Natal, 26/04/76
Prezada
amiga,
Já faz algum
tempo que não recebo notícias daí. Sei muito bem de seu pouco tempo e
das dificuldades para escrever uma carta. De acordo com sua última, os
homens (...) dispensados das audiências, o que não deixa de ser bom
devido até dificuldades financeiras. Todavia fico apreensivo sem saber
dos acontecimentos: se já houve julgamento, melhor, audiência, quando
será o julgamento. Isto porque estou incluído, tragado pela rotina
dessa vida comum, sem saber do futuro.
Sem
muitas dificuldades consegui trabalhar ganhando salário apenas, até
aparecer algo melhor, contudo é melhor que ficar parado. E assim o
tempo disponível desapareceu. É o corre-corre urbano –
casa-trabalho-trabalho-estudo-folga-breve. Mas que se há de fazer? Até
melhorar a situação é ir “se aguentado”.
Uma
cunhada minha mostrou-me uma pequena escultura feita por um anônimo –
pois ela ainda não conseguiu localizar bem. Trata-se da escultura de um
mendigo carregando um saco velho nas costas – mas que perfeição!
Rica em detalhes, cheia de realismo – pelo menos foi o que senti ao vê-la.
Tentarei localizá-lo a fim de conseguir algo semelhante para você; se
não localizá-lo tentarei uma baiana que tem uma arte toda especial nos
trabalhos decorativos. Espere um pouco e quando houver oportunidade eu
lhe enviarei alguma coisa.
Dos
outros meninos não tenho notícias, pois o tempo agora é pouco demais
e eles moram distantes.
Na
primeira oportunidade mande-me alguma coisa.
Um
forte abraço para você, Maria, o rapaz que vive com vocês, o
garotinho e os amigos de Recife.
Lembranças
a todos.
Moisés.
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