Campinas,
14 de janeiro de 1970
Querida
Mércia,
Há muito tempo estou
para lhe escrever. O fato é que minhas atividades materiais e um fim de ano
com viagem ao Rio, fizeram com que o ano terminasse sem que eu realizasse o
meu intento. Você é sempre lembrada por mim e por Roberto e se não escrevo
com frequência é simplesmente por falta de tempo.
Bem,
aqui estamos a iniciar o novo ano. Temos a sensação de coisas estáticas,
sem perspectivas de mudanças e por isso, ele nos apresenta triste. Como
será? Continuamos nossa vida pequeno-burguesia, mas estamos felizes. Ainda não
tenho nada em vista para começar a trabalhar. Alexandre, que está forte e
sadio, é minha única ocupação e ainda não tenho coragem de deixá-lo com
a empregada. Estou deixando o tempo passar e ele crescer mais um pouco.
Tenho
em mãos sua carta de 6 de outubro. É revoltante o que lhe fizeram. Está
tudo em “paz” agora?
Não
recebi (infelizmente) os bonecos. Roberto lamentou muito, pois gostaria de ter
em casa uma lembrança material sua. Quem sabe, poderemos cobrar da vizinha
quando formos aí?
E
você Mércia, como vai? Ainda não se dispôs a vir descansar uns dias
conosco? Quando quiser, é só avisar. Como vai Aradin? E Octavio?
A
coisa é velha, mas quero lhe dizer. Minha irmã me mandou os jornais daí,
quando da partida de Gregório Bezerra, para que eu soubesse de sua humana
atuação. Comovi-me, Mércia, com os seus cuidados para com o velho lutador.
São gestos como aquele que me fazem admirá-la cada vez mais.
Estamos
pretendendo ir a Recife nos próximos meses. Roberto tem uma viagem de serviço
ao norte e férias a gozar em seguida. Queremos levar Alexandre para conhecer
os avós. E nós dois, matar as saudades dos amigos.
Desejamos
a você e a toda a família as mais possíveis alegrias neste novo ano.
Aqui
fico, com abraço afetuoso e amigo,
Ofhelia.
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