Cronologia
da luta Contra os transgênicos
A cronologia
aqui apresentada é uma síntese do trabalho que se propunha, a
partir da sistematização das informações veiculadas sobre os
transgênicos na imprensa, especialmente – mas não apenas –
nos dois principais jornais impressos gaúchos (Zero
Hora e Correio do Povo), até julho de 2000, a
possibilitar a visualização do processo das disputas sobre os
transgênicos no Rio Grande do Sul.
Aqui, por
questão de restrição de espaço, daremos ênfase ao registro
dos principais fatos no cenário nacional
Renata
Menasche*
janeiro/1995
· Criada a
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), pela Lei nº
8.974 e pelo Decreto Regulamentar nº 1.752, de 5 de janeiro de
1995 (A íntegra da lei e demais textos relacionados à legislação
podem ser lidos no site da CTNBio, http://www.mct.gov.br/ctnbiotec/leisedocs.htm).
A CTNBio é definida como órgão técnico do Ministério da
C&T e responsável pelo controle da biotecnologia no Brasil.
Entre as competências da CTNBio, está a emissão de parecer técnico
sobre qualquer liberação de organismo geneticamente modificado (OGM)
no meio ambiente e o acompanhamento do desenvolvimento e do
progresso técnico e científico na biossegurança e áreas afins,
visando a segurança dos consumidores e da população em geral,
com permanente cuidado à proteção do meio ambiente. A CTNBio
deve se pronunciar sobre qualquer atividade com OGMs no país,
previamente à sua realização. Cabe aos órgãos de fiscalização
dos ministérios da Saúde, da Agricultura e do Meio Ambiente a
fiscalização e o monitoramento das atividades com OGMs, no âmbito
de suas competências, bem como a emissão de registro de produtos
contendo OGMs ou derivados, a serem comercializados ou liberados
no meio ambiente.
junho/1996
·
A CTNBio é instaurada. De 1997 a 1999, a CTNBio defere
pelo menos 800 pedidos de liberação de OGMs no meio ambiente.
dezembro/1997
·
Equipe internacional de ativistas do Greenpeace bloqueia,
no Porto de São Francisco do Sul (SC), o desembarque de
carregamento de soja geneticamente modificada – o primeiro
autorizado pela CTNBio –, vindo dos EUA. Os ambientalistas
invadem o barco, colocando uma faixa com os dizeres: "Frankensoja:
não engula essa!".
fevereiro/1998
·
A partir de denúncia anônima, a Polícia Federal encontra
sementes de soja transgênica no aeroporto de Passo Fundo (RS).
Suspeita-se que o produto tenha vindo da Argentina.
abril/1998
·
Em seu 25º aniversário, a Embrapa destaca acordo,
assinado com a empresa Monsanto, que possibilitará o plantio de
uma variedade de soja modificada geneticamente para apresentar
resistência ao herbicida glifosato, produzido pela Monsanto. Os
testes estão em andamento no Paraná.
·
O Secretário de Agricultura do Paraná assina portaria
proibindo a entrada no estado de organismos geneticamente
modificados sem a autorização da Secretaria de Agricultura.
junho/1998
·
A Monsanto envia à CTNBio pedido de liberação do cultivo
comercial da soja geneticamente modificada. A soja Roundup
Ready é objeto do primeiro pedido para cultivo em escala
comercial de transgênicos no país. Até então, todos os pedidos
haviam sido para cultivo experimental.
julho/1998
·
A 6ª Vara da Justiça Federal, de Brasília, determina que
a Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove) modifique os
rótulos de óleos feitos a partir de sementes de soja transgênica,
de forma que as embalagens tragam informações sobre a composição
do óleo e os riscos à saúde. O juiz defere parcialmente liminar
impetrada pelo Greenpeace, que reivindicava suspensão da
comercialização de óleo feito a partir de soja transgênica,
produzido pela empresa Ceval. A autorização para comercialização
do óleo de soja transgênica foi dada à Ceval pela CTNBio, em
setembro de 1997, quando foi importado 1,5 milhão de toneladas de
soja dos EUA (15% desse produto era geneticamente modificado).
setembro/1998
·
A 11ª Vara da Justiça Federal, de São Paulo, aplicando o
Princípio da Precaução (quando uma
atividade representa ameaças de danos ao meio ambiente ou à saúde
humana, medidas de precaução devem ser tomadas, mesmo se algumas
relações de causa e efeito não forem plenamente estabelecidas
cientificamente), concede liminar ao Instituto de Defesa do Consumidor
(Idec), proibindo a União de autorizar o plantio comercial de
soja transgênica enquanto não regulamentar a comercialização
de produtos geneticamente modificados e realizar estudo prévio de
impacto ambiental (Eia-Rima).
·
A CTNBio emite parecer favorável ao cultivo em escala
comercial da soja Roundup Ready. Segundo o parecer, não há
risco ambiental no cultivo, nem risco para a segurança alimentar
no consumo da soja geneticamente modificada. Treze dos quinze
membros presentes votaram pela liberação (o representante dos
consumidores votou contra e o do Ministério das Relações
Exteriores se absteve). Apesar do parecer favorável, a liminar
concedida em 16 de setembro impede que o Ministério da
Agricultura conceda à Monsanto o registro para iniciar a produção
comercial da soja transgênica.
novembro/1998
·
Em audiência pública sobre plantas transgênicas,
promovida pela Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e
Minorias da Câmara dos Deputados, é defendida a exigência da
rotulagem dos produtos provenientes de organismos geneticamente
modificados e, ainda, que os produtos que contenham soja transgênica
devam ser submetidos a acompanhamento técnico e científico
durante cinco anos. Participaram do debate o Ministério da
C&T, membros da CTNBio, entidades de defesa do consumidor,
produtores e organizações não governamentais. As recomendações
aprovadas seriam encaminhadas aos ministérios da Saúde,
Agricultura e Justiça.
·
Derrubada liminar de 16 de setembro, que impedia a União
de autorizar o plantio comercial de soja transgênica, que passa a
ser permitido desde que sejam apresentados relatórios trimestrais
sobre a qualidade dos produtos e esteja garantida a segregação.
·
A exigência de estudo prévio de impacto ambiental é
descartada como pré-condição. O recém-eleito governador do Rio
Grande do Sul, Olívio Dutra, anuncia ser posição do futuro
governo a manutenção do estado como zona livre de produtos
transgênicos, ou seja, que em território gaúcho não exista, no
que se refere à agropecuária e à alimentação, a produção, a
comercialização ou o consumo de organismos geneticamente
modificados.
·
A CTNBio aprova pedido de liberação para teste em campo
do arroz transgênico resistente ao herbicida Liberty Link,
comercializado pela empresa AgrEvo do Brasil. É o primeiro teste
com arroz geneticamente modificado aprovado pela CTNBio, que havia
rejeitado o pedido em fevereiro. Os ensaios seriam realizados na
Estação Experimental do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga),
em Cachoeirinha. Em abril do ano seguinte, constatada a inadequação
do isolamento da área em que se realizava o experimento, as
plantas seriam, por determinação da CTNBio, queimadas.
dezembro/1998
·
O Idec e o Greenpeace obtêm liminar junto à 6ª Vara da
Justiça Federal, de Brasília, que estabelece como obrigatória a
segregação dos plantios transgênicos, de forma a garantir o
processo de rotulagem final dos produtos.
fevereiro/1999
·
O deputado estadual Elvino Bohn Gass (PT) apresenta, à
Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, projeto de lei (PL
16/99) propondo a proibição no estado do cultivo e da
comercialização de organismos geneticamente modificados.
·
O Ibama, órgão do Ministério do Meio Ambiente, ingressa
na ação civil pública movida pelo Idec e Greenpeace pela
necessidade de realização de Eia-Rima antes da liberação
comercial de transgênicos no meio ambiente.
março/1999
·
O governador gaúcho, Olívio Dutra, assina decreto
(39.314) regulamentando a lei estadual (9.453, de 10 de dezembro
de 1991) que dispõe sobre pesquisas, testes, experiências ou
atividades nas áreas de biotecnologia e engenharia genética,
envolvendo organismos geneticamente modificados bem como produtos
advindos dessa tecnologia. O decreto determina a notificação ao
poder público estadual das áreas onde há pesquisas com transgênicos,
estabelecendo exigências como apresentação de estudo e relatório
de impacto ambiental.
·
Os deputados estaduais Carlos Minc (PT) e, posteriormente,
Carlos Dias (PFL) apresentam, à Assembléia Legislativa do Rio de
Janeiro, projetos de lei (respectivamente, PL 88/99 e PL 98/99)
propondo a proibição no estado do cultivo e da comercialização
de organismos geneticamente modificados.
·
O deputado estadual Neodi Saretta (PT) apresenta à Assembléia
Legislativa de Santa Catarina projeto de lei (PL 39/99) que dispõe
sobre pesquisas, testes, experiências ou atividades nas áreas de
biotecnologia e engenharia genética.
·
O Ministério da Agricultura solicita à CTNBio que defina
critérios mais rigorosos para realização de experimentos com
produtos transgênicos. O ministério admite não ter como
fiscalizar e monitorar essas atividades, alegando carência de
fiscais.
abril/1999
·
O ministro da C&T, Bresser Pereira, buscando unificar o
discurso do governo federal com relação aos transgênicos,
anuncia reunião com os ministros cujas pastas integram a CTNBio.
·
O deputado Rodrigo Rollemberg apresenta à Assembléia
Legislativa do Distrito Federal projeto de lei (PL 101/99) que
dispõe sobre o cultivo comercial e a venda de produtos transgênicos
destinados à alimentação humana e de animais.
maio/1999
·
Reunidos em Recife, os 27 secretários estaduais presentes
à reunião do Fórum Nacional de Secretários de Agricultura
decidem, por unanimidade, encaminhar moção posicionando-se em
relação ao tema dos transgênicos. O documento propõe que não
se libere a transgenia no Brasil enquanto não seja resolvido o
impacto sobre os orçamentos dos estados e as incertezas nas
pesquisas. A posição crítica dos secretários à liberação do
plantio comercial de transgênicos foi posteriormente reafirmada
em nova reunião, em setembro, durante a feira agropecuária
Expointer, em Esteio (RS).
·
A empresa Monsoy, subsidiária da Monsanto, encaminha ao
Serviço Nacional de Proteção de Cultivares, órgão do Ministério
da Agricultura, os pedidos de proteção e registro de cinco
variedades de soja geneticamente modificada: M-SOY 6363 RR, M-SOY
7777 RR, M-SOY 7979 RR, M-SOY 8080 RR e M-SOY 8888 RR.
·
O Ministério do Meio Ambiente anuncia que exigirá estudo
prévio de impacto ambiental de todos os produtos transgênicos
que forem analisados pela CTNBio.
·
Na 6ª Vara da Justiça Federal, de Brasília, o Idec e o
Greenpeace entram com pedido de liminar – com caráter de adendo
à ação impetrada pela primeira liminar do Idec, de 16/9/98 –
para impedir a autorização do registro das sementes
geneticamente modificadas da Monsoy. O registro provisório de
proteção de cultivar essas variedades seria anunciado pelo
Ministério da Agricultura, mas essa aprovação foi insuficiente:
para a liberação da produção e comercialização das sementes
transgênicas seriam também necessárias as aprovações dos
ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, que não se
efetivariam. O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, já havia
se manifestado de forma crítica à liberação do cultivo
comercial de organismos geneticamente modificados no país, posição
frontalmente oposta à assumida pelo ministro da C&T, Bresser
Pereira. Defendendo a liberação do cultivo comercial dos transgênicos,
o ministro da Agricultura, Francisco Turra, com apoio da Confederação
Nacional da Agricultura (a CNA, organização patronal), propõe a
rotulagem dos produtos contendo organismos geneticamente
modificados. O ministro da Agricultura, cauteloso com a repercussão
do debate, decidiu adiar a publicação dos registros comerciais
definitivos para as variedades de soja transgênica da Monsanto (a
lista dos novos cultivares normalmente é republicada a cada dois
meses). Refletindo o debate interno ao governo e as pressões
exercidas sobre ele, no início de junho, em mais de um momento, o
ministro da Agricultura chegou a anunciar a liberação dos
cultivares, para, em seguida, negar a declaração. Os diferentes
ministérios apontam a necessidade de posicionamento unificado do
governo federal frente ao tema transgênicos. No calor dessa polêmica,
vem a público, com grande impacto internacional, estudo publicado
na revista britânica Nature, em que foi comprovado que o
milho transgênico Bt produz pólen letal a uma espécie de
borboleta, a monarca.
·
A Confederação Nacional da Agricultura e a Organização
das Cooperativas do Brasil declaram considerar acertada a decisão
do Ministério da Agricultura de conceder o registro para o
plantio e a comercialização da soja transgênica no país.
junho/1999
·
O Ministério da Justiça elabora projeto de portaria
exigindo a rotulagem de todo alimento geneticamente modificado ou
que tenha no seu processo industrial algum componente obtido por
esse método.
·
A Monsanto, planejando ofertar sementes para o plantio de
até 400 mil hectares, anuncia estimar que o Brasil poderá, na
safra que se prepara, colher cerca de um milhão de toneladas de
soja geneticamente modificada.
·
Expedida liminar, requerida em maio, em favor do
Idec, determinando a proibição, até que o governo defina as
regras de segurança e rotulagem dos organismos geneticamente
modificados, do plantio e da comercialização da soja
geneticamente modificada Roundup Ready. O juiz Antonio
Souza Prudente solicita que a Monsanto e a Monsoy apresentem o
Eia-Rima. Entre outras restrições estabelecidas pela liminar,
"fica suspenso o cultivo em escala comercial do referido
produto, sem que sejam suficientemente esclarecidas, no curso da
instrução processual, as questões técnicas suscitadas por
pesquisadores de renome, a respeito das possíveis falhas
apresentadas pela CTNBio em relação ao exame do pedido de
desregulamentação da soja Roundup Ready". Uma semana
antes, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
apresentou, no Seminário "Transgênicos e clonagem",
promovido pelo Senado Federal, o documento "Transgênicos: ciência,
ética e dominação", em que criticava a atitude pouco
exigente da CTNBio na desregulamentação da soja transgênica. A
Monsanto anuncia pretender recorrer da decisão judicial, prevendo
conseguir as autorizações antes de novembro, quando seria
semeada a safra seguinte. Os ministérios da C&T e da
Agricultura fazem apelos para que a decisão seja revista pelo
Tribunal Regional Federal. Chegou-se a anunciar que também o
governo Federal recorreria judicialmente, posicionamento que
provoca reação da Procuradoria Geral da República, que,
aproveitando um inquérito civil público já em andamento, propõe
investigar os interesses do governo na produção de soja
geneticamente modificada.
·
O Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) aprova
proposição reafirmando a necessidade de licenciamento ambiental
e de realização de Eia-Rima antes de se permitir o lançamento
de transgênicos no meio ambiente.
julho/1999
·
A polêmica dos transgênicos ocupa o centro dos debates da
51ª Reunião Anual da SBPC, realizada em Porto Alegre. Na reunião,
a SBPC reitera proposta de moratória para a liberação comercial
dos alimentos transgênicos.
·
A Monsanto entra, no Tribunal Regional Federal, com agravo
regimental, pedindo suspensão da liminar que impediu a autorização
do cultivo e da comercialização da soja transgênica.
·
O presidente do TRF, Plauto Afonso da Silva Ribeiro, rejeita
o requerimento da Monsanto.
·
A Advocacia-Geral da União anuncia também pretender
recorrer da decisão do juiz da 6ª Vara Federal de Brasília, Antônio
Souza Prudente, mas deverá aguardar o reinício dos trabalhos do
Judiciário, em agosto. Enquanto isso, todas as decisões
referentes à soja transgênica estariam suspensas.
·
Ao assumir, o novo ministro da C&T, Ronaldo Sardenberg,
declara não ter ainda posição sobre o tema e ser favorável à
rediscussão da liberação de alimentos geneticamente
modificados. Em resposta, o novo ministro da Agricultura, Marcus
Vinícius Pratini de Morais, declara pretender seguir à risca as
orientações da CTNBio.
agosto/1999
·
A 6.ª Vara Federal, de Brasília, confirma a sentença que
suspende o plantio da soja transgênica no país até que seja
feito o Eia-Rima. Confirmado o mérito da decisão liminar tomada
em junho, tornam-se inviáveis os planos da Monsanto de vender
legalmente sementes transgênicas para plantio em 1999.
·
O Idec promove atos públicos contra alimentos transgênicos
em 11 estados.
setembro/1999
·
A Associação Brasileira de Produtores de Sementes
(Abrasem) denuncia que o plantio de soja transgênica no Rio
Grande do Sul deverá, a partir de sementes contrabandeadas da
Argentina, atingir um milhão de hectares na safra 1999/2000,
cerca de um terço da área cultivada com a oleaginosa no estado.
O secretário estadual da Agricultura, José Hermeto Hoffmann,
reagindo à afirmação, propõe que a Polícia Federal investigue
as fontes das informações de que dispõe o presidente da
Abrasem, comentando que tais declarações têm por objetivo
"criar fatos" para que os produtores acreditem que o
plantio de transgênicos é irreversível.
·
O governo gaúcho anuncia a aquisição, no exterior, de kits
para teste rápido de transgenia, a serem utilizados como
instrumento de fiscalização de sementes e lavouras transgênicas.
O uso dos kits era anunciado como parte de uma campanha do
governo estadual contra os transgênicos – com o lema “Transgênicos:
não plante essa idéia” –, que incluiria, ainda, a divulgação
de mensagens pela TV e rádio, panfletos e cartazes, além de uma
linha telefônica “disque-transgênicos”, destinada a receber
denúncias.
·
A nova presidente da CTNBio, Leila Oda, declara que
a população brasileira precisa de mais informações sobre os
transgênicos, apontando para a realização de audiências públicas,
como o evento aberto que seria promovido durante o I Congresso
Brasileiro de Biossegurança, no final daquele mês. Esse
congresso acabou se tornando motivo de escândalo: Idec e
Greenpeace entraram com representação no Ministério Público
Federal contra a CTNBio, acusada de conduta imoral por aceitar o
patrocínio de empresas produtoras de sementes transgênicas para
a realização do evento.
outubro/1999
·
Em Minas Gerais, discute-se, em audiência pública, a
proposta de moratória da produção de alimentos transgênicos
por cinco anos, prevista em projeto de lei do deputado Edson
Rezende (PSB). O projeto fora apresentado à Assembléia
Legislativa três meses antes.
·
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
(Contag) manifesta-se sobre o tema transgênicos, afirmando os
cuidados que inspira o assunto e recomendando ao governo que
ouvisse a sociedade antes de decidir.
·
Cumprindo decisão judicial inédita no país, a Polícia
Federal incinera 22,5 sacas de soja transgênica, que foram
apreendidas, em outubro de 1998, no município gaúcho de Júlio
de Castilhos. Foi o primeiro registro de apreensão de grãos
transgênicos colhidos em território nacional e também o
primeiro em que os responsáveis seriam indiciados pelo cultivo
ilegal de soja geneticamente modificada.
novembro/1999
·
As grandes manifestações ocorridas em Seattle (EUA),
durante a Conferência Interministerial da Organização Mundial
do Comércio – a chamada Rodada do Milênio – impedem o avanço
das negociações que o evento se propunha: acordos sobre a
agricultura, os serviços e a propriedade intelectual. Entre os
temas centrais dos manifestantes estavam as questões ambientais,
destacando-se a palavra de ordem "não aos transgênicos".
·
Treze equipes de fiscalização da Secretaria de
Agricultura do Rio Grande do Sul – visitando 200 propriedades
rurais, nas regiões de Cruz Alta, Palmeira das Missões, Passo
Fundo, Erechim, Santa Rosa e Tupanciretã –
apreendem 3.588 sacas de soja transgênica. Com os kits para
teste rápido, realizam 700 testes de transgenia, dos quais 3,5% dão
positivo. Vinte e quatro produtores são considerados infratores
por armazenar ou plantar sementes de soja transgênica. A lista
dos produtores é encaminhada pela Secretaria de Agricultura ao
Ministério Público Federal, que a repassa à Polícia Federal.
Para a realização da perícia, são colhidas novas amostras,
para que os testes definitivos sejam realizados pela Embrapa, com
o apoio do Instituto Nacional de Criminalística. Todos os testes
de transgenia realizados pela Embrapa apresentam resultado
negativo.
Dezembro/1999
·
O deputado federal gaúcho Darcísio Perondi (PMDB)
apresenta, no Congresso Nacional, projeto de lei que autoriza a
produção, a comercialização e a estocagem de sementes transgênicas
no país.
·
O governo do Mato Grosso do Sul publica, no Diário
Oficial, legislação sobre transgênicos, anteriormente
aprovada pela Assembléia Legislativa. A lei prevê o registro de
organismos geneticamente modificados no Departamento de Inspeção
e Defesa Agropecuária do estado e exige o cumprimento de toda a
legislação federal pertinente, inclusive as normas do Conama
quanto ao Eia-Rima.
·
Aprovada, no estado de São Paulo, lei (10.467/99) que
obriga o fabricante a informar nas embalagens de seus produtos a
existência, se houver, de alimentos geneticamente modificados.
·
O jornal Zero Hora publica reportagem sobre pesquisa
de opinião sobre transgênicos, realizada nos dias 1 e 2 daquele
mês, em que foram ouvidas 418 pessoas da região metropolitana de
Porto Alegre (ver “A opinião pública sobre os transgênicos”,
neste dossiê).
janeiro/2000
·
A Monsanto anuncia que construirá um laboratório de
biotecnologia em Minas Gerais e uma fábrica de herbicida em Camaçari,
na Bahia: para a fábrica, recebe 285 milhões de reais em
incentivos fiscais – volume que corresponde a mais da metade dos
recursos do Fundo de Investimento do Nordeste (Finor) para o ano,
o que despertaria o interesse dos integrantes da CPI da Câmara
que investigaria o Finor.
·
Assinado, por 130 países, em Montreal (Canadá), o
Protocolo de Biossegurança, da ONU, que prevê rótulos
distintivos nos carregamentos de grãos geneticamente modificados.
A documentação da carga internacional deverá ser marcada com a
expressão "pode conter" alimento transgênico. O caráter
indeterminado do rótulo decorre de não ter sido incluída no
protocolo a segregação, que permitiria afirmar com certeza se um
lote contém ou não OGMs. A não inclusão da segregação foi
uma vitória do Grupo de Miami (EUA, Canadá, Argentina, Austrália,
Chile e Paraguai), que não admitia o rótulo, por considerar os
organismos geneticamente modificados idênticos ao alimento
normal. O Grupo de Miami também não aceita o Princípio da
Precaução, que permite um país rejeitar a importação de
organismos geneticamente modificados em virtude dos riscos que
possam trazer ao meio ambiente e à saúde humana. Em 1999, esse
grupo provocou o fracasso da reunião de Cartagena (Colômbia). O
protocolo entrará em vigor quando for ratificado pelos
parlamentos dos países signatários, o que pode demorar até três
anos.
·Brasil aprova o
Protocolo de Biossegurança, apoiando o Princípio de Precaução.
fevereiro/2000
·
O Greenpeace impede o descarregamento de uma carga de 30
mil toneladas de milho, suspeito de conter transgênicos. A carga,
vinda dos EUA, pertencia à empresa Perdigão, que se compromete a
reexportar todo o milho.
·
Anunciada oficialmente a conclusão do primeiro seqüenciamento
genético completo de um ser vivo realizado no Hemisfério Sul,
feito por cientistas brasileiros: o seqüenciamento da bactéria Xylella
fastidiosa, causadora do amarelinho, doença que afeta plantas
cítricas.
março/2000
·
Na reunião do Codex Alimentarius – órgão subordinado
à FAO e à OMS, que tem por tarefa básica estabelecer padrões
internacionais de Segurança para os alimentos –, o Brasil
posiciona-se contrário à rotulagem de alimentos transgênicos,
juntamente com Austrália, Nova Zelândia e EUA. Esses três
países também se oporiam à adoção do Princípio de Precaução,
insistindo no conceito de "Equivalência Substancial",
segundo o qual não há diferença básica entre alimentos transgênicos
e não-transgênicos do ponto de vista da sua segurança para o
consumo humano.
·
No Paraná, grandes empresas moageiras de soja realizam,
nas lavouras, testes que comprovam que as plantas não são transgênicas.
O gerente da Cooperativa Agrícola de Palotina descarta a
possibilidade da existência de lavouras transgênicas
clandestinas no estado, alegando que as variedades plantadas na
Argentina não se adaptam ao clima da região.
·
O governo do Mato Grosso do Sul investe R$ 400 mil para
colocar em prática o programa "Soja Limpa". As ações
consistem em realizar análises por amostragem em todo produto
cultivado no estado e atestar que o Mato Grosso do Sul não dispõe
de materiais transgênicos.
·
O líder nacional do MST, João Pedro Stédile, declara que
a população deve queimar as lavouras transgênicas, proibidas no
Brasil.
·
A Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação
(ABIA) entra no Supremo Tribunal Federal com ação direta de
inconstitucionalidade contra a lei do estado de São Paulo, que
obriga a rotulagem dos alimentos contendo organismos geneticamente
modificados.
abril/2000
·
No Pará, o deputado Cláudio Almeida (PPS) apresenta
projeto de lei propondo rotulagem dos alimentos contendo
organismos geneticamente modificados e moratória de cinco anos
para o cultivo para fins comerciais de transgênicos.
·
A Assembléia Legislativa de Minas Gerais derruba veto do
governador ao projeto de lei que propõe a obrigatoriedade da
inclusão da frase "produto fabricado com organismos
geneticamente modificados", no rótulo das embalagens de
alimentos processados com componentes resultantes de transgênicos.
A partir da entrada em vigor da lei, as empresas do setor de
alimentos terão prazo de 90 dias para adotar os procedimentos
exigidos quanto ao comércio de produtos processados com
organismos geneticamente modificados.
·
A Monsanto, detentora da patente da soja transgênica
resistente ao agrotóxico glifosato, concede à Embrapa e à
Organização das Cooperativas do Paraná o direito de uso científico
e comercial do gene da planta. Juntas, as entidades representam
80% do mercado de sementes de soja do país – 20% são da
Monsanto.
·
O projeto de lei da senadora Marina Silva (PT), propondo
moratória de cinco anos para os produtos transgênicos, recebe,
na Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal, parecer
desfavorável do relator Leomar Quintanilha (PPB). Tramitam na
Comissão três projetos de lei sobre transgênicos: o PL 188/99,
do senador Carlos Patrocínio (PFL), que estabelece a
obrigatoriedade de rotulagem diferenciada e informativa de
produtos transgênicos para uso humano, animal ou em plantas; o PL
422/99, do senador Romero Jucá (PSDB), que também trata da
rotulagem de transgênicos, obrigando os produtores a estamparem
nos seus rótulos a expressão "Atenção! Produto Transgênico";
e o PL 216/99, da própria senadora Marina Silva, que proíbe o
cultivo, a comercialização e exportação de transgênicos por
um período de cinco anos.
·
O Tribunal Regional Federal – da 4ª Região, com sede em
Porto Alegre – afirma o poder da CTNBio para autorizar o plantio
experimental a campo de plantas geneticamente modificadas. A
discussão sobre as atribuições da CTNBio havia se aquecido a
partir de outubro de 1999, quando um parecer da consultoria jurídica
do Ministério da C&T atribui à CTNBio papel consultivo,
estabelecendo como competência dos ministérios da Saúde, da
Agricultura e do Meio Ambiente a autorização do plantio. O que o
TRF afirma, nessa decisão, é o poder de autorização da CTNBio
com relação a cultivos experimentais, não os comerciais.
·
O Conama forma grupo de trabalho para discutir
procedimentos e competências na elaboração de Eia-Rima para
transgênicos.
·
Iniciada colheita de arroz transgênico cultivado pela
Aventis na fazenda experimental da empresa, em Rio Grande (RS). É
a primeira colheita de arroz geneticamente modificado no Brasil. O
plantio ocorreu em 2,3 hectares – sendo 0,8 hectare com plantas
geneticamente modificadas. Cerca de 400 quilos de sementes transgênicas
são enviados para análise em instituições de pesquisa.
·
Com grande alarde na mídia, é anunciado o mapeamento de
99% do genoma humano.
maio/2000
·
A empresa Advanta Seeds admite ter comercializado
“acidentalmente”, em quatro países europeus – Alemanha, Grã-Bretanha,
França e Suécia –, sementes de colza contaminadas. As sementes
clandestinas foram produzidas no Canadá, em 1998,
tendo sido contaminadas pelo pólen de lavouras de colza
transgênica, autorizadas naquele país. Há menção também da
contaminação de uma área de 33 hectares em Luxemburgo, cuja
destruição teria sido ordenada e indenizada pelo governo. As áreas
contaminadas estimadas pela Advanta correspondem a: 600 hectares
na França, 500 hectares na Suécia e 400 hectares na Alemanha.
Outras fontes mencionam que a área contaminada na Suécia teria
sido de 1.200 hectares, enquanto que na Grã-Bretanha teriam sido
contaminados 4.700 hectares. Apesar dos protestos de entidades
ambientalistas e produtores orgânicos, na Alemanha e na
Inglaterra, opta-se por não ordenar a destruição das lavouras
ilegais, apontando para o aproveitamento do produto em finalidades
outras que não o consumo alimentar ou para sua utilização fora
do continente europeu. Já na Suécia, imediatamente ordena-se a
destruição das lavouras contaminadas, sendo seguida pelo governo
francês. O debate seria em torno da indenização dos
agricultores pela empresa que comercializou ilegalmente as
sementes transgênicas. A partir do episódio, a União Européia
volta a pautar o tema.
·
Exigindo ação dos governos, o Greenpeace estima que entre
5 e 15% do milho cultivado na Europa – o equivalente a uma área
de cultivo de 975 mil hectares – estão contaminados por transgênicos.
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Em relatório entregue ao Departamento do Meio Ambiente
britânico, a Monsanto admite que a semente da soja transgênica Roundup
Ready contém dois fragmentos de genes imprevistos. Os fragmentos foram
encontrados em grãos de soja comercializados nos Estados Unidos e
usados na Inglaterra como componentes de alimentos.
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Durante o seminário "Alimentos Transgênicos: Aliança
Internacional pela Moratória", realizado no Rio de Janeiro,
é lançado manifesto propondo a moratória para o cultivo e
comercialização de alimentos transgênicos no país. Os signatários
– parlamentares e representantes de ONGs – pedem, com base no
Protocolo de Biossegurança de Montreal, a suspensão imediata de
qualquer ação para legalizar a entrada dos organismos
geneticamente modificados no Brasil.
junho/2000
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Divulgados, pelo Greenpeace e pela televisão alemã, os
resultados de estudo com abelhas em uma plantação de colza
transgênica: é a primeira comprovação de transferência de
genes de uma planta para um animal, decorrente de cultivo
geneticamente modificado.
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O Greenpeace denuncia a possibilidade de dois navios
procedentes da Argentina conterem milho transgênico. As duas
cargas de 26 mil toneladas de milho eram destinadas às empresas
Perdigão e Pena Branca, tendo chegado ao Brasil no Porto de São
Francisco do Sul, em SC. O Greenpeace alerta as empresas, o Ministério
Público Federal e o Ministério da Agricultura, lembrando que a
importação de transgênicos é ilegal. A partir da denúncia, o
Ministério Público Federal entra, na 3ª Vara Federal de
Joinville, com uma ação cautelar contra a Perdigão e outra
contra a Pena Branca, obtendo vitória em ambas. A Superintendência
do Porto de Rio Grande, no RS, nega autorização para que o navio
Wave, que transportava a carga importada pela Perdigão, atracasse
para desembarcar a carga de milho.
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A Secretaria de Agricultura do Espírito Santo solicita à
Cargill Agrícola Argentina, por meio da Associação dos
Avicultores, um certificado de não-transgênico para o milho
argentino recebido no Porto de Capuaba, Vitória (ES). Há
suspeita de que o produto seja transgênico. Os granjeiros já
fecharam contrato para importação de mais dois lotes de milho e
sorgo.
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O Ministério da Agricultura divulga que produtos
geneticamente modificados precisam da aprovação da CTNBio para
entrar no país, conforme a lei 8.974/95 e instrução normativa
17. Por solicitação do Ministério da Agricultura, a CTNBio deve
emitir parecer – previsto para o final do mês – a respeito da
segurança alimentar do milho importado da Argentina e dos EUA.
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A partir de denúncia de Greenpeace e do MST, de suspeita
de transgênicos em uma carga de 20 mil toneladas de milho
importado da Argentina por Avipal e Languiru – o navio Atticos
chegara ao Porto de Rio Grande (RS), no final de maio –, o
Ministério Público Federal recomenda à delegacia do MA a não-autorização
da remoção ou utilização da carga até que fossem realizadas
análises de transgenia no produto. Em caso de confirmação da
natureza transgênica do milho, a Procuradoria encaminharia
medidas para impedir seu uso na alimentação humana ou de animais
em território nacional. As análises, realizadas a partir de
cinco amostras, são realizadas pelo Departamento de Fitossanidade
da Faculdade de Agronomia da UFRGS, que atesta ausência de
material transgênico. O Procurador da República considera
limitado o espectro da análise, solicitando que o exame de
transgenia fosse feito em 21 amostras do milho argentino,
armazenado em sete locais em Porto Alegre, Canoas e Estrela. Mas o
juiz federal Cândido Alfredo Silva Júnior, da 5ª Vara de Porto
Alegre, considerando suficientes as amostras analisadaa, libera,
em 14/6, a internalização do milho argentino. O secretário
estadual da Agricultura – que noticiara que desde outubro do ano
passado vêm sendo recolhidas amostras dos lotes de milho
importado que chegam ao estado – declara considerar temeroso
encerrar o processo de investigação sobre o milho importado sem
que esteja completamente afastado o risco de haver grãos transgênicos
na carga, revelando que o governo estadual enviaria ao laboratório
Genetic ID, nos EUA, amostras coletadas pela Emater no Porto de
Rio Grande. Em represália, o delegado federal do MA afirma que
– caso confirmado o envio, pela Secretaria de Agricultura e
Abastecimento, de amostras do milho argentino para análise em um
laboratório internacional – poderia ser cancelado o convênio
com a SAA para a execução dos serviços de classificação de
produtos de origem vegetal, subprodutos e resíduos de valor econômico
destinados ao mercado interno. As amostras foram enviadas para análise.
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A Assembléia Legislativa do Pará aprova, por unanimidade,
projeto de lei de autoria do deputado Claudio Almeida (PPS), que
dispõe sobre atividades na área de biotecnologia, engenharia genética
e produção, cultivo e comercialização de produtos transgênicos
no estado. A lei aprovada estabelece uma moratória de cinco anos
para o plantio e cultivo com fins comerciais e cria uma Comissão
Técnica Estadual de Biossegurança, composta paritariamente entre
órgãos governamentais e representantes da sociedade civil.
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O Greenpeace envia carta ao Ministério Público de
Pernambuco informando que um lote de milho importado da Argentina
– por avicultores pernambucanos, da empresa Cargill Uruguay –
teria seu descarregamento previsto no Porto de Recife para o dia
15/de junho. As 38 mil toneladas, trazidas pelo navio Norsul Vitória,
teriam – por meio de decisão da Justiça Federal, favorável à
ação cautelar impetrada pela Procuradoria Federal a partir da
denúncia do Greenpeace – seu desembarque impedido, em 19 de
junho, até que fosse comprovada a inexistência de grãos transgênicos.
Uma amostra de 30 quilos seria coletada pelo Ministério da
Agricultura e enviada para análise no Centro Nacional de Pesquisa
de Milho e Sorgo, da Embrapa, em Sete Lagoas/MG. Os testes
revelariam a presença de grãos transgênicos na carga, o que
levaria a Secretaria de Defesa Agropecuária do MA a determinar a
devolução da mercadoria (o que não chegaria a acontecer).
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A Aventis encaminha à CTNBio solicitação para cultivo
comercial do milho transgênico Liberty Link, tolerante ao
herbicida de mesmo nome.
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O SINPAF (sindicato dos funcionários da Embrapa) divulga
documento intitulado “Razões para dizer não aos transgênicos
na agricultura”. Poucos dias depois, o sindicato se soma à
campanha “Por um Brasil livre de transgênicos”.
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O Greenpeace e o Idec divulgam que análises de 42
alimentos comercializados no Brasil, encomendadas pelas duas
entidades em laboratórios suiços e austríacos, detectaram a
presença de transgênicos em 11 lotes de produtos. Entre os
artigos contaminados estão o leite em pó Nestogeno, a sopa Knorr
e as salsichas Swift, contaminados com a soja geneticamente
modificada Roundup Ready, da Monsanto, além das batatas
fritas Pringles, contaminadas com milho transgênico Bt, da
Novartis. Em 27 de junho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
do Ministério da Saúde, envia ofício a dez empresas que
industrializam os alimentos pedindo o recolhimento dos produtos
suspeitos de conter transgênicos importados. Caso a suspeita se
comprove e os fabricantes não atendam à determinação, a Vigilância
Sanitária deverá apreender os produtos nos pontos de venda. Em
28/6, a Vigilância Municipal da Secretaria da Saúde de Belo
Horizonte determinaria aos supermercados da cidade que colocassem
placas com o aviso "produto com componentes transgênicos"
nas prateleiras com alimentos geneticamente modificados. Em 10 de
julho, o Procon do Rio Grande do Sul abre processo administrativo
e intima sete indústrias e distribuidoras por não incluírem
informações específicas nas embalagens dos produtos em que foi
constatada a presença de transgênicos.
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Luiz Antônio Barreto de Castro, chefe-geral da Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia, declara, em workshop
na Câmara Legislativa do Distrito Federal, que a posição da
instituição a favor da liberação comercial dos transgênicos
é a posição do governo federal. É a primeira vez que um
integrante do governo defende publicamente essa posição.
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O ministro da Agricultura, Pratini de Morais, declara que o
governo brasileiro pretende dar “flexibilidade absoluta” à
produção dos transgênicos, afirmando que será o mercado que
determinará se o país deve plantar e comercializar variedades de
organismos geneticamente modificados.
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Em 26 de junho, o juiz da 6ª Vara da Justiça Federal em
Brasília, Antônio Souza Prudente, julgando a ação civil pública
que trata de toda e qualquer espécie geneticamente modificada,
profere sentença que obriga o governo a exigir a realização de
Eia-Rima antes da liberação do plantio de alimentos
geneticamente modificados no país. A decisão dá ganho de causa
ao Idec, que havia, em 1998, ajuizado ação civil pública contra
a União e a empresa Monsanto. O juiz considera inconstitucional
parte do decreto do presidente Fernando Henrique, que permitia à
CTNBio dispensar a exigência do estudo. É ainda determinado que
a União exija da CTNBio a elaboração de normas de segurança
alimentar, comercialização e consumo de alimentos transgênicos
no prazo de 90 dias. A Comissão fica impedida de emitir parecer técnico
conclusivo sobre qualquer pedido de liberação de transgênicos
enquanto não cumprir a exigência. De acordo com a sentença, a
regulamentação do consumo, da comercialização e da segurança
de transgênicos deverá ser feita em conformidade com a Constituição,
com o Código de Defesa do Consumidor e com a legislação
ambiental. O descumprimento da decisão acarretaria multa de dez
salários mínimos por dia. O governo afirma pretender recorrer.
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O Tribunal Regional Federal, em Brasília, reúne-se para
julgar, em segunda instância, o recurso da Monsanto e da União
contra a decisão judicial que proíbia o plantio e a comercialização
da soja transgênica Roundup Ready sem a realização de
Eia-Rima. A sentença em primeira instância, emitida em agosto de
1999, também condicionava a liberação de transgênicos para
consumo à regulamentação de normas de biossegurança e
rotulagem de alimentos geneticamente modificados. A ação fora
movida com o Ministério Público pelo Idec e pelo Greenpeace, com
apoio do Ibama. A juíza relatora do processo, Assuzete Dumont
Reis Magalhães, comentara que, em seus 12 anos de prática,
jamais vira tanta pressão de tantas fontes do governo e da própria
empresa em uma decisão judicial. A juíza relatora emitiria
parecer favorável à manutenção da proibição dos transgênicos,
enquanto que outro juiz, Girair Aran Meguerian, pediria vistas do
processo, o que provocaria o adiamento da decisão para agosto. O
Ibama se retira do processo. Em 8 de agosto de 2000 o TRF da 1ª
Região (Brasília) decidiria, por unanimidade, manter proibidas a
produção e comercialização de soja transgênica no país.
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Afrontando a sentença judicial que proibia à CTNBio
emitir parecer técnico conclusivo enquanto não fossem elaboradas
normas de segurança alimentar, comercialização e consumo de
alimentos transgênicos, a CTNBio emite, com aval do Ministério
da C&T, em 30 de junho, parecer favorável à importação de
13 variedades de milho transgênico para utilização em ração
animal. O parecer é utilizado pelo governo federal para, em 6 de
julho, derrubar na Justiça a suspensão do descarregamento das 38
mil toneladas de milho transgênico argentino do navio Norsul Vitória,
que aguardava – desde 20 de junho, no Porto de Recife –
autorização para o desembarque da carga.
julho/2000
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Em 6 de julho de 2000, o governo federal divulga nota
oficial – assinada pelos Ministros da Casa Civil, da
Agricultura, da Ciência e Tecnologia, da Justiça, do Meio
Ambiente e da Saúde –, em que defende a adoção dos organismos
geneticamente modificados no país. Esse posicionamento levaria o
Idec a propor, a parlamentares, a instauração urgente de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar o envolvimento do
governo federal com as empresas de biotecnologia.
*Doutoranda em
Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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