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          Sem data   
           
  J. 
          G. S. Maia   
           
  Busco
  o futuro, mergulho no passado.
  
   
  O
  pequeno filósofo do PCBR estava preso.
  
   
  O
  nosso encontro foi melancólico, tenso, pois estava advertida que iria
  defrontar-me com um delator. Ele, pálido, desestruturado emocionalmente,
  fisicamente arrasado, olhava-me assustado, em posição fetal. Repetia-me
  “quase noventa nomes eu falei”. “Falei quase noventa nomes. Eu não
  queria. Não queira”.
  
   
  Deixara
  a faculdade de medicina para assaltar bancos. Vinha de uma vida que se
  transformara em nada, em face de uma cruel descoberta.
  
   
  A
  minha missão era arrancar-lhe as delações, e depois renunciar a causa.
  Cumpri a primeira parte, mas a segunda recusei-me a cumpri-la.
  
   
  Defendi-o
  com o mesmo ardor que defendi heróis e pseudo-heróis, sofrendo pressão de
  certo grupo de esquerda.
  
   
  Pela
  primeira vez observei o binômio neurótico torturador e torturado. A
  necessidade que sentia o tenente C?. de demonstrar a submissão do torturado.
  A postura do corpo revela, todos os sentimentos do homem. A presença do
  torturador anulava o torturado, reduzia-o a nada.
  
   
  Meu
  caro Gercino, não sei exatamente que caminhos percorrestes para chegares a
  mim. Não sei o que te fizeram, para buscares p PCBR como uma forma de
  autodestruição, por isto não te julgo. 
  
   
   
  
  
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