, um dia estava terminando o almoço, quando meu pai chegou da Usina e me disse: vamos ver o comício que vai ter agora as onze e meia, na hora que os operários estão voltando do almoço. Meu pai nem almoçou, me pegou pela mão e fomos ver o comício. Meu pai era serralheiro ajustador e trabalhava na Usina Central Barreiros. Chegamos na frente do mercado, estava falando David Capistrano depois falou Gregório.

O sol estava quente e Gregório falava como uma metralhadora; as balas que saíam de sua boca, atingiam em cheio as exploradores do povo, as operários batiam palmas. Quando terminou o comício, saíram em passeata até o portão da Usina, meu pai e eu fomos até a casa de Quincas barbeiro, onde foi servido o almoço a caravana. Meu pai era dirigente local do Partido Comunista, junta com outras conversaram com os camaradas que chegavam do Recife, e foi então que me apresentou a Gregório: Este é meu filho, é quem entrega a Folha do Povo na casa dos companheiros.
Eu tinha 11 anos. Gregório me sentou na sua perna e perguntou se eu gostava de entregar o Jornal, eu disse que gostava, e fiquei com a sua imagem na memória. Aquele homem avermelhado com os olhos azuis, os braços muito grossos e cabeludos, me parecia um gigante de cantos de fadas.

Só vim ver Gregório alguns anos depois, ele estava preso, na Segunda Companhia de Guardas, acusado do incêndio do quinze da Paraíba. Um domingo já tarde eu fui com meu pai visitar Gregório no Quartel, nesse tempo nós estávamos morando na Ipuitinga na rua Gaspar Peres, passamos a tarde com Gregório, tinha muita gente na visita. Depois Gregório passou mais de dez anos longe do Recife, na clandestinidade. Na Campanha Eleitoral de Cid e Pelópidas, eu estava na Bahia, trabalhando como Soldador especializado, na primeira ampliação da Refinaria da Petrobrás em Mataripe, eu tinha então vinte e dois anos, e estava muito feliz em participar dos trabalhos da ampliação de Mataripe, pois já na casa de meu pai, foi centro de estudo e defesa do petróleo, na campanha do Petróleo é Nosso tudo pela Petrobrás.

Voltei ao Recife, em plena campanha de Lott e Jânio para Presidente da República, Gregório comandava a comitê na Praça Joaquim Nabuco. Me entrosei na campanha junto com Gregório, e uma noite no Largo da Paz, estávamos realizando um comício, quando uma turma de provocadores, foram acabar o ato público, terminou em pancadaria. Perdida a eleição do Marechal Lott para Jânio Quadros, me dediquei a organização de Associações de Moradores, na área da Avenida Caxangá..

Participei também da Sociedade Pernambucana de Solidariedade a Cuba, junto com o professor José Otávio de Freitas Júnior, o advogado José Guimarães Sobrinho, o escritor Mauro Almeida e tantos outros. Nesse tempo viajei a Cuba numa delegação que foi assistir as comemorações do terceiro aniversário da revolução Cubana, onde participei do Congresso dos Sindicatos em Santiago de Cuba, pois era o único operário da Delegação da América Latina, composta por estudantes, parlamentares, escritores, jornalistas, camponeses e outras categorias profissionais. Fomos chefiados pelo Senador Chileno Salvador Allende.

Junto com Gregório, participei da campanha de Miguel Arraes para governador, organizando comícios, ou como locutor, junto com José Wilker, Teca Calazans e outros que faziam um esquete para animar os comícios, chamado a balada do subdesenvolvido, fui também distribuidor do Jornal A Hora, e estava montando uma rotativa para imprimir novamente a Folha do Povo quando vejo o golpe de 1964. Só voltei a ver Gregório depois da Anistia. Antes disso vi Gregório pela televisão depois que saiu das garras do Coronel Villoque, sentado no chão, vestido só de calção, fiquei estarrecido quando vi Gregório naquelas condições, na minha revolta impotente, comecei a escrever uns versos, com a música de Saudosa Maloca:

Se vocês não estão lembrados / Vou lhes dizer a razão
É isso que nós diremos / Pois um dia levaremos /
Estes gorilas ao paredão / Foi em Pernambuco / Em
abril no passado / Nosso Gregório foi torturado /
E uma noite / triste sentado no chão/ as tevês do
Recife mostraram / ele só de calção / Marcado pela
Reação / Em busca da liberdade / Tu encontrasses só
a prisão / O teu heroísmo / Servirá de exemplo /
ideal que defendes / Vale qualquer sofrimento / A
aurora da liberdade / Um dia hei de raiar / Levaremos
a classe operária / um dia a triunfar / Se nós não
fizermos / nossos filhos farão / E haverá igualdade /
Em toda Nação / E o tribunal popular / Justiceiro
Inclemente / Ao paredão / Vai mudar muita gente /
É olho por olho / É dente por dente / Seguiremos
teu caminho e venceremos certamente.
É olho por olho / É dente por dente / Seguiremos
teu caminho e venceremos certamente.

Vibrei, comemorei quando Gregório foi libertado, encabeçando a lista dos presos políticos trocados pelo embaixador americana. Com a Anistia em 79 Gregório voltou; em 82, foi candidato a deputado federal, me engajei na sua campanha, sofremos um acidente de carro, onde ficamos muito machucados. Ele não se elegeu, mais esta história da derrota eleitoral eu ainda vou contar. Gregório ficou muito abatido, e isto agravou a situação do seu coração, embora estivesse muito alegre com a eleição de Roberto Arrais, seu companheiro de chapa a Câmara Municipal do Recife.

No dia 1º de maio de 83, Gregório foi afrontado no Parque 13 de Maio. Os trabalhadores do campo e da cidade comemoravam a sua data de luta, e Gregório foi proibido de falar aos trabalhadores, alguns dirigentes sindicais e do PCB não permitiram, tentamos demovê-los eu, Morsse Lira e Roberto Arrais, mas não conseguimos. Os que comandavam a afronta, diziam que só falavam os representantes de entidades, e quem tinha mandato - como se naquele palanque alguém tivesse mais mandato para falar aos trabalhadores do que Gregório Bezerra.
Gregório que naquele Parque 13 de Maio, dirigiu um 1º de Maio que foi a maior concentração humana do Nordeste até hoje realizada. Mesmo proibido pelo Presidente da República, General Eurico Dutra, pelo Governador do Estado e pelo comandante da 7ª Região Militar.

Em 1983, Gregório Bezerra herói dos trabalhadores brasileiros não tinha mandato para falar, ficou no palanque esperando Roberto Arrais falar em nome da Câmara Municipal do Recife, e depois retirou-se, foi para casa amargurado. Os trabalhadores deixaram de ouvir o seu herói pela última vez. Em outubro de 83, os trabalhadores do campo, convidaram Gregório para o ato Público de abertura da campanha salarial da sua categoria, realizado no Colégio São José. O auditório estava cheio de trabalhadores rurais. Gregório chegou com Roberto Arrais, foi anunciada a sua presença, e convidado a participar da mesa dirigente do ato. Quando o presidente da FETAPE, José Rodrigues anunciou a sua palavra, Gregório me chamou e mandou que eu lesse um pronunciamento que havia escrito. Aconselhado pelos médicos, não podia se emocionar, como era de seu costume, quando falava aos trabalhadores, principalmente aos seus irmãos camponeses. Ele que foi um dos maiores lutadores do Brasil, pela Reforma Agrária, organizador das primeiras Ligas Camponesas, e sindicatos rurais. Eu não sabia que estava lendo o último pronunciamento de Gregório Bezerra.

Poucos dias depois ele falecia num hospital em São Paulo, para onde viajou aconselhado pelos médicos que cuidavam do seu coração aqui no Recife. Em companhia do professor Paulo Resende que o assistiu nos seus últimos dias de vida, Gregório embarcou. No dia 20 de outubro recebemos a noticia de sua morte.
A noite fui ao aeroporto esperar a seu corpo, que desembarcou do avião por volta das 21:00 horas, e seguimos em caravana até a Assembléia Legislativa, onde ficou até a hora do enterro. No dia seguinte, no cemitério de Santo Amaro, a Dra. Maria Aragão, líder Comunista e popular do Maranhão, fez um pronunciamento de despedida falando em nome dos camaradas e amigos de Gregório Bezerra.

Este cordel, eu comecei a escrever durante a sua campanha em 82, seriam só algumas estrofes, Gregório acompanhava a que eu ia escrevendo, foi então que sugeriu que fizesse um resumo das suas memórias para facilitar a leitura aos trabalhadores, principalmente os camponeses.

Mesmo porque as dois volumes das suas memórias estavam muita caros, para o nível salarial dos trabalhadores. Portanto esta é a minha contribuição, para podermos divulgar um resumo da vida de Gregório Bezerra, às amplas massas do nosso povo. Dedico este meu trabalho a todos que tombaram na luta pelo Socialismo em nossa Pátria.

GRIVALDO TENÓRIO


ABC de Gregório Bezerra

Vou lhe contar uma história
Fazer uma louvação
De um herói desta nação
Cobrindo de louro e glória
Vou refrescar a memória
De quem esquece o valor
Deste grande lutador
Que nunca torceu o braço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Nasceu ele no agreste
Em Pandas de Miranda
Não chove naquelas bandas
Da uma seca da peste
Tudo morre e nada cresce.
Por isso ele se mudou
Muita saudade deixou
Foi procurar outro espaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Com sete anos de idade
Muita cana ele amarrou
Tirou conta e carriou
Com muita dignidade.
Isso só é novidade
Pra quem nunca trabalhou
Na moleza se criou
E nunca enfrentou dureza
Como Gregório Bezerra
Feito de ferro e flor.

No engenho onde morava
Na Mata Sul do Estado
Ele era até bem tratado
Todos do Grilo gostava.
Era assim que lhe chamava
Sua mãe com muito amor
Que na vida o encaminhou
Lhe ensinando a ter firmeza
Pra ser Gregório Bezerra
Feito de ferro e de flor.

Mas o engenho foi vendido
E o novo dono era mal
Mandava baixar o pau
Por qualquer mal entendido
Era um carrasco, um bandido
Não dava o menor valor
Para o seu trabalhador
Isso marcou muito o traço
A Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Gregório ficou chocado
Com uma cena tirana
Por ter chupado uma cana
Um homem foi massacrado
Depois de ser amarrado
Pediu por Nosso Senhor
Mas o patrão nem ligou
Isso deu régua e compasso
A Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Botou o boi pra lamber
O homem sujo de mel
Era uma coisa cruel
Ver o seu sangue escorrer
E o homem a se contorcer
Pois sentia muita dor
Era um verdadeiro horror
Para um menino simplório
Como o menino Gregório
Feito de ferro e de flor.

O homem morreu inchado
Pelas formigas comido
E aquele patrão bandido
Nunca foi incomodado
O Grilo ficou danado
Sua mãe se apavorou
Logo depois se mudou
Pra não ver mais malvadeza
Levou Gregório Bezerra
Feito de ferro e de flor.

Foi de engenho em engenho
Trabalhando alugado
Foi no salário roubado
Mas trabalhou com empenho
Um dia franzio o cenho
Pra Recife se mudou
Numa casa se empregou
Varreu salas e terraço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Foi vendedor de Jornal
Pegou frete na estação
Foi operário em construção
Foi companheiro leal.
Ele nunca abriu do pau
Houve uma greve ele entrou
Cavalaria enfrentou
Topando espada e baIaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Na grave da construção
Com dezessete de idade
Aprendeu duras verdades
Nesta primeira lição
Gregório viu que patrão
Da cidade ou interior
São todos explorador
Querem viver na moleza
Não com Gregório Bezerra
Feito de ferro e de flor.

Ainda muito menino
Gregório foi pra prisão
Na casa de Detenção
Encontra Antônio Silvino
Para cumprir seu destino
Muita coisa lhe ensinou
Suas proezas contou
Da vida lá no cangaço
A Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Na casa de Detenção
Gregório veio a saber
Que estava a acontecer
Uma grande revolução
Que acabava a exploração
De um povo sofredor
E muito jornal comprou
Pra ouvir o falatório
Que interessava a Gregório
Feito de ferro e de flor.

Da grande revolução
Que o povo Russo fazia
Quase tudo ele sabia
Ali mesmo na prisão
Sabia com emoção
Que o operário e o lavrador
Sua pátria transformou
Num grande laboratório
Isso agradava a Gregório
Feito de ferro e de flor.

Antônio Silvino lia
Para Gregório saber
Porque não sabia ler
O que os jornais dizia
Com atenção ele ouvia
Que Lenine chefiou
E o povo comemorou
Com festas e foguetório
Isto alegrava Gregório
Feito de ferro e de flor.

Cinco anos na prisão
Foi ser de novo julgado
O Juiz horrorizado
Deu sua absolvição.
Ao sair da Detenção
Para Panelas voltou
Seus parentes visitou
Foi rever o seu pedaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de for.

E o tempo foi passando
Revendo tios e irmãos
Passou um belo São João
Divertindo e passeando
Vendo os amigos casando
Mas o folguedo acabou
Pra capital regressou
Trouxe os irmãos pelo braço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Mas não achava serviço
E para mudar de ritmo
Resolveu ir ser marítimo
Trabalhar de embarcadiço.
Mas, para conseguir isso
Um documento faltou
No Exército ele ingressou
Foi ser Caxias e Osório
Era o soldado Gregório
Feito de ferro e de flor.

Gregório incorporado
No 21 Batalhão
Pra defender a Nação
Ele estava preparado
Logo depois foi mandado
Para a Rio num vapor
Para mostrar seu valor
Seguiu junta um relatório
Que apresentava Gregório
Feito de ferro e de flor.

Gregório soldado infante
Num ataque muita veloz
João Pessoa de Queiroz
Seu primeiro comandante
Depois Nilton Cavalcante
Que com Gregório encrencou
Porém depois recuou
Com ele acertando o passo
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Cumprindo sua missão
Dois anos ele foi soldado
Com bons serviços prestados
Ao Exército e a Nação
Com a reservista na mão
Para o Recife voltou
No porto se apresentou
Pra ser do mar um sargaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Chegou na Capitânia
Para ser embarcadiço
Mas um chefe de serviço
Velo logo com covardia
Querendo ter mordomia
Duzentos mil réis cobrou
Por causa deste inspetor
Seu sonho foi um fracasso
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Foi trabalhar de pedreiro
Trabalho não encontrou
Outro navio pegou
Voltou pro Rio de Janeiro
Tinha um pouco de dinheiro
Que logo se acabou
No porto biscatiou
Tinha um futuro ilusório
O desempregado Gregório
Feito de ferro e de flor

Sem ter onde trabalhar
Com vínculo de compromisso
Incorporou-se ao serviço
Geográfico Militar
Pra comer e pra morar
Para o Exército voltou
E muito colaborou
Na Vila de Deodoro
O voluntário Gregório
Feito de ferro e de flor.

Quase sem perspectiva
Aos vinte e cinco de idade
A dura realidade
Lhe deu a iniciativa
Tomou urna diretiva
Que sua vida mudou
Seu futuro planejou
No tempo e no espaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Estudou o que devia
Para poder ter assento
Na escola de sargento
Instrutor de infantaria
Álgebra e Geometria
Foi o que mais precisou
Um Sargento duvidou
Mas ele lhe disse eu faço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Estudou um ano inteiro
E foi o melhor da tropa
Obteve a melhor nota
Entre todos companheiros
Granada, canhão, morteiro
Em armas se aprofundou
Quando os exames prestou
No curso preparatório
Saiu Sargento Gregório
Feito de ferro e de flor.

Conseguiu ser transferido
Para a sétima região
Pra servir no seu torrão
Seu Pernambuco querido.
Foi muito bem recebido
Quando em Recife chegou
Em vinte e nove casou
Na igreja e no cartório
O sargento instrutor Gregório
Feito de ferro e de for.

Mas toda sua vontade
Era acabar com a exploração
De todo e qualquer patrão
Do campo ou da cidade
Com muita tranquilidade
Seu caminho preparou
Alguns livros estudou
Pra poder dar mais um passo
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Resolveu renunciar
Seus projetos pessoais
Pra nunca voltar atrás
No que ia começar
Sua vida dedicar
A causa que abraçou
Enfrentar com destemor
O cutelo e o baraço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Decidiu ser marxista
Lutar ao lado do povo
Construir um mundo novo
Ser um homem idealista
No partido comunista
Com muita honra ingressou
Como sargento instrutor
Já era um homem notório
O camarada Gregório
Feito de ferro e de flor

Para os pobres libertar
Empenhou-se decidido
A organizar o partido
Lá no setor militar
Começou a recrutar
Militares de valor
Todo seu tempo empenhou
Pra conseguir seu intento
O camarada sargento
Feito de ferro e de flor.

Usando mais o instinto
Em Recife e Fortaleza
Com disciplina e firmeza
Organizou com afinco
No ano de trinta e cinco
A revolta pipocou
O seu setor comandou
Muito firme e decisório
O camarada Gregório
Feito de ferro e de flor.

Faltando apoio na ação
Foi preso muito ferido
Logo depois recolhido
A casa de Detenção
As torturas na prisão
Com bravura ele aguentou
Seus carrascos enfrentou
Em todo interrogatório
O camarada Gregório
Feito de ferro e de flor.

Quatro anos de tormento
Naquela prisão medonha
Depois Fernando Noronha
Melhorou o tratamento
Capitão, cabo e sargento
Soldado e trabalhador
Entre os homens de valor
Rendo homenagem a Pascácio
E Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Três anos de cativeiro
Naquela Ilha tristonha
De Fernando de Noronha
Foi para o Rio de Janeiro
Junto com os companheiros
Num navio embarcou
Nesta viagem tomou
Chuva, sereno e mormaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Distante de sua terra
Ficarão prisioneiros
Um punhado de guerreiros
Que um grande valor encerra
Quem nada fez, nunca erra,
Porém não mostra valor
Um morreu, outro escapou
Isto é público e notório
Cabo Valverde, Gregório
Feito de ferro e de flor.

O grande herói do Nordeste
Foi o preso escolhido
Da Ilha Grande transferido
Pra uma prisão terrestre
Fazer companhia a Prestes
Grande emoção lhe causou
Muito honrado ele ficou
Juntou o mel e o bagaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Pernambucano à cavalo
Luís Carlos Prestes é
Gregório gaúcho à pé
Pode escrever o que falo
Gregório foi abraçá-lo
Junto com Prestes ficou
A anistia chegou
Saíram para as andanças
O cavaleiro da esperança
E Gregório de ferro e flor.

Os grandes homens de fama
Do povo legionário
Falaram em São Januário
Campo do Vasco da Gama
Dos nomes que o povo ama
Por todos Prestes falou
Os crimes denunciou
Naquele imenso auditório
De Agliberto a Gregório
Feito de ferro e de flor.

Mas conversando com Prestes
Gregório foi convencido
A organizar o partido
Na região do Nordeste
De entusiasmo se investe
Pra Pernambuco voltou
Na tarefa se empenhou
Com grande desembaraço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Com o partido legal
O operário e o camponês
Ia ter a sua voz
Mais precisava um jornal
Pra poder baixar o pau
No patrão explorador
O povo colaborou
Responsável e meritório
Massas, amigo e Gregório
Feito de ferro e de flor

O jornal por conseguinte
Saiu rodado a mão
Defendendo a eleição
E a nova Constituinte
Quando foi no me seguinte
Se adquiriu um motor
A tiragem triplicou
Era bom o repertório
De Rui Antunes a Gregório
Feito de ferro e de for.

O comitê estadual
Reuniu com os presentes
Arruda como assistente
Pra escolher o pessoal
Pronta a chapa federal
Pra eleição se marchou
Entre os nomes de valor
Indicou-se um preferido
Era o Gregório querido
Feito de ferro e de flor.

Os votos foram contados
A eleição realizou-se
Um nome então destacou-se
No Recife o mais votado
O segundo em todo Estado
A reação se espantou
Mais onde ele passou
Recebeu beijos e abraços
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Para cumprir seu mandato
E chegar decentemente
Na casa de Tiradentes
Faltava roupa e sapato
Mas porém de imediato
O povo se cotizou
Até passagem ganhou
Neste segundo ofertório
O deputado Gregório
Feito de ferro e de flor.

Dois nomes se destacaram
Nesta campanha espinhosa
Borba e Vicente Barbosa
Que muito lhe ajudaram
Nos comícios eles falaram
Na cidade, no interior
Nem um dos três recuou
Dando nos ricos trompaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Naquela campanha bela
Gregório levou vantagem
Recebeu uma homenagem
Da grande Casa Amarela
Córrego, Morro e Favela
Maciçamente votou
Muita emoção causou
Aquele grande momento
Ao deputado ex-sargento
Feito de ferro e de flor.

Quando chegou lá no sul
Em alguns comícios falou
O Prestes representou
Na avenida Anhangabaú
Tinha gente pra xuxu
Pra ouvir o orador
O Milton lhe apresentou
Gregório deu seu recado
Como grande deputado
Feito de ferro e de for.

No Distrito Federal
O Palácio Tiradentes
Superlotado de gente
Para o cerimonial
A Assembléia Geral
Os Constituintes empossou
Deputado e senador
um a um foram chamados
mas só tinha um deputado
Feito de ferro e de flor.

Porém o mais aplaudido
Pelos seus pontos de vista
Foi o chefe comunista
Secretário do Partido
O Carlos Prestes querido
O mais votado Senador
Sua cadeira ocupou
Comandou sua bancada
Onde tinha um camarada
Feito de ferro e de flor.

Com Prestes ele foi morar
Junto ao Largo do Machado
Senador e deputado
Os dois iam trabalhar
Na ação parlamentar
Destacou-se o senador
Mais porém quem atuou
De Niterói ao Estácio
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Os quinze legisladores
Os quinze cabra da peste
Sob o cornando de Prestes
Defende os trabalhadores
Contra todos opressores
E o patrão explorador
São quinze gladiadores
Contra 300 finórios
De Marighela a Gregório
Feito de ferro e de flor.

Entrou com gosto de gás
Rompendo ondas e embrolhos
Na campanha do petróleo
Em defesa da Petrobrás
Homem, mulher e rapaz
Pra luta arregimentou
O petróleo é nosso bradou
E o povo seguiu seu passo
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de for.

Gregório igual a um raio
Mobilizou o Nordeste
Para um comício com Prestes
Dia primeiro de Maio
No Parque Treze de Maio
Dia do Trabalhador
Mais de cem mil concentrou
Nenhum pelego ou capacho
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

O comício foi proibido
Pelo presidente Dutra
Mais o povo foi à luta
Muito firme e decidido
Guiado por seu partido
Seu dia comemorou
Proibido enterrou
Num gigantesco velório
Comandado por Gregório
Feito de ferro e de flor.

Doutor Pelópidas Silveira
Foi o primeiro a falar
Coube a Prestes encerrar
Aquela festa altaneira
Que levantou a bandeira
Do povo trabalhador
Os seus heróis exaltou
Da masmorra ao crematório
Olga, Lourenço e Gregório
Feito de ferro e de for.

Na campanha nacional
Para governo do Estado
Vereador, deputado
E prefeito municipal
De Maceió a Natal
Aos comunistas ajudou
Boa semente plantou
Em todo esse território
O camarada Gregório
Feito de ferro e de flor.

Esteve no Ceará
Porto Alegre, Espirito Santo
Sofreu algum desencanto
Na terra de Alencar
Foi pra São Paulo ajudar
Em Santo André discursou
No Rio Grande enfrentou
Polícia, e saiu no braço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Gregório foi indicado
E teria sido eleito
Como o primeiro prefeito
Da Capital do Estado
Mais prevendo o resultado
O governo conchavou
E uma lei aprovou
Evitou de qualquer jeito
Que se elegesse um prefeito
Feito de ferro e de flor.

Mais o proletariado
Firmou seu ponto-de-vista
Votando nos comunistas
Para ser seu deputado
Nosso Recife indomado
O seu passado evocou
Elegeu vereador
Doze comuna notório
Em homenagem a Gregório
Feito de ferro e de flor.

Entretanto os entreguistas
Lacaios do imperialismo
Tramam com grande cinismo
Um golpe anticomunista
Para barrar as conquistas
Do povo trabalhador
Que nas eleições mostrou
Que seguia lado a lado
O partido do deputado
Feito de ferro e de flor.

Seu partido foi fechado
Pelos reacionários
Industriais, latifundiários
Que se achavam incomodados
Com a defesa dos explorados
Que o partido comandou
A classe do explorador
Cometeu este atentado
Contra o povo e o deputado
Feito de ferro e de flor.

Incomodavam de fato
Esses poucos deputados
Por isso foram cassados
Os seus legítimos mandatos
Onde existe muitos ratos
Alguns gatos causam horror
O carrasco explorador
Calou a voz da pobreza
Voz de Gregório Bezerra
Feito de ferro e de flor.

Preso depois de cassado
A acusação dizia
Que o Quinze de Infantaria
Ele tinha incendiado
Do Rio ele foi levado
Num avião embarcou
Em João Pessoa encontrou
Um batalhão de soldado
Esperando o deputado
Feito de ferro e de for.

Foi levado num jipão
Apesar de algemado
Atrás, na frente e de lado
Seguiu todo batalhão
Senhora faltou mesmo canhão
Mais tinha até batedor
Muito espantado ficou
Com tamanho estardalhaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Várias vezes interrogado
O grande revolucionário
Acusado de incendiário
Agora ia ser julgado
Quando foi sumariado
Seus algozes acusou
A farsa desmascarou
Desatando o nó do laço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

O doutor Carlos Duarte
Com Aristides Saldanha
Desmontaram as artimanhas
Com competência e com arte
Refutaram os disparates
Que Eraldo Gueiros usou
Promotor ele acusou
Os dois foram advogado
Defendendo o deputado
Feito de ferro e de flor.

Foi posto em liberdade
Dezoito meses depois
Absolvido ele foi
Por toda unanimidade
Foi pra clandestinidade
Para Goiás viajou
A luta recomeçou
Sem temor e sem cansaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Viajou por todo Estado
Resoluto e decidido
Reorganizando o partido
Que estava esfacelado
Num ativo organizado
Os comunistas juntou
Tarefas práticas aprovou
Pela paz pelo petróleo
O camarada Gregório
Feito de ferro e de flor.

Enfrentou as asperezas
Do trabalho clandestino
Organizando com tino
Varias Ligas Camponesas
Sempre ao lado da pobreza
Pelo mato se embrenhou
Muita doença pegou
Neste vasto território
O camarada Gregório
Feito de ferro e de flor.

Deu testa com os tatuíras
Grandes latifundiários
Com ardor revolucionário
Topou jagunços e tiras
Afinou a sua lira
Com a voz do trabalhador
A liberdade cantou
No campo, fábrica e escritório
O camarada Gregório
Feito de ferro e de flor.

Andou a pé e a cavalo
Propagando um ideal
Porém as forças do mal
Pretendia eliminá-lo
Foi mandado pra São Paulo
De um curso participou
O marxismo estudou
Encheu seu reservatório
O camarada Gregório
Feito de ferro e de flor.

A direção nacional
Decidiu encaminhá-lo
Para o Norte de São Paulo
Preparar o pessoal
Das bases ao regional
Conferências realizou
Por seu imenso valor
Por seus serviços prestado
Foi eleito o delegado
Feito de ferro e de flor.

Defendeu reforma agrária
Na região do café
Pra uma aliança de fé
Camponês classe operária
Na ação revolucionária
Os melhores recrutou
A luta revigorou
Acabou com o dormitório
O camarada Gregório
Feito de ferro e de for.

Preparou em Araraquara
Um comício eleitoral
Terminou quebrando o pau
Com uma turma reacionária
Contusão, fraturas várias
Do lado a lado sobrou
Um boato se alastrou
Era grande o falatório
Botando a culpa em Gregório
Feito de ferro e de flor.

Pra não se deixar pegar
Recuou naquele instante
Pra capital bandeirante
Depois para o Paraná
Para o grileiro enfrentar
Os posseiros organizou
De uma emboscada escapou
No corpo tinha um balaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Promoveu uma campanha
De sindicalização em massa
Enfrentando as ameaças
Percorreu vale e montanha
A vitória foi tamanha
Que ao patronato espantou
Porém se acidentou
Engessou a perna e o braço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Com pouca gente de fato
Pra refazer o partido
Empenhou-se decidido
A reforçar os sindicatos
Com paciência e com tato
Algumas bases montou
Mas, porém um senador
Num improviso oratório
Dedurou logo Gregório
Feito de ferro e de flor.

Procurado noite e dia
Não podendo ali ficar
Do Norte do Paraná
Foi mandado pra Bahia
Com uma grande alegria
Para a Nordeste voltou
Seu trabalho começou
Percorrendo o território
O camarada Gregório
Feito de ferro e de flor.

Começou na capital
Feira de Santana e Conquista
Mostrou seus pontos de vista
Na discussão principal
Debateu com o pessoal
Que do partido se afastou
Seus princípios afirmou
Com ardorosa presteza
O comunista Bezerra
Feito de ferro e de flor.

E o tempo se passando
Trazendo os seus na lembrança
Com riscos de segurança
Resolveu voltar pra casa
Pois a saudade apertava
Seu coração de avô
Pra direção avisou
Do seu gesto decisório
O camarada Gregório
Feito de ferro e de flor.

Como quem tava sonhando
Na casa do filho bateu
A sua nora atendeu
Mais ficou desconfiando
Ele porém foi entrando
Por Jurandi perguntou
A nora então lhe abraço
Lhe mandou para o chuveiro
Foi tomar banho o guerreiro
Feito de ferro e de flor.

Depois de haver jantado
Sozinho ele se retira
Foi ver a filha Jandira
Que também tinha casado
Ficou muito emocionado
Quando seus netos abraçou
Com eles deitou e rolou
Como um autêntico palhaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Seis dias logo passaram
Neste encontro de emergência
Nos seus dez anos de ausência
Os seus dois filhos casaram
Os seus netos lhe adoraram
Muito alegre ele ficou
O bom momento acabou
Pois um plano organizado
Acusava o deputado
Feito de ferro e de flor.

É que havia acontecido
Um tiroteio em Maceió
Neste grande quiprocó
Um foi morto e alguns feridos
Seu nome foi envolvido
A reação lhe acusou
Botando a culpa em Gregório
Feito de ferro e de flor.

Mesmo não sendo verdade
O que o jornal dizia
Regressou para Bahia
Abandonando a cidade
Tinha matado a saudade
Pelo sertão viajou
Em Serra Talhada chegou
Não encontrou dormitório
Dormiu na relva Gregório
Feito de ferro e de flor.

Mal havia amanhecido
Foi tomar um cafezinho
Voltou ao ônibus sozinho
Quando foi surpreendido
Porque foi reconhecido
Na noite anterior
Um obscuro promotor
Provocou um falatório
Pra reconhecer Gregório
Feito de ferro e de flor.

Gregório foi provocado
Quase obrigado a falar
E o promotor a escutar
Sentiu-se sacrificado
Aí foi ao delegado
E a ele dedurou
Juntou-se a um investigador
E jogaram um grande laço
Em Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Por isso que de repente
Gregório se viu cercado
Por um grupo de soldado
Ao comando de um tenente
Tratado decentemente
O tenente lhe falou
O promotor te entregou
É um fato obrigatório
Ter que prender o Gregório
Feito de ferro e de flor.

Saiu de Serra Talhada
No avião do Governador
Mais no Recife encontrou
As ruas interditadas
Uma viatura escoltada
Pra Caxangá lhe levou
Comissário investigador
Tentarão um interrogatório
Mais não falava Gregório
Feito de ferro e de flor.

Por Álvaro da Costa Lima
Ele foi interrogado
O bacharel delegado
Foi logo mudando o clima
Naquela mesma rotina
Muita coisa perguntou
O seu roteiro traçou
Como quem seguiu o passo
De Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Goiás, São Paulo e Bahia
Por tudo ele perguntava
Gregório só confirmava
O que não comprometia
Ia amanhecendo o dia
Por Prestes ele perguntou
Tá no Brasil ou Moscou
Responda o interrogatório
Não sei respondeu Gregório
Feito de ferro e de flor.

Com as perguntas encerrada
Lhe disse o seu carcereiro
Vais para o Rio de Janeiro
Pois tens prisão decretada
A barra lá tá pesada
Ele não se incomodou
No Santos Dumont chegou
Com muito sono e cansaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Policial de magote
Encontrou no aeroporto
Apesar do desconforto
A barra pesada era um trote
O famoso Chico Pinote
A todos lhe apresentou
Ninguém lhe hostilizou
O clima satisfatório
Surpreendeu o Gregório
Feito de ferro e de flor.

Para a polícia central
Ele foi recambiado
Mais não foi encarcerado
Ficou num salão geral
Homens do mesmo ideal
Mais de sessenta encontrou
O vermelhinho molotov
Um comunista notório
Apresentou o Gregório
Feito de ferro e de flor.

Depois de apresentação
Aos camaradas detidos
Por todos bem recebido
Ficou muito admirado
Pois além de bem tratado
Ninguém lhe interrogou
À noite alguém lhe levou
Para um estranho auditório
Sabatinar o Gregório
Feito de ferro e de flor.

Com o auditório composto
De comissários e investigadores
Por demais perguntadores
Gregório ficou exposto
Depois de olhar seu rosto
Um policial perguntou
Tais com Stalin ou Cruchou
O partido tá no velório
Vou responder diz Gregório
Feito de ferro e de flor.

Ninguém jamais vai dar cabo
Do nosso heróico partido
Está errado o Agildo
Estou com Prestes e não abro
Me considero um soldado
Do povo trabalhador
Contra todo explorador
Sempre estarei com a pobreza
Disse Gregório Bezerra
Feito de ferro e de flor.

Mais tarde foi recolhido
Ao grande salão geral
Pro resto do pessoal
Disse o que houve consigo
Um advogado amigo
Um habeas-corpus impetrou
De manhã cedo chegou
O papel liberatório
Estava solto Gregório
Feito de ferro e de flor.

No Distrito Federal
Ele conversou com Prestes
Depois voltou pro Nordeste
Agora estava legal
Na campanha eleitoral
No Recife ele ficou
Da luta participou
Ocupando o seu espaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Apoiar Cid era justo
Pra derrotar Etelvino
E um bando de assassinos
Apoiados no trabuco
Recuperar Pernambuco
Este brado ecoou
O povo se levantou
Atendendo o chamatório
De Carlos Prestes e Gregório
Feito de ferro e de flor.

cid e Pelópidas eleitos
era grande a vibração
tomou-se uma decisão
lançar Arraes pra prefeito
foi feito logo um panfleto
a campanha começou
um homem então comandou
com a marca do seu traço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Gregório se desdobrava
Para ver Arraes prefeito
Pra tudo arranjava um jeito
Até seu carro empurrava
Com os comunistas contava
Entre os homens de valor
Uma frente se formou
Da barraca ao escritório
O povo Arraes e Gregório
Feito de ferro e de flor.

O povo elegeu Arraes
Foi uma vitória e tanto
Gregório foi para o campo
Viver nos canaviais
Aos sindicatos rurais
Tempo integral dedicou
Com paciência ensinou
O valor reivindicatório
Era o camponês Gregório
Feito de ferro e de flor.

Mas ele foi convidado
A fazer uma visita
Aos países socialistas
Ficou sonhando acordado
A muito tinha esperado
A ocasião chegou
Praga, Pequim e Moscou
Foi este o itinerário
Do grande revolucionário
Feito de ferro e de flor.

Alguns meses viajando
Muita coisa conheceu
Cidades, fortes, museus
Horizontes devastando
Viu o progresso avançando
Sem patrão explorador
Viu a força e o valor
Do camponês e operário
Que alegra o revolucionário
Feito de ferro e de flor.

Estava entusiasmado
Pra conhecer a cidade
Bastião da liberdade
A heróica Estalingrado
Onde o povo e seus soldados
O nazismo esmagou
Todo um exército invasou
Foi transformado em bagaço
Por homens de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Eis porém que de repente
Recebeu um telegrama
É sua filha quem chama
Pedindo pra vir urgente
A campanha pra presidente
No Brasil já começou
O Marechal Lott apoiou
No processo sucessório
O camarada Gregório
Feito de ferro e de flor.

Com competência e estrutura
O partido se dispôs
Lançou em sessenta e dois
As duas candidaturas
Pelópidas pra Prefeito
Arraes pra Governador
O comitê se instalou
Comandou com eficiência
Um homem de experiência
Feito de ferro e de flor.

O governo de Arraes
Só durou quatorze meses
Porém para os camponeses
Trouxe vantagens reais
Os seus direitos legais
O governo assegurou
Camponês se organizou
A um nível satisfatório
Ajudados por Gregório
Feito de ferro e de flor.

Aqui mudarei o mote
Pra lhe contar a ação
De um herói desta Nação
Naqueles dias do golpe
Gregório tentou a sorte
De Palmares ele saiu
Para o Recife seguiu
Deixou esquemas montados
De homens pra ser armados
Era primeiro de abril.

Em prazeres encontrou
Um bloqueio do Exército
Gregório por ser esperto
Logo o bloqueio furou
Pra sua casa rumou
Tomou café com batata
Do Jeep trocou a placa
Seguiu pra folha do povo
Ver o que tinha de novo
Para cumprir outra etapa.

Na redação não achou
Nenhum dos seus companheiros
Nem recado com o porteiro
Ninguém pra ele deixou
Para a rua se mandou
À procura de ajuda
Encontrou Diógenes Arruda
Que vinha pela calçada
E lhe disse camarada
As armas que nos acuda.

Estou pronto pra lutar
Disse Arruda decidido
As tarefas do partido
Eu irei executar
Sem poder determinar
Tarefa ao revolucionário
Gregório foi aos bancários
Mas não pode chegar perto
Acuado pelo Exército
Mudou seu itinerário.

Em lugar do sindicato
Para o Palácio marchou
Foi ver o Governador
Tinha pensado de fato
Porque no último contato
A alguns meses atrás
Gregório disse a Arraes
Tenho homens pra lutar
Arraes disse vou pensar
Mas armas para os rurais.

Gregório ficou ciente
Que Arraes ia pensar
Passou logo a preparar
O espírito da sua gente
Pois o golpe era iminente
E pra defender as conquistas
O marxista leninista
Tinha que mudar de tática
E adotar uma prática
Consequente e realista.

Para o Jeep na calçada
E sobe um pouco descrente
Do secretário assistente
Encontra a porta fechada
Gregório sobe outra escada
E por Arraes procurou
Perto da sala encontrou
Três gorilas carrancudos
Que lhe olharam sisudos
E prenderam o Governador.

Completamente frustrado
Gregório sai intranquilo
Pois por isso ou por aquilo
Arraes tinha farrapado
Os seus esquemas montados
Estavam prontos pra lutar
Sem armas pra levar
Numa decisão histórica
Tomou uma atitude heróica
Voltou para desmontar.

Por falta de instrumentos
Pra se defender do mal
O trabalhador rural
Sofreu um grande tormento
Porque um golpe sangrento
Tirou seu Governador
O povo trabalhador
Perdeu nesse mesmo espaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Sem armas para levar
Foi desmanchar o que fez
De Catende até Cortês
Tinha gente a lhe esperar
Mesmo tendo de enfrentar
Os capangas e os soldados
Gregório deu seu recado
Responsável e consequente
Como um grande dirigente
De todo povo explorado.

Camponeses revoltados
Queriam de qualquer jeito
Sair na raça e no peito
Para enfrentar os soldados
Foice, estrovengas e machados
Não pode enfrentar metralha
Gregório não se atrapalha
Não basta estar motivado
Precisa estar bem armado
Pra se ganhar a batalha.

Numa estrada de pissarro
Nesta missão espinhosa
Perto da Usina Pedrosa
Teve cercado seu carro
O capitão Rêgo Barros
Sua prisão comandou
Gregório não se alterou
Não podia resistir
Sem ter como prosseguir
Para o Recife voltou.

Já perto de Ribeirão
Gregório foi assaltado
Por capangas e soldados
Do Vigésimo Batalhão
Com muita disposição
O capitão protestou
Com veemência usou
Toda sua autoridade
Defendendo a integridade
Do homem de ferro e flor.

Aquela corja tirana
Jurou Gregório de morte
Pistoleiros de Zé Lopes
Da Usina Estreliana
Terror da zona da cana
Por questões salariais
Assassinou três rurais
Na esplanada da Usina
Aquela fera assassina
Hoje está com satanás.

A firmeza do capitão
Deixa o bando vacilante
E resolvem ir ao comandante
De Vigésimo Batalhão
Seguiram pra Ribeirão
Ao chegarem no comando
O coronel foi falando
Vão ao Justino Alves Bastos
Ele manda nestes pastos
Façam o que estou ordenando.

Algemado e amarrado
Como se fosse um dragão
No lastro de um caminhão
Gregório foi empurrado
Fortemente escoltado
O comboio se deslocou
No Quarto Exército parou
Houve a conversa primeira
De Ibiapina e Bandeira
E o homem de ferro e flor.

Gregório foi insultado
Atado de pés e mãos
Por coronéis fanfarrão
Ele foi caluniado
De traidor foi taxado
A serviço de Moscou
Com firmeza protestou
Desmascarando a patota
Dizendo eu sou patriota
E defendo o trabalhador.

Vocês sim são entreguistas
Fazendo um triste papel
General e coronel
Lacaio dos imperialistas
Com honra sou comunista
Sou combatente leal
Na tribuna ou ilegal
Não saio da minha trilha
Vocês é que são gorilas
Fardados de oficial.

Um justo estava falando
Quando um carrasco surgiu
Com o coice do fuzil
Sua boca foi calando
Gregório caiu sangrando
Sem poder dar nem um passo
Os dentes cai aos pedaços
Assim sangrando bastante
Foi levado ao Comandante
O homem de ferro e aço.

O general perguntou
O que fazia afinal
Lá pelo canavial
Gregório então retrucou
Juntava trabalhador
Pra defender a Nação
Do golpe e da traição
Contra os governos legais
De João Goulart e Arraes
E da Constituição.

E aonde está guardado
As armas, teu arsenal
Não as tenho general
Se eu tivesse armado
Não estava sendo humilhado
Tava de armas nas mãos
Enfrentando a reação
Defendendo os proletários
Contra os latifundiários
Atraso desta Nação.

Sem ter como responder
O general fica às tontas
E ao Forte das Cinco Pontas
Ele manda recolher
Negaram-se a receber
Por estar cheia a prisão
Tomaram uma decisão
Lhe entregaram ao coronel
Comandante do quartel
De Motomecanização.

Igual a um cão danado
Villoque falando aos berros
Nas mãos um cano de ferro
Rodeado de soldados
Gregório chega amarrado
Foi recebido a porrada
Com a cabeça ensanguentada
Caiu no chão desmaiado
Villoque e os seus soldados
Usam o cano e as coronhadas.

É aqui caro leitor
Camponês e operário
Progressista reacionário
Liberal, conservador
Que o martírio começou
De um homem pobre e esquecido
Por compromisso assumido
De criar um mundo novo
Em defesa do seu povo
Dos menos favorecidos.

Gregório foi arrastado
Para dentro de um xadrez
Villoque por sua vez
Com o fossinho transformado
Batia como um tarado
Babava como um demente
Xingava como um vivente
Do mais baixo meretrício
Revelando os seus vícios
Uivava e rangia os dentes.

Com o corpo ensanguentado
Passando por maus momentos
Seguro por três sargentos
Numa cadeira sentado
Com os punhos amarrados
Gregório não se abate
Villoque com um alicate
Arrancando seu cabelo
Criou um novo modelo
Inventou uma nova arte.

Aumenta a patifaria
Do coronel comandante
Que ordena naquele instante
E um sargento providencia
Solução de bateria
Que derrama pelo chão
Gregório só de calção
É obrigado a pisar
Na solução passear
Aquilo era a lei do cão.

Sem ter como se livrar
De tanta barbaridade
Com toda dignidade
Só lhe restava aguentar
Seus pés queimados a sangrar
Manteve firma seu porte
Planejando a sua morte
Villoque diz aos sargentos
Vai ter um enforcamento
Na praça da Casa Forte.

Com o pescoço laçado
Com três cordas ao mesmo tempo
Puxado por três sargentos
Foi para a rua arrastado
O corpo todo amassado
As três cordas esticadas
De vez em quando puxadas
Para os lados e para trás
Quase sem respirar mais
As horas tavam contadas.

É quase impossível expor
O que a mente doente encerre
Em frente ao CPOR
Todo cortejo parou
Villoque então conclamou
Os alunos ao linchamento
Oficiais e sargentos
Como também os soldados
Deixam o coronel danado
Não atendem ao chamamento.

Sem conseguir seu intento
Villoque mais furioso
Batia e chamava o povo
Pra fazer o linchamento
Parado num cruzamento
O trânsito interrompeu
O povo não atendeu
Gregório mais resistente
Simboliza a sua gente
Qual um novo Prometeu.

Já distante do quartel
Por sugestão de um sargento
Prossegue o espancamento
Bárbaro covarde e cruel
Na casa do coronel
Um grupo então se formou
A mulher dele chorou
Ao ver tamanha maldade
Contra um homem de idade
Feito de ferro e de flor.

O sangue coagulado
Seu pescoço circulava
Nas condições que estava
Parecia um degolado
Estava quase enforcado
A sola dos pés queimada
As pernas muito pesadas
A cabeça era um bagaço
Gregório de ferro e aço
Já não enxergava nada.

O coronel lhe batia
Gregório já quase echangue
O vermelho do seu sangue
A farda verde tingia
Muita sede ele sentia
Os seus ouvidos falhava
Mulher e moça chorava
Gregório estava ciente
Seu corpo todo dormente
De frio ele tiritava.

Se ergue naquele instante
Grande clamor popular
Todos a telefonar
Ao general comandante
Católicos, espíritas e protestante
Pedem o fim da vilania
Todo o Recife exigia
Mesmo em situação precária
A cidade libertária
Protestava e resistia.

Sem ter como se negar
Aos apelos e protestos
Justino Alves num gesto
Foi obrigado a chamar
Ibiapina e mandar
Naquele mesmo momento
Ao Villoque e aos sargentos
Na praça da Casa Forte
Livrar Gregório da morte
Evitando o enforcamento.

Mas eram todos culpados
Daquele seu sofrimento
De general a sargento
Tava tudo planejado
Gregório foi resgatado
Pra Cinco Pontas voltou
Na fortaleza ficou
Vestido só de calção
Mostrou a televisão
O homem de ferro e flor.

Mas naquele mesmo forte
Haviam lhe recusado
Dizendo aqui tá lotado
Levem ele pra Villoque
Agora as portas da morte
Gregório foi recebido
Porque haviam mentido
Tava tudo combinado
Pra ele ser massacrado
Torturado e agredido.

Com a cabeça rachada
Com os pés em carne viva
Só sua fé decisiva
Se mantinha inalterada
Tinha uma sede danada
Vontade de vomitar
Não podia mastigar
Os dentes estavam em pedaços
Gregório de ferro e aço
Não podia nem andar.

Jogado lá pra morrer
No Forte das Cinco Pontas
Com ferimentos sem contas
Sem remédio pra beber
Conseguiu sobreviver
Apesar do seu estado
O corpo todo quebrado
Porém estava seguro
De sua fé no futuro
Num mundo sem explorado.

Qual um Tupi ou Timbira
Lambendo as suas feridas
Uma presença querida
Parecia até mentira
É sua filha Jandira
Que vinha lhe visitar
Lhe abraçou a chorar
Soluçando em seu regaço
E Gregório de ferro e aço
Como um Tamôio a falar.

Não chore filha querida
Não larguei o estandarte
A vida é combate
É luta renhida
Uma nova vida
Um dia há de vir
Muitos vão surgir
Nesta noite escura
E contra a ditadura
Nós vamos resistir.

Cumpro o meu dever
De revolucionário
Pelos proletários
Posso até morrer
Mas com certeza hei de ver
O fim do golpe fajuta
Mesma a força bruta
Só vai poder adiar
Porém não vai evitar
Que o povo ganhe esta luta.

Trazendo alguma comida
Lhe fazendo curativo
Era o melhor lenitivo
Pra curar suas feridas
Sua Jandira querida
Alivia a sua dor
A filha do seu amor
Sempre que deixam visita
Seu velho pai comunista
Feito de ferro e de flor.

Liberais e Jornalistas
À nível Nacional
Mostram o clima infernal
Nas masmorras dos fascistas
A imprensa progressista
Denunciam as torturas
Castelo nestas alturas
Manda o Geisel e o Mourão
Em visita de inspeção
Aos cárceres da ditadura.

Nas Cinco Pontas chegaram
Ernesto Geisel e Mourão
Em nome da comissão
A masmorra visitaram
Voltando ao Rio negaram
Que houvesse torturados
Viram Gregório arrasado
Mas não falaram a verdade
Embora toda a cidade
Já conhecesse os culpados.

Formou-se outra comissão
A igreja advogados e jornalistas
Desembargadores e juristas
Para informar à Nação
Visitaram a prisão
Com Gregório conversaram
Estarrecidos ficaram
Com o que Gregório contou
Tortura crime e terror
Ao mundo denunciaram.

Seis meses encarcerado
Transferido um certo dia
Pra segunda companhia
Numa cela foi trancado
Um cubículo isolado
Havia fezes no chão
Da limpeza a negação
Os coronéis carcereiros
Humilham o prisioneiro
Herói vivo da Nação.

Três dias de interrogatório
Sem fazer uma refeição
Dormiu num velho colchão
Sem latrina ou mictório
Mas a fibra de Gregório
A tudo prevaleceu
Aos coronéis respondeu
Altivo firme e seguro
Confiante no futuro
Seu partido defendeu.

Terminada a inquisição
Aumenta a sua grandeza
Voltou para a fortaleza
Comeu arroz e feijão
Tomou banho com sabão
Uma roupa limpa botou
Da catinga se livrou
Quando saiu do banheiro
O grande herói brasileiro
Feito de ferro e de flor.

No Forte das Cinco Pontas
Onde morreu Frei Caneca
Como um guerreiro asteca
Gregório não desaponta
Um dia vão prestar conta
Como classe em extinção
Pra Casa de Detenção
Gregório foi transferido
Lá encontra uns conhecidos
Naquela velha prisão.

Doente do coração
Em três processos enquadrado
Num deles foi condenado
A dezenove de prisão
Teve uma complicação
Por ter sido torturado
Da próstata foi operado
No hospital Centenário
O velho revolucionário
Melhorou o seu estado.

Com muita satisfação
E também muito firmeza
Testemunhou em defesa
De Francisco Julião
Com ardor e emoção
Sua boca libertária
Defende a reforma agrária
Que na reação esbarra
Seja na lei ou na marra
Para o povo é necessária.

Na Auditoria conheceu
Henrique Pereira Neto
Um padre muito correto
Tornou-se um amigo seu
Apesar de ser ateu
O padre lhe estimava
Com Gregório se encontrava
Para trocar impressão
Nos assuntos em discussão
Quase sempre concordava.

Cinco anos se passaram
Quando foi um belo dia
Todos os jornais dizia
E os rádios noticiaram
Os gorilas se assustaram
Porém o povo vibrou
Sequestraram um embaixador
Do governo americano
E pra salvar o fulano
Quinze presos libertou.

Esse ato praticado
Por guerrilheiros urbanos
Que executando um plano
Deixou o mundo espantado
O governo acuado
Ao comando se dobrou
Os políticos libertou
Na relação de ativista
Encabeçava esta lista
Gregório de ferro e flor.

Mas Gregório era contrário
Aquela forma de ação
Pra ele a revolução
É obra dos proletários
Um comando revolucionário
Não substitui as massas
Pra ele era uma trapaça
Um punhado de homem armados
Todos eles equivocados
Com muita coragem e raça.

Gregório foi escoltado
No dia seis de setembro
Mais um fato que relembro
Foi o seu comunicado
Aceito ser libertado
Pra salvar o embaixador
Respeito quem planejou
Porém discordo do traço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

A escolta se mandou
Por ruas e beco escuro
Fez um roteiro seguro
Nos Guararapes chegou
Num avião embarcou
De pés e mãos algemados
Com sorrisos foi saudado
O grande herói brasileiro
Por quatorze companheiros
Que também tavam algemados.

Sentiu uma ansiedade
Quando o avião decolou
Gregório o Recife olhou
Sua querida cidade
No rumo da liberdade
Com os companheiros partiu
Para o México ele seguiu
Com um sentimento profundo
Pra ser cidadão do mundo
O camponês do Brasil.

No México ele foi saudado
Pelo povo da cidade
Com muita hospitalidade
Recebeu os deportados
Das algemas libertado
Tava livre dos gorilas
Comemorou com tequila
Com os demais companheiros
Gregório herói brasileiro
Na terra de Pancho Vila.

No México foi bem tratado
Alguns templos conheceu
Cidade antiga, museu
Por ele foi visitado
Vinte e dois dias passado
Na capital mexicana
Pra todos muito bacana
Porém teve que partir
Com os companheiros seguir
Para a capital cubana.

No aeroporto de Havana
Fidel Castro lhe esperava
Honras de herói lhe prestar

Autoridades cubanas
A cidade se engalana
E recebe o troço guerreiro
Neste país altaneiro
Se encontra mano a mano
Fidel Castro herói cubano
E Gregório herói brasileiro.

Terminada a homenagem
Gregório foi descansar
Precisava repousar
Pra poder seguir viagem
De Cuba viu a paisagem
Povo cantando em seresta
Com trabalho pão e festa
Porém de armas na mão
Defende a revolução
Dos traidores que resta.

Por sua pequena estada
Gregório deixou de ver
E alguns pontos conhecer
Da pequena Cuba amada
O histórico quartel Moncada
Na Província de Oriente
Nem escambrai dos valentes
Província de Sta. Clara
A terra onde Guevara
Deixou o povo contente.

Nem a cidade escolar
No pé da Serra Maestra
Com a caneta na destra
Camponês vai estudar
Não pode ouvir o cantar
Da camponesa brejeira
Guajira Guantanameira
Da cidade de Guantânamo
Vigia o americano
Na base de Caimanera.

Praia Girom libertário
Gregório não pode ver
Onde cumpriu seu dever
Camponês e operário
Com armas os proletários
Leva o americano a breca
Com a metralheta checa
Defende o socialismo
E derrota o imperialismo
Em terras de nossa América.

Mas visitou a Embaixada
Do heróico Vietnã
Gregório que era um fã
Da resistência provada
Na desigual luta armada
Do povo vietnamita
Sua coragem infinita
Sua determinação
De enfrentar de armas na mão
O gringo imperialista.

Em Cuba a reforma agrária
E a reforma urbana implantada
Não se fez negociada
Foi ação revolucionária
Camponês classe operária
Derruba o capitalismo
Constrói o socialismo
Com muita dificuldade
Na ilha da liberdade
Livre do analfabetismo.

Levando muita saudade
Deixou a linda Cubana
Morena da cor de cana
Rumbeira da mocidade
Cantora da liberdade
Aurora do povo em flor
A doença lhe obrigou
Em pouco tempo partir
Do aeroporto Martí
Pra cidade de Moscou.

Ao descer do avião
Na União Soviética
Recebe assistência médica
E remédio pro coração
Tomada a medicação
Em pouco ele melhorou
Num automóvel embarcou
Logo depois conduzido
Para um hotel do partido
Gregório estava em Moscou.

O camarada ativista
Que foi receber Gregório
Preparou um relatório
Depois de uma entrevista
O partido comunista
Logo providenciou
Pro hospital lhe mandou
Muito bem recomendado
Que o herói a ser tratado
É feito de ferro e flor.

A grande dedicação
Do Governo Soviético
Dos enfermeiros e médicos
Lhe põem de novo em ação
Das dores do coração
Quase bom ele ficou
Dos outros membros tratou
Desde a vista até o baço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Dez anos ele viveu
Com o povo soviético
Percorreu os centros técnicos
Fábrica, campo e museu
Monumentos conheceu
Por muita cidade andou
Muita escola visitou
Viu homens indo ao espaço
Gregório de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Aquela grande Nação
Construiu o Socialismo
No rumo do comunismo
Se encontra em transição
Lá não existe inflação
Nem patrão explorador
Ra todo trabalhador
Tem emprego assegurado
Todos trabalham pro Estado
Do camponês ao doutor.

Os lucros da produção
Vai todo para o Estado
Pagar salário adequado
De acordo com a profissão
Pra todos a educação
O governo assegurou
Quem quiser vai ser doutor
O ginásio é obrigatório
Isto agradava a Gregório
Feito de ferro e de flor.

Capaz de grande heroísmo
Construtor de um mundo novo
Gregório viveu com o povo
Destruidor do nazismo
O marxismo, leninismo
Norteia suas ações
Apoiando as nações
A se libertar do mal
Do jugo colonial
Por qualquer das opções.

Nação mãe revolucionária
A União Soviética
Põe o progresso e a técnica
Na ajuda a ação proletária
Apoia a classe operária
Política e material
Pra enfrentar seu rival
Ocupando o seu espaço
Enterrando passo a passo
O resto do capital.

Contribuindo com a história
Do movimento operário
Nosso herói revolucionário
Escreveu suas memórias
Denunciou a escória
De agentes torturador
Sua fé reafirmou
Na era do comunismo
Pois só o socialismo
Liberta o trabalhador.

Gregório foi convocado
Para o comitê central
Subindo mais um degrau
Sentiu-se muito honrado
Camarada respeitado
Um soldado do partido
Nas ações um destemido
Numa busca idealista
De um mundo socialista
Para os pobres desvalidos.

Dez anos no estrangeiro
Passou o mundo em revista
Nos países socialistas
Cumpriu extenso roteiro
Notícia dos brasileiros
Ele sempre recebia
Em toda parte que ia
Gregório dava entrevista
Denunciando os fascistas
Batalhando noite e dia.

Na Alemanha Oriental
Gregório fez novos planos
E com David Capistrano
Deu um balanço geral
Quanto ao fator principal
Do golpe da reação
Chegaram a uma conclusão
Em face do acontecimento
Despreparo do partido
E erro de avaliação.

Mas no Brasil prosseguia
A luta para valer
Metalúrgicos no ABC
E a campanha da anistia
Toda Nação exigia
A volta dos exilados
Do povo se escuta o brado
Ampla geral e irrestrita
Do gari ao cientista
Todos estavam engajados.

O governo insistia
Em só fazer revisões
Em algumas punições
Porém a pressão crescia
Queremos é anistia
Gritava o país inteiro
E o governo cabreiro
Com a pressão recuou
Uma anistia aprovou
Com seu projeto Matreiro.

A anistia aprovada
Gregório estava em Moscou
Sua maleta arrumou
Pra voltar à Pátria amada
Deu adeus aos camaradas
E aos amigos que fez
O nosso herói camponês
Ia voltar decidido
A refazer seu partido
Começar tudo outra vez.

E que a longa repressão
E os erros cometidos
Levaram o seu partido
A uma grande confusão
A estratégia pra ação
Leva o partido ao impasse
Colocando face a face
No núcleo de direção
Uns com a conciliação
Outros com a luta da classe.

Quando no Brasil chegou
Mais de três mil esperava
Gente sorria e chorava
Gregório a todos falou
Novamente aqui estou
Vamos lutar outra vez
Quero contar com vocês
Pra refazer o partido
E defender decidido
O operário e o camponês.

Muita falta sentiremos
Para cumprir nosso plano
Bonfim, Hiram, Capistrano
Camaradas que perdemos
Deles nunca esqueceremos
Não vamos choramingar
Não perdem por esperar
Vamos seguir decididos
Os nosso mortos queridos
Um dia vamos chorar.

Alguns encontros marcados
Em São Paulo foi previsto
Um com Dom Paulo Evaristo
Cardeal daquele Estado
Nome dos mais destacados
Pela anistia lutou
Gregório lhe visitou
Foi levar o nosso abraço
O homem de ferro e aço
Ao Cardeal leva flor.

Causou imenso prazer
Ao herói revolucionário
Falar com o líder operário
Da Região do ABC
Gregório foi conhecer
O Lula Pernambucano
Saber qual era o seu plano
Numa estratégia geral
Pra vencer o Capital
Sem cometer mais engano.

Em São Paulo e Rio de Janeiro
Alguns dias descansou
Com amigos conversou
Discutiu com companheiros
Comunistas brasileiros
Avançam, na discussão
Pra tomar uma decisão
E colocar o seu partido
No caminho decidido
E acabar com a exploração.

Para dar um passo avante
Para o Recife voltou
No aeroporto encontrou
Trabalhador e estudante
Encontro emocionante
O povo todo aplaudiu
Do aeroporto seguiu
Pra ser homenageado
Dez anos foram passados
Desde que ele partiu.

Gregório falou bonito
No DCE de estudantes
Dizendo ninguém se espante
Tudo que fiz eu repito
No meu livro está escrito
O que vai acontecer
As greves do ABC
De Paudalho e São Lourenço
Provam que eu tenho bom senso
Nosso povo vai vencer.

Para atingir esse intento
É urgente organizar
Uma frente popular
Entre os vários segmentos
Dotá-la de um instrumento
De vanguarda proletária
Camponês classe operária
Precisam se entender
Pra conquistar o poder
Na ação revolucionária.

Por isso uma discussão
Avança nesse sentido
E eu estou decidido
A dar contribuição
Fazer a revolução
É dever dos comunistas
Marxistas leninistas
Não traem seu ideal
E no Brasil atual
Não podem ser reformistas.

Com as palavras de fé
Com seu ardor libertário
Nosso herói revolucionário
Foi aplaudido de pé
Ao sair do DCE
O povo o acompanhou
Com carinho e com amor
Acolhendo no regaço
Seu herói de ferro e aço
Mas um coração de flor.

Desse dia em diante
Gregório entra em ação
Sua participação
É fator determinante
Como grande comandante
Capaz e experiente
Reuniu a sua gente
Refazendo seus contatos
E discutindo alguns fatos
Pra decisões iminentes.

É que o comitê central
Órgão maior do partido
Se encontra dividido
Num ponto fundamental
A estratégia geral
No Brasil monopolista
Pra uns nacionalistas
Com a conciliação
Pra outros contra o patrão
No rumo socialista.

Em histórica decisão
O secretário geral
Deixa o comitê central
Fazendo uma exortação
Tomem o partido nas mãos
Para fazê-lo classista
Numa carta aos comunistas
O secretário geral
Resgatou o ideal
Marxista leninista.

Quando Luís Carlos Prestes
Divulga a carta mensagem
Gregório como uma aragem
Percorre todo o Nordeste
Tou solidário com Prestes
Ombro a ombro marcharemos
O partido que queremos
Será revolucionário
De camponês e operário
E isto nós o faremos.

Construir o socialismo
Sempre foi nosso ideário
Somos revolucionários
Porém sem sectarismo
Desmascarar o reformismo
A traição ao trabalhador
Faremos com destemor
E será esta a herança
Do cavaleiro da esperança
E Gregório de ferro e flor.

Eis aí caro leitor
Fiz a minha louvação
De um herói desta Nação
Que um poeta cantou
Feito de ferro e de flor
Na firmeza e na doçura
Enfrentando a ditadura
Sem nunca torcer o braço
Gregório de ferro e aço
Jamais perdeu a ternura.

FIM.

"GREGÓRIO BEZERRA", PRESENTE!

"Querido camarada Gregório, ninguém te derrotou, nem os longos anos de prisão, nem as torturas, nem as humilhações que te quiseram impor, arrastando-te pelas ruas da tua querida Recife, nem a morte, porque estás vivo entre nós e não te dizemos adeus. Nada conseguiu te tirar do caminho do socialismo. Entendeste o que é o socialismo porque é o regime humano, onde não há exploração do homem pelo homem. Aprendemos todos nós com teu exemplo e tua fidelidade ao marxismo-leninismo. E continuaremos tua luta. Nesta hora em que lutamos contra uma ditadura cruel, não temos medo de medidas de emergência. Lutaremos pela paz, contra a fome, contra a ditadura e pelo socialismo. Te amamos ontem, te amamos hoje e continuaremos te amando pela vida afora".

Maria Aragão

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