Cândido
Pinto atrás de uma reparação
Jornal do Commercio Recife - 27.04.2001
Sexta-feira
Trinta e dois anos depois do atentado que
o deixou paraplégico – a se completarem amanhã, 28 de abril – o
ex-líder estudantil, e hoje engenheiro e presidente da Emprel –
Empresa Municipal de Processamento de Dados, Cândido Pinto, deu
entrada, ontem, na Secretaria de Justiça, ao pedido de indenização
por parte do Estado de Pernambuco. A reivindicação pretende, na
prática, que o Estado reconheça a sua responsabilidade pelo episódio,
acontecido em 1969. Os valores monetários previstos em lei,
classificados por graus de seqüelas físicas, psíquicas, morais e
financeiras, são considerados ‘simbólicos’ por anistiados e
ex-presos políticos.
O gesto do ex-presidente da União
Estadual dos Estudantes (UEP), Cândido Pinto, que residia em São Paulo
desde que foi se tratar do atentado, foi acompanhado por entidades de
direitos humanos e vítimas do regime militar. O secretário-adjunto de
Justiça, Marcos Esteves – o titular Humberto Vieira está em viagem
– e o ouvidor geral de Justiça, Frederico Barbosa, receberam a
documentação. “A consciência da sociedade pernambucana exige que o
Estado assuma a responsabilidade pelas vítimas da violência, da
tortura, desaparecimentos e mortes”, ressaltou Cândido.
O pedido do engenheiro e presidente da
Emprel, na gestão de João Paulo (PT), nA?t???a PCR, é o de número 223. O
prazo vai se encerrar em 24 de maio próximo. A lei estadual prevê a
indenização às pessoas atingidas pela repressão política do regime
militar de 1964 (Lei nº 11.773/2000), em valores que variam de R$ 3 mil
a R$ 30 mil. A indenização tem mais o valor simbólico de reparação
moral, segundo o ex-líder estudantil. “Ninguém pode medir o dano
causado pela tortura, pela perda de um pai ou de um filho”, afirmou
Cândido Pinto. “O teto é irrisório para o meu dano. Perdi os
movimentos físicos aos 21 anos. Se me mantenho, hoje, é por muito
esforço pessoal”, completou. O secretário-adjunto de Justiça,
Marcos Esteves, revelou que o secretário Humberto Vieira determinou “o
encaminhamento imediato da documentação para a avaliação da
comissão de análise instituída pela lei”.
Participaram do ato integrantes da
Associação Pernambucana de Anistiados Políticos (Apap); a
coordenadora do Tortura Nunca Mais, Amparo Araújo; o irmão do
estudante desaparecido Fernando Santa Cruz e coordenador do Centro Dom
Helder Câmara ( Cendhec), Marcelo Santa Cruz; ex-presos políticos como
Marcelo Mário Melo e Chico de Assis; e a advogada de presos políticos,
Mércia Albuquerque. O presidente da Apap, Antônio Campos, cobrou do
Governo a divulgação, no Diário Oficial, da lista parcial dos 71
pedidos de indenização já aprovados. “Alguns desses companheiros
estão morrendo, outros muito doentes e na penúria financeira. Podem
morrer sem ver o dinheiro”, disse
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