Recife, 30 de abril de 1974
Dr. J. Correia de Carvalho
Vimos a sua presença, solicitar que
medidas urgentes sejam tomadas, a fim de que os presos políticos não
sejam assassinados, e que sejam tratados com humanidade.
Já é de conhecimento do senhor, e do órgão que preside, as
violências que vêm sofrendo os detentos políticos desde que foram
transferidos para o Presídio Barreto Campelo em Itamaracá.
O Dr. EDNALDO BORBA, tomando conhecimento das denúncias feitas a esse
órgão, e das denúncias feitas pelos advogados e pelo deputado JARBAS
VASCONCELOS, resolveu vingar-se dos presos e em sua guarda, e os
transferiu para a parte mais inóspita do presídio apenas com as roupas
que usavam àquele dia vinte e seis (26). As cinco horas da manhã, são
despertados para o refeitório, proibidos de falar, e ameaçados,
aviltados pelo sargento e a guarda, que apontam para o grupo fuzis.
O guarda Valdevino, alcunhado de VAMPIRO, há poucos dias apropriou-se
de jogos de presos (damas e dominó) e os ameaçou quando protestaram de
espancá-los e matá-los. As provocações de Valdevino e dos guardas
alcunhados de MOUCO e CARECA, são constantes, pretendem um choque para
justificarem uma hecatombe.
Foram também os presos prevenidos, que se desejassem manterem relação
sexual, seriam vigiados por um guarda armado de fuzil, o que não
aceitaram os reclusos.
Há também os espancamentos dos presos comuns quase que diariamente.
Foi também nomeada uma senhora semi analfabeta, que usando luvas
ginecológicas, se propõe a fazer exames nas visitantes.
Desde que os detentos políticos chegaram no presídio Barreto Campelo,
que o Diretor Dr. EDNALDO BORBA passou a hostilizá-los, e tratá-los
como cães, quando de propriedade de pessoas desestruturadas.
Solicitamos ao nobre advogado, que seja nomeada uma comissão para
apurar os fatos, e que o conteúdo desta seja remetido ao governador,
que sendo Juiz, poderá tomar também providências.
Aguardamos tranquilas, a decisão do senhor como advogado, pai, e
sobretudo cidadão.
Acompanha um documento.
(Assinaturas)
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