COMISSÃO BRASILEIRA JUSTIÇA
E PAZ
II Encontro Nacional de Comissões Justiça e
Paz
Resumo de encaminhamentos
O II Encontro Nacional de Comissões Justiça e Paz,
realizado em Brasília de 24 a 26 de novembro
de 2000, em continuidade ao I Encontro
realizado em 25 e 26 de março do corrente
ano, reuniu 32 pessoas, representando
9 Comissões Justiça e Paz, 5 Comissões
e Centros de Defesa dos Direitos Humanos,
2 Pastorais Sociais Diocesana e 7 representantes
da Comissão Brasileira Justiça e Paz.
A principal prioridade de trabalho estabelecida no I Encontro foi a fiscalização
da aplicação da Lei 9840, contra a corrupção
eleitoral. Os participantes do II Encontro
iniciaram seus trabalhos avaliando os
resultados dessa ação, os avanços registrados
e as dificuldades encontradas.
A conclusão geral a que se chegou foi a de que os resultados foram positivos
onde existiram Comitês 9840 ou outras
organizações que divulgaram a Lei e puderam
atuar na sua fiscalização, ou onde a Justiça
Eleitoral e o Ministério Público se empenharam
nesse sentido.
Em inúmeros lugares, no entanto, a Lei 9840 foi praticamente ignorada,
pelo menos quanto a denúncias e punições
de infrações. O hábito da impunidade e
o poder político de muitos candidatos
- inibindo muitas vezes a própria
Justiça Eleitoral - fez com que abusassem
ostensivamente desse método para captar
votos, e usassem até mesmo a violência
para se impor.
Os participantes do Encontro consideraram que uma real e importante novidade
foi o fato de se ter passado a saber,
de forma geral em todo o país, graças
especialmente às pequenas inserções do
TSE nas TVs, que a compra de votos constitui
um crime. Isto inibiu muitos candidatos
que usavam habitualmente esse método,
tendo inclusive impedido sua eleição.
O que ficou no entanto menos conhecido foi a própria Lei 9840, e portanto
o fato de se dispor agora, com essa Lei,
de um remédio mais eficaz para combater
esse crime. Isto se revela até hoje em
reportagens jornalísticas e matérias de
formadores de opinião, assim como pelo
fato de não se ter dado maior importância,
na imprensa, à divulgação das inúmeras
punições efetivadas, alimentando a descrença
na possibilidade de se acabar efetivamente
com a compra de votos e o uso da máquina
administrativa.
O respeito à Lei 9840 exige na verdade uma profunda mudança na cultura
política brasileira – em práticas arraigadas
de políticos e de eleitores e na própria
atuação da Justiça Eleitoral. Os participantes
do Encontro consideraram então que de
fato o que se conseguiu foi iniciar um
processo de mudança, e que é portanto
fundamental dar continuidade a esse processo,
para aprofundá-lo e consolidá-lo. Nessa
perspectiva, consideraram que era muito
importante bem preparar as eleições do
ano 2002, tanto no que se refere à fiscalização
da Lei 9840 como ao processo educativo
que a acompanha.
Após essa avaliação, os participantes do Encontro fizeram coletivamente
uma análise da conjuntura nacional e,
levando em conta as demais prioridades
definidas no I Encontro, discutiram as
perspectivas de trabalho que agora se
apresentam para as Comissões Justiça e
Paz.
Considerados os encaminhamentos abaixo indicados, foram fixados os dias
5, 6 e 7 de outubro de 2001 (com chegada
no dia 4 à noite) para um III Encontro
de CJPs, decidindo-se que deverá se realizar
em Brasília.
Na avaliação feita ao final do Encontro, este foi considerado de forma
geral bastante positivo pelos participantes,
tanto no seu conteúdo e dinâmica e condições
do local como nas orações e celebrações,
embora alguns tenham sentido que estas
faltaram no seu início. Foi sugerida a
realização, no começo do próximo Encontro,
de atividades que levem mais rapidamente
à integração dos participantes. Sugeriu-se
também que se adotasse um sistema de rateio
dos gastos com passagens, como ocorre
nas Assembléias da CNBB, para que esse
custo possa ser assumido por todos sem
sobrecarregar mais uns do que outros.
I - CONTINUIDADE DO TRABALHO REALIZADO EM TORNO
DA LEI 9840
O ponto de partida da reflexão sobre a continuidade do trabalho realizado
em torno da Lei 9840 foram as propostas
assumidas pelos participantes da reunião
de 21 Comitês 9840 realizada em São Paulo
em 12 de novembro de 2000, com esse mesmo objetivo
de continuidade.
1.
Acompanhamento dos processos em andamento
Para que não se frustrem as expectativas abertas pela
Lei 9840, quanto à efetiva punição de
práticas que, sem essa Lei, estariam somente
sendo objeto de intermináveis processos
penais, é fundamental que não se extingam,
por falta de acompanhamento, as punições
dos que a infringiram, já obtidas
em primeira e/ou segunda instância.
Os participantes do II Encontro propuseram, assim,
que as Comissões Justiça e Paz facilitem
e apoiem a continuidade desse trabalho,
visando:
- assegurar que os processos iniciados nesta eleição sejam levados até
o final;
- fazer com que sejam apresentados recursos nos casos em que a decisão
judicial não seja satisfatória.
Além do que cada Comissão puder fazer nesse sentido, apoiando-se, quando possível, nas seccionais ou sub-seccionais
da OAB, encontram-se à disposição dos
interessados, para a troca de experiências:
- a página da Lei 9840 na Internet:
www.lei9840.org.br;
- o sistema de consultas jurídicas dessa página, no endereço consultas9840@ucb.br.
2.
Preparação para as eleições do ano 2002
Na preparação para que a aplicação da Lei 9840 seja mais plena nas
eleições do ano 2002, os participantes
do II encontro propuseram que as Comissões
facilitem e apoiem a ajuda e o estímulo
mútuos e a troca de experiências dos
Comitês 9840, e outras organizações formadas
para fiscalizar a aplicação da Lei 9840,
nas atividades que desenvolvam para essa
preparação.
A lista de discussão que já existe com esse objetivo na Internet, com
acesso através da página www.novomilenio.inf.br/voto,
poderá ser utilizada para isso.
Aqueles que se inscreverem nessa lista passarão a receber automaticamente
os textos, propostas e notícias a ela
encaminhadas.
Alem dessa lista de discussão, continua a serviço desse objetivo a página
www.lei9840.org.br.
3.
Continuidade
da organização e mobilização dos Comitês
9840
Um dos grandes ganhos do processo de fiscalização da lei 9840
foi a mobilização e organização
de cidadãos contra as atuais distorções
do nosso processo eleitoral e em ações
educativas sobre o valor e a importância
do voto.
Os participantes do II Encontro consideraram que as Comissões
Justiça e Paz deveriam facilitar e apoiar
a continuidade dos Comitês 9840 e outras
organizações que se formaram, propondo-lhes
que assegurem essa continuidade passando
agora a fiscalizar as Câmaras Municipais,
e a dar uma ajuda pluripartidária aos
novos vereadores, especialmente àqueles
eleitos em decorrência da renovação das
Câmaras por efeito indireto da Lei 9840.
Grupos de Igreja já vêm desenvolvendo essa fiscalização
em muitas cidades, desde a Campanha da
Fraternidade de 1996, como os GALs (Grupos
de Acompanhamento do Legislativo) do Espírito
Santo, ou os grupos da Rede Sul Fluminense
de Cidadania Ativa. Outros grupos de diversos
tipos já têm também experiência acumulada,
como por exemplo o movimento do “Voto
Consciente”. Novas propostas estão igualmente
surgindo, como a “Ouvidoria do Eleitor”,
em São Paulo e Rio. Seria importante entrosar-se
com essas atividades.
Para apoiar esse trabalho deverão ser produzidos novos subsídios, alem
dos já disponíveis (como o vídeo das Edições
Paulinas “Cidadania Ativa – a solução”),
e organizados encontros de formação e
troca de experiências (como os realizados
por “Repolítica”, em São Paulo).
O Secretariado Executivo da CBJP deverá criar uma lista de discussão na
Internet especificamente para a troca
de experiências e ajuda mútua nesse tipo
de atividade.
Uma equipe de apoio está sendo organizada, em torno do endereço
cmatsp@uol.com.br,
junto ao qual poderão se inscrever os
interessados em receber informações e
se associar a esse trabalho.
Essa equipe está programando para meados do primeiro semestre
de 2001 um Encontro de Formação e Troca
de Experiências sobre Acompanhamento de
Câmaras Municipais, na região de São Paulo,
além de outros encontros regionais dentro
desse Estado ou nos Estados vizinhos.
Os participantes do II Encontro propuseram
que as Comissões Justiça e Paz organizem
encontros desse tipo em outras regiões
do Brasil.
Os participantes do Encontro consideraram igualmente
que, no acompanhamento de mandatos eletivos,
deve ser dada especial atenção à reflexão
e ao debate sobre a ética no exercício
dos mandatos. Levantou-se inclusive
uma proposta a ser aprofundada, sobre
a necessidade de se limitar o número de
mandatos exercidos.
Sobre esta e outras questões relativas a mandatos, anunciou-se
a realização do
Encontro Nacional de Militantes
na Política Partidária e nos Movimentos
Sociais, de caráter pluripartidário e
reunindo cristãos com esse tipo de engajamento,
que se realizará em Salvador (BA), em
janeiro de 2001, para o qual foram convidados
todos os interessados.
4.
Educação para as eleições
Um segundo ganho constatado no trabalho realizado por
muitos Comitês 9840 foi a ação educativa
desenvolvida em escolas. Os participantes
do II Encontro consideraram que será importante
continuar e ampliar esse tipo de atividade,
como um trabalho de educação para a
cidadania voltado especificamente
para os processos eleitorais.
Para isso será necessário começar a preparar subsídios
e outros materiais e propostas pedagógicas,
a ser disponibilizado para utilização
em escolas, do nível elementar ao superior.
Esse trabalho poderá ser desenvolvido com apoio numa lista de discussão
que foi criada especialmente para esse
fim, na qual os interessados podem se
inscrever através do endereço assocpai@zaz.com.br.
Ela terá como mediadores os animadores
da Associação de Pais e Amigos da Escola
Pública de Santos (SP).
5.
Seminário
de Juizes e Promotores Eleitorais
Constatou-se
que muitos Juizes e Promotores Eleitorais
não tiveram, na aplicação da Lei 9840,
a atitude de interesse efetivo e mesmo
de independência que se esperava, considerando-se
a atenção dada a essa Lei pelo TSE e alguns
TREs. Torna-se portanto necessário traçar uma estratégia,
dentro do Poder Judiciário e do Ministério
Público, para que isto não venha a ocorrer
nas eleições do ano 2002.
Nessa perspectiva,
o Secretariado Executivo da CBJP
deverá organizar, em parceria com
a Transparência Brasil e, a confirmar,
com a OAB Federal, de 25 a 27 de abril
de 2001, em Brasília, um seminário
nacional que reuna Juizes e Promotores,
que se mobilizaram para assegurar a aplicação
da Lei 9840 nas eleições realizadas
em outubro de 2000. Esse seminário poderá
ser eventualmente aberto também a agentes
da Policia Federal e advogados eleitorais
que se interessem.
Ele terá
por objetivo avaliar os resultados obtidos
e as insuficiências e dificuldades encontradas,
e propor iniciativas e orientações que
levem à plena participação do Judiciário
e do Ministério Público, bem como da Polícia
Federal, na aplicação da Lei 9840 nas
eleições do ano 2002.
Segundo
os participantes do II Encontro, atenção
especial deverá ser dada, nas discussões
desse Seminário, à solução dos problemas
do temor experimentado pelas testemunhas
de infrações denunciadas e da possibilidade
de passarem de acusadores a acusados,
bem como do modo de serem produzidas provas
e se obterem flagrantes.
Os
participantes do II Encontro se propuseram
a identificar e contatar, com o auxílio
dos Comitês 9840, os Juizes e Promotores
que se mobilizaram, bem como os policiais
e advogados que atuaram nesse sentido.
Quando dispuser desses nomes e respectivos
endereços, o Secretariado Executivo da
CBJP deverá consultá-los sobre seu interesse
em participar do Seminário.
6.
Formação em Direito Eleitoral
Constatou-se
que houve insuficiências na atuação de
muitos advogados para fazer valer a Lei
9840, por falta de um domínio mais completo
dos termos e possibilidades dessa Lei.
Por outro lado, sabe-se que o Direito
Eleitoral, que na verdade é mais utilizado
somente nos períodos eleitorais, constitui
ainda uma matéria facultativa nos cursos
jurídicos em que é ministrada.
Para
preparar melhor a atuação dos advogados
nas eleições de 2002, o Secretariado Executivo
da CBJP deverá se empenhar na organização,
em parceria com outras instituições que
se interessarem (em especial a OAB), no
correr de 2001 e primeiro semestre de
2002, de uma série de seminários de
formação em direito eleitoral, com
especial ênfase na Lei 9840.
Os
participantes do II Encontro se propuseram
a indicar advogados interessados em participar
desses Seminários.
7.
Emenda Constitucional sobre Iniciativas
Populares de Lei
Quando
se processava a coleta de assinaturas
para a Iniciativa Popular de Lei que resultou
na Lei 9840, a Deputada Federal Luiza
Erundina apresentou uma Proposta de
Emenda Constitucional (PEC), visando,
entre outras mudanças, diminuir para 0,5%
do eleitorado nacional o número mínimo
de assinaturas de eleitores para Projetos
de Lei de Iniciativa Popular.
Por
outro lado, quando foi entregue o Projeto
de Lei que resultou na Lei 9840, constatou-se
que, pela impossibilidade material de
verificação das assinaturas, não
é aconselhável que as Iniciativas Populares
tramitem no Congresso enquanto tais, para
se evitar o risco de questionamentos judiciais
que anulem as Leis que delas resultem.
Torna-se necessário, assim, que os correspondentes
Projetos de Lei tramitem como Iniciativas
Parlamentares – como ocorreu com o Projeto
da Lei 9840 e com a outra Iniciativa Popular
que já deu entrada no Congresso, sobre
o Fundo Nacional de Habitação.
Nesse
quadro, os participantes do II Encontro
consideraram que o Secretariado Executivo
da CBJP deverá buscar formas de colaborar
para a aprovação dessa PEC no prazo mais
curto possível, e que deve propor que
ela estabeleça não somente a diminuição
do número de assinaturas como também o
modo de tornar exeqüível sua verificação.
Dispuseram-se também a enviar sugestões
quanto a modos de fazer valer essas assinaturas,
e a atuar junto aos parlamentares de seus
Estados para a rápida aprovação da PEC.
8.
Seminário com Senadores e Deputados Federais
Nas
discussões e deliberações das sessões
plenárias e de Comissões do Congresso,
sobre o Projeto de Lei de Iniciativa Popular
que deu origem à Lei 9840, muitos Senadores
e Deputados indicaram as insuficiências
desse Projeto e outros tipos de modificações
legislativas que seriam necessárias para
se enfrentar mais plenamente a questão
da corrupção eleitoral e outras práticas
que distorcem nosso processo eleitoral.
Tais pronunciamentos foram transcritos
no livro “Combatendo a corrupção eleitoral”,
publicado pela Mesa da Câmara dos Deputados
em novembro de 1999. Seria portanto oportuno
que se aprofundassem essas análises, tendo
em vista a efetiva realização da Reforma
Política que a sociedade brasileira vem
reivindicando.
Dentro dessa perspectiva, os participantes do Encontro apoiaram a proposta
de realizar, em Brasília, em fevereiro
de 2001, em parceria com a Transparência
Brasil e, a confirmar, a OAB Federal,
um Seminário com os Senadores e Deputados
Federais que fizeram esses pronunciamentos.
Se
nesse Seminário for considerado possível
formular um novo Projeto de Lei abordando
alguma outra insuficiência estratégica
de nosso sistema eleitoral, deverá ser
discutida a possibilidade de lançamento
de uma nova Iniciativa Popular de Lei,
se, até lá, tiver progredido suficientemente
a deliberação do Congresso sobre a PEC
da Deputada Luíza Erundina, tratada no
item anterior, que tornaria necessário
somente 500.000 assinaturas para apresentá-las
ao Congresso.
Serão
enviados previamente aos Senadores e Deputados
Federais os textos de suas intervenções
em Plenário ou nas Comissões do Congresso,
transcritas no livro mencionado. Os participantes
do II Encontro se propuseram a enviar
à CBJP também suas sugestões quanto a
mudanças que julguem necessárias na legislação
eleitoral, para serem incorporadas às
discussões do Seminário.
Considerou-se,
por outro lado, que não seria prudente
pretender modificar a própria Lei 9840,
no que ela já demonstrou ser inadequada
ou insuficiente. A conjuntura que permitiu
sua aprovação pelo Congresso poderá não
se repetir, correndo-se o risco da “emenda
sair pior que o soneto”.
9.
Novos subsídios
Os participantes do II Encontro apoiaram o projeto do Secretariado Executivo
da CBJP
de publicar dois novos livros,
em continuidade ao “Roteiro para fiscalizar
a aplicação da Lei 9840”:
-
uma
coletânea das sentenças e acórdãos
de Juizes e Tribunais nos processos abertos
por infração à Lei 9840, com vistas à
formação da jurisprudência nessa
matéria;
-
uma
memória da ação fiscalizatória dos
cidadãos para a efetiva aplicação
da Lei 9840 nas eleições de 2000, com
relatos de experiências e iniciativas
de Comitês 9840 e outras organizações
criadas com esse objetivo.
Para
realizar esses objetivos o Secretariado
Executivo da CBJP deverá fazer suas próprias pesquisas, mas conta
com a ajuda de todos para isso, pedindo
que lhe sejam enviados relatos de ações
e iniciativas, indicando-se igualmente
as dificuldades encontradas e as vitórias
alcançadas, bem como cópias das sentenças
e acórdãos a que tenham acesso as Comissões
Justiça e Paz.
10.
Pesquisa sobre os resultados da aplicação da lei 9840
O
Secretariado Executivo da CBJP informou
os participantes do Encontro de sua intenção
de realizar uma pesquisa sobre os resultados
efetivos da aplicação da Lei 9840 nas
eleições realizadas este ano.
A pesquisa, qualitativa e quantitativa,
deverá abordar não somente os efeitos
diretos da Lei – punição dos infratores
– como indiretos – inibição nas formas
usuais de compra de votos, maior conhecimento,
pela população e pelos candidatos, do
fato da compra de votos constituir um
crime, não eleição de candidatos denunciados
pela compra de votos ou uso da máquina
administrativa. Ela procurará igualmente
identificar os casos em que, apesar da
Lei 9840, candidatos utilizaram aberta
e impunemente, de forma ostensiva, a máquina
administrativa e a compra de votos para
se elegerem, ou usaram violência para
amedrontar eleitores e Comitês 9840, bem
como os casos em que houve interesse e
firmeza por parte da Justiça Eleitoral
e do Ministério Público.
O
questionário, em preparação, será distribuído
através das Dioceses, possivelmente no início do
ano 2001, e divulgado para todos os interessados
através da Internet, nas páginas www.lei9840.org.br
e www.cbjp.org.br.
11.
Ajuda das seccionais e subseccionais
da OAB
Os participantes do II Encontro relataram alguns casos em que a ajuda
das seccionais ou subseccionais da OAB,
embora fortemente estimulada pelo seu
Conselho Federal e pelas OABs estaduais,
ficou a desejar. Pediu-se a todos
que viveram esse tipo de situação que
levem os fatos ao conhecimento do Conselho
Federal da OAB, para que se possa identificar
onde e porque isso ocorreu e corrigir
o que possa ser corrigido com vistas às
eleições do ano 2002.
12.
Fiabilidade da urna eletrônica
Os
participantes do II Encontro relataram
um certo número de casos que põem em
dúvida a fiabilidade absoluta da urna
eletrônica, como defendida pela Justiça
Eleitoral. Como a questão já vinha sendo
levantada por especialistas em informática
desde antes da eleição, sendo objeto inclusive
de discussões e projetos de lei no Congresso
Nacional, resolveu-se pedir a todos que
tenham informações a respeito que entrem
em contato com a página www.votoseguro.org
e se inscrevam na lista de discussão aberta
nessa página.
II – PERSPECTIVAS DE TRABALHO DAS COMISSÕES JUSTIÇA
E PAZ
A discussão sobre as perspectivas de trabalho das Comissões Justiça e
Paz, articuladas em rede, entre si e com a Comissão
Brasileira, teve como base:
- a análise de conjuntura feita coletivamente sobre o quadro econômico-social
brasileiro, abordando-se também questões
eclesiais como o interesse de um número
crescente de Bispos, em criar Comissões
Justiça e Paz;
- o Guia de Orientação para a Organização e o Trabalho das Comissões Justiça
e Paz, que resultou do I Encontro;
- o subsídio enviado antes do Encontro aos participantes, com as propostas
de orientação elaboradas em reunião do
Secretariado Executivo da Comissão Brasileira
em fim de outubro.
1.
Identidade e papel das Comissões Justiça e Paz
Os participantes do II Encontro revisaram o Guia de Orientação para a
Organização e o Trabalho das Comissões
Justiça e Paz, que resultou do I Encontro,
reafirmando os princípios nele enumerados,
e decidiram abrir uma lista de discussão
eletrônica fechada na Internet, que
o Secretariado Executivo da CBJP deverá
operacionalizar, para aprofundar o
intercâmbio sobre essas questões.
Foi considerado que esse intercâmbio deverá buscar a formulação de um
Guia mais completo e detalhado sobre
a organização e o trabalho das Comissões
Justiça e Paz, sobre os passos a serem
dados para formar novas Comissões, e sobre
o modo de financiarem suas atividades.
Sobre a questão do financiamento das Comissões,
os representantes da Diocese de Macapá
assumiram o compromisso de enviar propostas
a respeito.
Foi recomendado que, no intercâmbio entre CJPs, se atenda com especial
atenção à necessidade de se assegurar
o ecumenismo na composição e no
modo de funcionamento das Comissões.
Quanto ao papel das CJPs, os participantes do II Encontro valorizaram
de modo especial a proposta apresentada,
no subsídio que lhes foi enviado pelo
Secretariado Executivo da Comissão Brasileira,
quanto à atuação dessa Comissão, considerando
que essa proposta abre uma pista importante
para a definição de um papel específico
às CJPs no conjunto de atividades da Igreja.
O subsídio mencionado explicita de seguinte maneira essa proposta:
“Em vez de somente atender passivamente às solicitações que lhe são encaminhadas pela
CNBB ou se limitar a atividades decorrentes
da atual ação da Igreja, a CBJP poderia,
por sua natureza e composição, contribuir,
numa postura ativa, com propostas concretas
para uma atuação mais profética da CNBB
no campo político-social.
Se
fosse adotada essa perspectiva, a dinâmica
fundamental do trabalho da CBJP passaria
a ser o empenho de todos os seus membros
na identificação, a partir de uma análise
sistemática da realidade brasileira, dos
meios e modos pelos quais não somente
a Comissão mas toda a Igreja poderiam
efetivamente contribuir para ‘a defesa
e promoção da pessoa humana, a prática
da justiça e a edificação da Paz’”.
Os
participantes do Encontro consideraram
que esse papel e modo de funcionamento
poderia ser adotado também pelas demais
Comissões Justiça e Paz, de nível
diocesano ou regional, existentes ou em
vias de criação em diferentes lugares
do Brasil, isto é, “independentemente
das ações próprias que lhes seriam específicas
ou de estudos que pudessem desenvolver,
sua atuação poderia ter como eixo fundamental
a análise sistemática da realidade
diocesana ou regional, com vistas a identificar
possibilidades de atuação profética da
Igreja, para “a defesa e a promoção
da pessoa humana, a prática da justiça
e a edificação da Paz” .
Segundo essa orientação, a atuação mais significativa das Comissões que
assim o decidissem passaria a ser, por
assim dizer, a de “instigar” posicionamentos
e ações proféticas da Igreja, ainda que
pudessem também realizar outras atividades
próprias, paralelamente e desejavelmente
articuladas às ações de outros organismos
e pastorais de Igreja.
Nessa linha de reflexão, foi reafirmado que as Comissões Justiça e Paz,
para poderem cumprir de fato esse papel,
devem ser compostas maioritariamente por
leigos, engajados em diferentes tipos
de atuação social, uma vez que, vivendo
situações que dificilmente os Bispos e
mesmo os padres podem viver, eles podem,
assumindo sua corresponsabilidade eclesial,
trazer à Igreja perspectivas de que a
Igreja necessita para bem cumprir sua
missão.
2. Movimento pela ética na
política
Considerando
esse papel que pode passar a ser cumprido
pelas CJPs, foi discutida a oportunidade
de se relançar, no Brasil, um Movimento
pela ética na política, como o que levou
ao impeachment do Presidente Fernando
Collor, mas com uma diferença importante:
o entendimento do conceito de ética.
De fato, o Movimento pela Ética na
Política lançado há dez anos visava especificamente
a corrupção, que atingira altos níveis
no processo decisório governamental, encabeçada
pelo tesoureiro da campanha eleitoral
do Presidente da República, com o beneplácito
do próprio Presidente. A corrupção é um
problema real do Brasil, que o coloca
em má posição nos índices internacionais
que buscam medi-la – como os divulgados
anualmente pela entidade Transparência
Internacional – levando a que possa ser
considerada como endêmica em nosso país.
Penetrando de diferentes formas nas mais
diversas áreas e níveis de governo, sua
denúncia chegou a ser um fator determinante
em alguns resultados eleitorais deste
ano – como no Município de São Paulo.
A corrupção precisa, portanto, ser enfrentada
no Brasil com ainda mais vigor. O projeto
“Combatendo a corrupção eleitoral”, lançado
pela CBJP, se situa nessa perspectiva.
Mas o maior problema ético nacional
não é este. O grande problema ético do
Brasil – para cujo agravamento a corrupção
também contribui - é a desigualdade social,
aceita e banalizada como se nada pudéssemos
contra ela e estivéssemos condenados a
com ela conviver. Esse é de fato o maior
desafio ético que se coloca para o povo
brasileiro.
Os participantes do II Encontro consideraram
que CBJP deveria, em sua próxima reunião
geral, no início do próximo ano, aprofundar
essa proposta
e discutir sua viabilidade e formas
de concretizá-la. E deveria levá-la à
CNBB, estabelecendo também contatos com
outras instituições nacionais, com vistas
ao eventual lançamento de um novo Movimento
pela Ética na Política no Brasil, voltado
para a questão da desigualdade social.
Segundo as possibilidades, deverá ser
buscada a participação das demais CJPs
nessas discussões.
3. Análises de conjuntura
O Secretariado Executivo da CBJP informou que tinha sido constituído um
Comitê, com a participação do IBRADES,
INESC, CCM, IMDH, INTELECTO, assessores
da CNBB e outros membros da Secretaria
Executiva, em torno do Padre Virgílio
Leite Uchôa, membro da Comissão Brasileira,
para dar continuidade às Análises de Conjuntura
que estavam sob sua responsabilidade,
enquanto foi assessor político da CNBB,
e que eram igualmente úteis em diferentes
meios e organismos.
Analisando o conteúdo e a forma dessas Análises, esse Comitê tinha adotado
a orientação expressa na nota explicativa
que lançou, logo depois do Encontro, esse
novo tipo de serviço patrocinado pelo
CBJP:
“Este
serviço que vem sendo realizado desde
setembro de 1996 evoluiu e amadureceu
no próprio processo de sua elaboração.
A constante preocupação de ver a realidade
e seus desafios definiu o caminho e as
opções de análise.
O
horizonte maior à luz do qual os acontecimentos
vêm sendo analisados diz respeito aos
excluídos e suas necessidades face à avalanche
de concentração de riqueza e benefícios
nas mãos de poucos, o que é conseqüência
do projeto econômico hegemônico, capitaneado
pelo fenômeno da globalização financeira.
A
avaliação feita pelo comitê de discussão
e de redação, em recente reunião, abriu-nos
um novo horizonte para esse serviço. Este
também se identifica com objetivos da
Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP)
na sua “defesa e a promoção da pessoa
humana, a prática da justiça e edificação
da paz”.
Por
isso mesmo a CBJP chama agora para si
a continuidade e a regular periodicidade
deste trabalho, mantendo a originalidade
do serviço de análise, que sempre visou
provocar a reflexão e a prática de novas
atitudes, não só para a Igreja Católica
e entre os cristãos em geral, mas também
junto às pessoas e grupos sociais, organizados
ou não, sensíveis à atual evolução dos
desafios da conjuntura nacional e internacional.
Os
instrumentos de informação e análise hoje
disponíveis são muitos e variados e não
se pretende repeti-los. O que se fará
então é escolher fatos cuja compreensão
fica obscurecida pelo pensamento hegemônico
e procurar enxergar e entender o que está
por detrás das aparências e do discurso
dominante, aprofundando as razões subjacentes
ao fato escolhido. Este será o tom e o
tipo das análises daqui para frente. Elas
buscarão também identificar correlações
do fato temático abordado com temas maiores,
tanto nacionais quanto internacionais.
O que se pretende é entender o que não
está explícito nas informações que nos
são dadas e o que existe de fato para
além das análises que são feitas.
Espera-se
que este tipo de abordagem analítica permita
às pessoas e grupos sociais que dela fizerem
uso escolher os melhores caminhos para
transformar a realidade, a partir de uma
melhor e mais profunda compreensão do
que está acontecendo.
O
Secretariado informou que os dois primeiros
estudos em curso pela equipe, dentro desta
nova orientação - que implica em abordar
temas conjunturais em maior evidência
e debate - versarão sobre a Lei de Responsabilidade
Fiscal e a constante criminalização do
MST pelo governo federal, e serão colocados
à disposição dos interessados na página
da CBJP na Internet (www.cbjp.org.br),
bem como divulgados através de outras
páginas e publicações.
Os participantes do Encontro consideraram que esse serviço poderá ter
grande utilidade, ficando estabelecido
que as CJPs poderão propor temas para
os estudos, bem como, sempre que possível,
subsídios para sua elaboração.
4. Retomada da questão
dos Conselhos de Comunidade no tema Encarcerados.
O método utilizado pela
CBJP, para definir suas atividades, consistia
em identificar, em cada Campanha de Fraternidade,
juntamente com o setor pastoral responsável
pela mesma, uma questão específica em
torno da qual pudesse ser formulado um
projeto de ação. A CBJP pretendia dessa
forma contribuir para a continuidade das
Campanhas da Fraternidade.
Foi com esse método que
se formulou o projeto “Combatendo a corrupção
eleitoral”, em continuidade à CF de 1996.
Na Campanha da Fraternidade de 1997, sobre
os encarcerados, a questão específica
escolhida foi a necessidade de serem criados
os Conselhos de Comunidade, previstos
na Lei de Execuções Penais, junto a todos
os estabelecimentos prisionais do Brasil.
Iniciado o projeto, o
falecimento inesperado do assessor nacional
da Pastoral Carcerária, Padre Francisco
Reardon – grande animador da criação desses
Conselhos - levou à interrupção dessa
parceria.
As iniciativas que já
haviam sido tomadas, no entanto, para
implementar o projeto, surtiram efeito,
tendo sido criados muitos Conselhos de
Comunidade, com os resultados que deles
se pode esperar na solução dos problemas
de nossas prisões.
Como vários dos participantes
do II Encontro têm engajamento pessoal
no trabalho junto à prisões, considerou-se
que deveria ser feito um esforço especial
para que esse projeto fosse retomado e
desenvolvido.
5. Relatório anual sobre Dignidade Humana
Dentro dessa mesma metodologia,
o Secretariado Executivo da CBJP propôs
ao CONIC, que coordenou a Campanha do
ano 2000, sobre Dignidade Humana e Paz,
ao se fazer sua avaliação, que lhe fosse
dada continuidade por meio da elaboração
de um Relatório Anual sobre a Dignidade
Humana e a Paz no Brasil, que considerasse
não somente a situação do país nesses
aspectos, mas também, e especialmente,
as ações concretas ecumênicas ou das diferentes
Igrejas em particular. O Secretariado
Executivo da CBJP se disporia, se a proposta
fosse aceita, a coordenar um grupo de
trabalho ecumênico para realizar sistematicamente
essa tarefa.
Os
participantes do II Encontro acolheram
essa proposta e se dispuseram, se ela
for aceita, a contribuir para a elaboração
dos Relatórios.
6. Dívida social dos povos
negros
Uma das decisões do I
Encontro tinha sido a de priorizar, nas
atividades das CJPs, a questão da terra,
tanto no que se refere à Reforma Agrária
como à titulação das terras dos Quilombos
e à demarcação das terras dos Povos Indígenas.
A partir dessa decisão, os participantes
do II Encontro propuseram que se retomasse
mais especificamente a questão dos povos
negros, tanto no que se refere aos Quilombos
como a iniciativas que estão em curso,
como a Conferência Mundial contra a Discriminação,
que terá lugar na África do Sul em 2001.
Para permitir o necessário
intercâmbio de informações e experiências,
ficou de ser operacionalizada a criação,
na Internet, de uma lista de discussão
fechada sobre esta questão.
7. Fórum Social Mundial
O Secretariado Executivo da CBJP apresentou aos participantes do Encontro
o Fórum Social Mundial, que terá lugar
em Porto Alegre, Brasil, de 25 a 30 de
janeiro de 2001, com o tema “Um outro
mundo é possível”. Esse Fórum ocorrerá
nos mesmos dias em que se realiza em Davos,
Suíça, o Fórum Econômico Mundial, que
reúne as cabeças pensantes do neo-liberalismo
e representantes de multinacionais e dos
governos mais poderosos do mundo.
A CBJP participa, em parceria com sete outras entidades brasileiras, do
Comitê de Organização do Fórum Social
Mundial.
Os participantes do Encontro foram informados do andamento da preparação
do Fórum e de que a participação é aberta
a representantes de entidades que nele
se inscrevam, respeitada a distribuição
de quotas entre as regiões do mundo e
entre tipos de atuação, mais informações
sobre o Fórum e sobre o modo de se inscrever
encontrando-se na página da Internet www.forumsocialmundial.org.br.
7. Formação dos membros das Comissões Justiça e Paz
Os participantes do Encontro consideraram que deverá merecer atenção a
formação permanente dos membros das CJPs.
Foi levantada a possibilidade de se utilizar os materiais e meios de formação
desenvolvidos pelo CELAM, e ficou estabelecido
que o III Encontro deverá incluir uma
manhã de formação, com material previamente
enviado a todos. A página da CBJP na Internet,
por sua vez, deverá disponibilizar artigos
e textos de formação, bem como bibliografias
sobre temas diversos, esperando-se que
todas as CJPs possam contribuir com sugestões
para esse material de formação.
Brasília, 5 de dezembro de 2000.
Para contatar a Comissão Brasileira
Justiça e Paz:
CBJP
- SE Sul – Q. 801 – Conj. B - Brasília
– DF – CEP 70401-900
Endereço
eletrônico: cbjp@cbjp.org.br;
página na Internet: www.cbjp.org.br
Tel:
(0xx61) 323 8713 – 313 8328 - fax: (0xx61)
322 2684