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           Emmanuel 
            Bezerra dos Santos 
            Militantes políticos assassinado pela 
            Ditadura Militar  
          EMMANUEL BEZERRA, GIGANTE 
            MAGNÍFICO DE PENSAMENTO E AÇÃO 
           
          Josivan Ribeiro do Monte 
        (*) 
        Lembro-me bem que houve 
        um tempo em que falar o nome de Emmanuel Bezerra era um Deus me 
        acuda. Certo dia, eu ainda menino maroto, querendo de tudo saber, 
        passava pela famosa esquina do pecado, onde os namorados se encontravam, 
        fui interpelado por um cidadão só porque perguntava a algum dos 
        colegas quem era o filho de Joana Elias, que ninguém queria 
        saber e recusava-se sempre a falar tal assunto. A expressão verbal do 
        dito cidadão foi a seguinte: "Menino deixe esse assunto, ninguém 
        pode falar nisso, quer ir para cadeia?" Silenciamos e caminhamos 
        assustados alguns metros e lá adiante distante do tal cidadão, alguém 
        desengasgou o silencio e disse: "Cara tu és doido, o filho de 
        Joana Elias é comunista" e eu perguntei "e o que é isso que 
        não se pode falar?" ele disse-me "é o povo que quer vender o 
        Brasil para os estrangeiros e a Polícia Federal só vive atrás dele. 
        Meu Deus! Essa coisa foi tão traumatizante que me fez procurar no canto 
        da memória as interrogações que gostaria de fazer, e por muito tempo 
        não ouvi mais falar desse tal filho de Joana Elias que sequer tinham me 
        dito o nome. Passados todos esses anos eu já não mais menino maroto, 
        mas adolescente, em busca de maturidade, tive a felicidade de conversar 
        com dona Joana Elias, que pouco via, e que alguns antipatizavam, todavia 
        já tinha se elegido cinco vezes vereadora. E da longa conversa que 
        tivemos, não sei se por gostar de poesia ou por ainda ter medo de ouvir 
        o que ela tinha a dizer, só entendi e só memorizei que ela me disse 
        que Emmanuel também era um poeta e que um dia me mostraria as suas 
        poesias. Muitas coisas aconteceram e o destino não permitiu que eu 
        tivesse contato com ela e em 1983 Deus a levou e levou consigo a esperança 
        que eu tinha de saber mais sobre Emmanuel. Mas nem tudo estava perdido: 
        encontrei, sim, quem me desse informação, e a essas alturas já sabia 
        eu o que era comunismo e já havia chegado a algumas conclusões sobre 
        Emmanuel. E o que sabia me inquietava, eu já achava que este mártir não 
        poderia ficar fora da história, comecei a propagar o pouco que sabia. E 
        o pouco o que eu sabia era suficiente para perceber que a esquina do 
        pecado já não era mais encontro de namorados e o que falavam de 
        comunista não era aquela coisa repugnante que me falaram, de repente 
        começaram a me marginalizar porque eu queria falar do mérito de quem 
        de fato tinha. Porém essas taxações engrandeceram o meu ego pois 
        tinha plena convicção de que estava querendo o reconhecimento justo de 
        um herói devorado pelos cães da ditadura e posto no ostracismo para 
        que, na posteridade, ninguém quisesse seguir seu sublime exemplo de 
        cidadão obstinado que enveredou na luta por justiça. 
        Lutar por justiça é sinônimo 
        de muita dignidade e pouca vida. Quanto vale uma vida? Não tem preço. 
        Quanto se custa para se ter justiça e liberdade? Muitas vidas de homens 
        enormemente dignos que padeceram o corpo nos ferros da ditadura para não 
        se corromperem a certos sistemas espúrios. 
        Esse sublime exemplo de 
        grandeza de espírito e fortalece ideológica, se não chegar a 
        encorajar a muitos a enveredar com tanta tenacidade em lutas como essa, 
        mas chegou a empolgar um grupo de estudantes a levantar bandeiras para 
        propagar o nome de Emmanuel; para isso fundaram o Grêmio Emmanuel 
        Bezerra. Que mais sabem esses jovens estudantes sobre Emmanuel, se o que 
        restou foi apenas a lembrança de pouco convívio e mesmo assim ainda se 
        recusam a testemunhar com alguém. 
        Emmanuel, essa geração 
        que não teve o privilégio de lhe conhecer lhe saúda "In Memoriam" 
        e lamenta não tê-lo vivo, mas se estivesse aqui verias que ainda somos 
        os mesmos medroso, taxadores e fracos, sem bandeira e sem história, sem 
        memória do passado, atropelados pelo presente e condenados a retroceder 
        no futuro. Quem sabe essa sua volta transcendental e triunfal ilumine 
        nossas mentes para sermos mais autênticos em nossas lutas, mais bravos 
        na busca de objetivos e que esse objetivo não seja "O Eu" e 
        sim "O Nós". 
        Seus resto mortais nos 
        trazem vida, seus ossos suplantaram mais de vinte anos de mentira, seu 
        exemplo de vida suplantou a ditadura que parecia interminável, eles 
        pensaram que tinha lhe exterminado, no entanto a força da sua ideologia 
        e de outros tantos que se foram, a exterminaram e mais uma vez fica como 
        exemplo para os mentirosos governantes, "Que a mentira pode durar 
        muito tempo mais não o tempo todo". 
        Bem vindo Emmanuel, 
        nossos corações lhe acolhem, nós lhe agradecemos por ter sido o que 
        foi, por ter vivido obstinadamente em busca da justiça, por ter pago 
        com vida o preço de nossa liberdade, a você todas as honras, todos os 
        méritos, todo nosso orgulho, nossa afeição e nossos eternos 
        agradecimentos. 
        * Membro da comunidade de 
        São Bento do Norte.  |