Natal, 06-06-77
Mércia,
Eu estive em
Recife, sábado, dia 04-06-77, tentando falar com você. Cheguei por
volta das 12;45, toquei a campainha, bati na porta, mas ninguém
atendeu. Segundo uma vizinha, você deveria ter ido passar o fim de
semana fora. Como não pude lhe encontrar nem tampouco, tinha condições
de ficar, voltei às 15:00.
Sem
dúvida um contato direto seria melhor já que não tenho a mínima
informação de nada. O que pretendem os homens? Segundo você a condenação,
com o atual auditor será inevitável. Mas, pergunto, por quanto tempo?
Se já passei dois anos e dois meses quanto tempo eles pretendem dar:
cinco, seis... O único processo que nos resta é o de organização e,
parece-me, raramente aplica-se a pena máxima de cinco anos – a não
ser apelando para os artigos de “organizações armadas” etc.
Bom,
diante de tudo isto, resta-me a incógnita, e, talvez, a perspectiva de
“apodrecer” na cadeia. Portanto peço-lhe, mais uma vez, que detalhe
um pouco mais a situação – se possível – pois estou completamente
“ilhado”, à mercê das marés.
De
acordo com sua última informação tive de alertar o pessoal firma,
ensinar o meu serviço a outro pois não sei o que virá; pôr em ordem
minhas coisas, débitos etc., a fim de esperar o temporal – você sabe
o que significa voltar para Itamaracá. O resto é serenidade e firmeza.
Descreva-me
a situação, friamente, para que eu possa tomar pé, certo?
Um
abraço e meus agradecimentos,
Moisés
Domingos Sobrinho.
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