Recife, 03 de maio de 2001.
Dra.
Mércia,
Quando avistei
a senhora ao entrar na Ouvidoria, pensei “reencontrei a minha mãe”,
e o resto a senhora sabe que terminei hospitalizado.
Lembro-me
o ontem como se fosse o hoje, espancado por agentes da Secretaria de
Segurança Pública, e levado para a delegacia do Pina, onde fui
submetido a todo tipo de crueldade, sem mesmo saber porque estava sendo
preso. Ainda hoje, sinto consequências das torturas que sofri.
Da
Delegacia do Pina, fui conduzido ao IV Exército, onde permaneci, algum
tempo torturado, quando me apareceu uma luz, a senhora que começou a
denunciar os absurdos, e impetrou-me um habeas-corpus que foi negado,
logo depois a senhora impetrou o segundo e ganhou, tive a liberdade e
respondi o IPM em liberdade e a senhora me ajudando e sempre dizendo,
nenhuma ditadura é eterna. Da maneira que as coisas estão, esta
ditadura tupiniquim cairá mais rápido do que você pensa.
Ainda
me lembro, que a senhora no seu misticismo, anunciando fatos que logo
aconteciam, o que me dava fé para os funerais da ditadura.
Tempos
cruéis. Mortos os estudantes Jonas e Ivan por um cabo do Exército
Waldemir, vulgo Zig-Zig, que morreu há pouco em Ipojuca de câncer nos
testículos na mais cruel miséria.
A
senhora sabe tempos sangrentos pau, pau, injustiça, assaltos, extinção
da cidadania um cabo, ameaçava, fazia calar um coronel.
Miranda,
Dário, Roberto Riva, Fausto, agentes da Polícia Militar torturavam,
matavam e estupravam.
Eu
lhe adoro, “Joana D’Arc Pernambucana”, que imolou a juventude em
prol da LIBERDADE.
REGINALDO
GONÇALVES DE LIMA
|