Belo Horizonte, 07 de abril de 1973
Prezada Mércia,
Há dias queria escrever-lhe, mas, antes,
queria alguma solução dos casos em que você me passou para
acompanhar.
Vão eles: JOSÉ SALLES DE LIMA, Recurso Criminal n.º 4783, Relator
Amarílio Salgado. Tive vista dos autos, após o parecer do procurador
que foi pela manutenção da decisão, alegando não existir nos autos
prova que, digo, de que o Ministério Público não recorreu (apelou).
Se lhe fosse possível, pediria que me mandasse tal prova, para
apresentá-la ou com memorial ou com a sustentação oral. Eu requeri,
nos autos, fosse baixado em diligência para colher tal prova, mas não
sei qual foi o despacho. O processo está prestes a entrar em mesa para
julgamento.
O caso de ERLITA, deixei somente a cargo de Beth e ela só fica no
escritório à tarde, até às 18:30 horas, mais ou menos.
Tereza e Juliano: já está encaminhado o pedido de livramento
condicional e estou preparando, em ambos os casos, os respectivos HCs.
Aquele despacho do Dr. Telles de que me falou na última carta, não
tive condições de ver no STM porque você mandou o n.º do processo da
Auditoria. É preciso mandar o n.º do Ofício que encaminhou bem como o
nome do interessado para ser possível a localização.
De processo, acabou. Agora quero saber como anda essa terra maravilhosa,
como você está, se estão deixando trabalhar tranquila, enfim, como
anda tudo por aí.
Não sei se você viu no Jornal do Brasil de 21, 22 e 23 de março
último - página policial - que tivemos um julgamento enorme aqui e que
o promotor, ao invés de acusar os meus constituintes, decidiu a me
acusar. Foi bastante tumultuado e estou ameaçado de um processo.
Não estou ligando muito para isto porque, em 1º lugar, confio na
Justiça, em 2º, os Auditores são meus amigos e em 3º, aliás o
principal, em verdade nada existe contra mim, a não ser a intriga do
promotor, que é meu inimigo há mais de um ano.
Mas, se alguma coisa houver, será CPM (art. 351 ou 350) e disto cabe HC
e, se, por ventura, for denunciado, vou tentar trancar a Ação Penal
através de Habeas Corpus que pretendo seja assinado por todos os
advogados militantes de Justiça Militar a quem conheço. Deu para
entender? Pois é, se isto acontecer, conto com sua colaboração.
Além disto, tudo por aqui vai bem. Recentemente, recebi uma visita de
Sérgio e de Gilseone e acabamos tomando um "porre". Foi
genial. Falamos muito em você - e lógico, falamos bem. Tenho certeza
de que a sua orelha não queimou.
Mércia, estou aqui para servi-la no que estiver ao meu alcance. Não se
acanhe em nada. Aguardo sua vinda a Belo Horizonte, ok?
Dê recomendações à Tereza, à Erlita e ao Juliano. Diga a Teca que
recebi a literatura que me mandou e que estou achando genial.
Um grande abraço do amigo de sempre.
Afonso.
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