Emmanuel
Bezerra dos Santos
Militantes políticos assassinado pela
Ditadura Militar
EMMANUEL BEZERRA DOS SANTOS
Luciano de Almeida (*)
Ideologia, eu
quero uma prá viver.
Cazuza
Emmanuel viveu e morreu
por uma ideologia.
Foi contemporâneo de uma
época e protagonista, até o fim, da revolta de sua (nossa) geração.
Emmanuel, como ninguém, conscientizou e interiorizou o sentimento de
rebelião dos jovens de 1968.
Emmanuel tinha a cara do
nosso povo: macerada, alegre, triste, irônica, esperta. Tinha um jeito
desengonçado: um ombro mais alto que o outro ou uma perna mais curta
que a outra. Emmanuel era uma pessoa afetuosa, que cultivava a amizade.
Emmanuel era um ser humano absolutamente despojado, desprendido:
renunciava a qualquer privilégio, revelando uma dedicação franciscana
à causa pela qual lutava.
Emmanuel, filho de
pescador, adorava uma guarajuba e cantou em versos as praias e o mar de
sua Caiçara; lugar onde o sertão toca o mar e o mar umedece o sertão,
dando-lhe alento. Emmanuel tinha os olhos verdes fitos no atlântico mar
azul.
Emmanuel também se
voltava para o sertão, para o Nordeste que pensava em libertar, através
do "cerco das cidades e do campo" em que o "mar viraria
sertão e o sertão, mar"; cumprindo-se, portanto, a profecia do
Conselheiro que prenunciava "um rio de leite" que saciaria a
fome e a sede secular de um povo sedento e faminto, curvado sob um sol
escaldante e sob o tacão de capanga e coronéis; mas que ousava
rebelar-se, erguendo uma cidade e cultivando uma economia autônoma,
natural, sobre a plataforma de um Monte Santo.
Emmanuel tinha algo profético;
apesar de ser um "Anunciado", anúncio "In blowing the
wind" transmitido pelo "arcanjo Gabriel" a Dona Joana,
sua mãe. Emmanuel era, indubitavelmente, uma figura carismática, que
desempenhava uma liderança espontânea no seu círculo.
Emmanuel: estudante,
jornalista, poeta, jovem, militante, cidadão, amigo e companheiro, foi
tragado pelo abismo da repressão e tortura em qualquer dia de setembro
de 1973 em São Paulo, Brasil. Seus algozes, certamente, ainda vivem,
obscuramente, mas atormentados pelo fantasma de Emmanuel. Emmanuel, ao
contrário, esteve, está e estará entre nós. Sempre.
Natal, 10 de março de
1992.
Jornalista e presidente da COOJORNAT |