Texto da palestra proferida durante
o painel " Quais os limites e possibilidades da cidadania
planetária", dia 28 de janeiro, Eixo III
Njoki Njehu
Nós estamos aqui devido a uma
realidade global, uma realidade que foi feita pelo homem e à qual
estamos sobrevivendo, diante da qual estamos resistindo e com a
qual freqüentemente temos que lutar. As experiências e
conhecimentos de todos deste forum deverão ser críticas, se
quisermos ter sucesso. Estamos aqui juntos em solidariedade porque
entendemos que Norte e Sul, Leste e Oeste, os pobres, os
sem-terra, os homens e mulheres, com instrução e sem instrução,
a classe média, a classe alta, a classe trabalhadora, os ricos,
os sobreviventes, as nossas lutas, enfim, estão todos conectados
a todas as lutas do planeta. O título do nosso painel é "Os
limites e as possibilidades da cidadania planetária" e às
vezes penso na idéia de mudarmos a forma de nosso planeta,
iniciando um diálogo significativo.
As nossas demandas da economia são
profundas e bastante pontuais: exigimos justiça, paz, igualdade,
sustentabilidade e proteção ambiental. Exigimos uma globalização
que coloque as pessoas em primeiro lugar, e não os lucros. É
preciso responder às necessidades das pessoas, e não atender às
margens de lucro. Não estamos falando sobre a globalização com
face humana, como eles dizem em Davos, nas Nações Unidas ou no
Banco Mundial. Estamos falando sobre a globalização com um
gostinho sorridente, uma globalização que responda às
necessidades de todos os indivíduos, de todas as formas de vida
no planeta. O tipo de globalização que queremos não é uma em
que o lucro seja mais importante que o bem-estar e os direitos das
pessoas e do meio-ambiente. O nosso destino como indivíduos é o
futuro do planeta. Temos que nos ajudar ou pereceremos juntos,
gradualmente, mas com certeza. É preciso dizer que uma nova forma
de vida é possível, mas além disso, temos que compartilhar as
nossas experiências para que possamos dar um passo em direção a
este mundo melhor. Pensar em conjunto, visualizar esse novo mundo
em conjunto. Estamos aqui para dizer que a cidadania planetária
exige que trabalhemos em prol dos direitos humanos, em prol de
cada um daqueles da nossa família de seres humanos, e temos que
fazê-lo garantindo justiça e dignidade para todos. Estamos aqui
para dizer que Porto Alegre é o início e a continuação da
cidadania planetária. Estamos nos comprometendo, comprometendo
nossos talentos, nossas aptidões, os nossos sonhos, o nosso
passado e o nosso futuro diante da causa da justiça. Para os que
estão reunidos em Davos, e que dirigem nossa economia, queremos
dizer que o futuro pertence a nós. Não vamos permitir exploração,
seja via G7, seja FMI, seja OMC, bancos regionais de
desenvolvimento, os militares, a CIA, ou corporações
multinacionais. Não vamos permitir a exploração em nome do
lucro, em nome da guerra contra o narcotráfico, como acontece na
Colômbia, nem a opressão em nome de outras guerras. Não vamos
permitir a guerra e o genocídio em nome da paz, como aconteceu no
Iraque e no bloqueio a Cuba . Não vamos permitir o imperialismo,
o colonialismo, o racismo, sectarismo e todos os outros "ismos"
que nos dividem assim como diminuem cada um de nós e todos nós.
A cidadania planetária exige que reconheçamos que a repressão
é global, sistemática, e portanto a nossa resistência, a nossa
solidariedade, deve ser global e estratégica. Viemos para Porto
Alegre confrontar esse monstro que assalta nossas vidas. E viemos
a Porto Alegre também para determinar como iremos, juntos, vencer
esse monstro.
Reprodução editada da gravação
da palestra proferida, sem revisão final da expositora.
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